Os fotojornalistas que fotografaram Trump no meio do tiroteio: “Tenho de fazer o meu trabalho”

Evan Vucci é o autor de uma das fotografias mais partilhadas: “O meu trabalho como fotógrafo é apenas mostrar ao espectador, através dos meus olhos, o mundo à minha frente”.

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O momento em que Trump foi atingido Brendan McDermid
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Para muitos americanos, o pânico e a gravidade do tiroteio de sábado à noite, num comício de Donald Trump na Pensilvânia, foram rapidamente transmitidos por uma imagem: o antigo Presidente, com sangue a escorrer-lhe pelo rosto, erguendo o punho em sinal de desafio.

Uma das fotografias mais partilhadas foi captada pelo fotógrafo principal da Associated Press, Evan Vucci. Foi uma das várias imagens do rescaldo do tiroteio que ficarão no panteão da fotografia americana.

"O pináculo do fotojornalismo. Uma imagem perfeitamente enquadrada e composta de notícias históricas de última hora", escreveu a jornalista do New York Times Matina Stevis-Gridneff, no X, sobre a fotografia de Vucci.

Quando Trump começou a discursar no sábado, quatro fotojornalistas estavam dispostos à volta do palco, numa zona conhecida como buffer, que fica a apenas cinco ou dez metros do candidato. Quando o tiroteio começou, os fotógrafos tentaram colocar-se numa posição melhor para captar o caos, colocando-se potencialmente na linha de fogo no processo.

De acordo com os profissionais, a equipa de Trump costuma dar ao grupo de fotógrafos cerca de cinco minutos no início de cada discurso de campanha para tirar fotografias; neste caso, como o tiroteio ocorreu perto do início do evento, os fotógrafos puderam captá-lo de perto.

Vucci estava do lado esquerdo do palco e correu para o sítio onde pensava que Trump iria sair após o início do tiroteio, juntamente com outros fotógrafos.

"A única coisa que eu dizia a mim próprio era: 'Abranda. Abranda. Compõe-te. Devagar'", disse ele. "Eu sabia que tinha de fotografar isto. Era um momento tão importante na história americana. Precisava de ser documentado. Se não se mantiver a cabeça fria, não se pode fazer o trabalho."

Vucci, um veterano com 20 anos de experiência em agências de notícias, disse que não estava assustado, mesmo quando alguns funcionários da campanha se mostraram preocupados coma possibilidade de haver um segundo atirador. "Nunca pensei nisso nem por um segundo", disse ele. "Tenho de lá estar. Não me posso esconder. Não me posso esconder atrás do palco. Tenho de fazer o meu trabalho."

Jabin Botsford, fotógrafo do The Washington Post, estava a passar da parte de trás do palco para a frente quando o tiroteio começou. "Ouvi o primeiro som e pensei: 'Ah, estranho. Fogo-de-artifício'.", disse. "Foi muito assustador. Ninguém sabia o que estava a acontecer. O Presidente caiu no chão e eu ia tirar uma fotografia, apesar de os funcionários terem dito: 'Têm de se baixar'."

Botsford também conseguiu gravar um vídeo do rescaldo porque estava a usar óculos inteligentes Ray-Ban Meta que permitem gravar vídeos de 30 segundos, que "de alguma forma" se lembrou de ligar.

O fotógrafo do Times, Doug Mills, conseguiu captar o que parece ser o rasto da bala no ar, quando passou perto da cabeça de Trump. O antigo fotógrafo da Associated Press Haraz N. Ghanbari chamou-lhe "uma fotografia extraordinária".

Mills, numa entrevista ao Times, disse que os fotógrafos "estavam todos a empurrar-se lá para dentro, a tentar tirar as nossas fotografias normais", até que ouviu o que lhe pareceu ser um barulho de um rater. Trump "foi para trás do púlpito e eu pensei: 'Ó meu Deus, aconteceu alguma coisa'".

Enquanto se esforçava para conseguir uma imagem melhor, Mills disse que temia pela sua vida. "Poderei ser atingido? Foi assustador. Nunca tinha estado numa cena tão horrível".

A fotógrafa da equipa da Getty, Anna Moneymaker, conseguiu captar Trump no palco, aparentemente levado por um agente.

Os fotógrafos receberam elogios generalizados pelo seu trabalho, especialmente no meio de uma situação violenta e caótica. "As suas fotografias icónicas foram imediatamente vistas em todo o mundo e serão adicionadas ao registo visual indelével da história", disse Jessica Koscielniak, presidente da Associação de Fotojornalistas da Casa Branca. "O evento de ontem só reforça a importância crítica e a necessidade de os jornalistas visuais estarem presentes e próximos dos candidatos e funcionários eleitos."

Após o tiroteio, os fotógrafos foram para uma tenda durante cerca de 30 minutos, disse Mills. Saíram para tirar fotos do campo vazio e dos itens que restaram, incluindo telemóveis e uma cadeira de rodas motorizada. "Entrámos no vazio total", disse Botsford.

Vucci estava entre os fotógrafos da Associated Press que ganharam um Prémio Pulitzer em 2021 pela cobertura dos protestos que se seguiram ao assassínio de George Floyd pela polícia em Minneapolis. Também fotografou combates no Iraque e no Afeganistão, uma experiência que o ajudou a manter a calma e a compostura.

"O meu trabalho como fotógrafo é apenas mostrar ao espectador, através dos meus olhos, o mundo à minha frente", disse. "Senti que todos nós fizemos isso."

Botsford, tal como Vucci, teve pouco tempo para descansar ou reflectir sobre o que aconteceu no sábado.

"Ainda estou a tentar processar tudo", disse, do hotel em Milwaukee, no domingo. "Há muita coisa a passar-se na minha cabeça. Ainda estou, tipo, incrédulo."


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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