Terrorismo e crime organizado ameaçam a costa ocidental africana

“População no Senegal e Costa do Marfim e outros vizinhos costeiros do Sahel vivem em constante ameaça”, diz ministra dos Negócios Estrangeiros alemã. Alerta tinha sido dado pelo representante da ONU.

Foto
"Se mais países da África Ocidental caírem na instabilidade", diz Annalena Baerbock, isso "também terá um impacto directo na nossa segurança na Europa REUTERS/Annegret Hilse
Ouça este artigo
00:00
02:56

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

A diplomacia ocidental está preocupada com a actual situação na região do Sahel e nas repercussões que o avanço do jihadismo e das organizações criminosas podem trazer para desestabilizar ainda mais a África Ocidental, nomeadamente os países costeiros. Essa é a principal razão para a visita da ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, esta semana ao Senegal e à Costa do Marfim: “A população no Senegal, Costa do Marfim e outros vizinhos costeiros do Sahel vivem em constante ameaça de que o terrorismo e a violência dos países vizinhos possam afectar as suas sociedades.”

“São drogas, são armas, são seres humanos, são recursos minerais e até alimentos”, afirmava Leonardo Simão na sexta-feira o representante especial da ONU para o Sahel e África Ocidental, explicando que o combate ao terrorismo no Sahel tinha tido pouco efeito na luta contra o tráfico ilegal na região. Daí que sobre as populações dos países do Sahel e dos países limítrofes penda uma “ameaça permanente”, sublinhava o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros moçambicano.

Para a chefe da diplomacia alemã, hoje, mais do que nunca, é preciso demonstrar que as democracias ocidentais estão em sintonia com países como o Senegal e a Costa do Marfim que vão resistindo às tentativas de desestabilização das suas democracias, apesar de todas as dificuldades. E procuram até ser mediadores entre os três países que tiveram golpes de Estado (Burkina Faso, Mali e Níger) e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), da qual saíram para formar a Aliança de Estados do Sahel.

“Enquanto mediador, o Senegal está a assumir uma responsabilidade crucial para a região. Estamos firmemente ao seu lado nesta tarefa, pois se mais países da África Ocidental caírem na instabilidade, isso não só terá consequências dramáticas para as pessoas no terreno, como também terá um impacto directo na nossa segurança na Europa”, afirmou Annalena Baerbock em comunicado de imprensa de antevisão da sua viagem oficial.

“O contraste com a situação actual na região do Sahel é evidente e ilustra a rapidez com que a estabilidade se pode transformar em fragilidade”, sublinhou a ministra alemã. O último relatório entregue ao secretário-geral da ONU, António Guterres, falava em centenas de pessoas mortas na primeira metade de 2024 em ataques terroristas, muitos deles civis, principalmente no Burkina Faso, Mali e Níger.

Os três da Aliança de Estados do Sahel anunciaram a formação de uma força conjunta para combater o terrorismo, mas a mesma ainda não está consubstanciada na prática. Na semana passada, os seus governos reiteraram a vontade já manifestada de deixar de pertencer à CEDEAO em Setembro.

Por isso, Annalena Baerbock fez questão de lembrar que se apanham mais moscas com mel do que vinagre, que é como quem diz, as alternâncias pacíficas e democráticas e a boa relação entre Estados trazem mais benefícios que os golpes e a hostilidade em relação a vizinhos e parceiros. “Os laços estreitos que já nos unem ao Senegal e à Costa do Marfim demonstram que uma mudança pacífica e democrática pode abrir novas perspectivas para uma maior cooperação em todos os domínios, numa região onde os golpes militares destruíram essas perspectivas num futuro previsível.”

Sugerir correcção
Ler 3 comentários