Uma “super-Terra”: a 48 anos-luz de nós, há um planeta que poderá ter atmosfera e até água líquida
A descoberta foi feita por uma equipa internacional de astrónomos liderada pela Universidade de Montreal, no Canadá, com base nos dados do telescópio James Webb recolhidos em Dezembro de 2023.
Chama-se LHS 1140b o exoplaneta que poderá ser uma “promissora ‘super-Terra’”. Está localizado a cerca de 48 anos-luz de distância da Terra, na constelação da Baleia, e aparenta ser um dos exoplanetas mais promissores no que às condições de habitabilidade diz respeito, mostrando ter potencial para albergar uma atmosfera e até um oceano de água líquida.
A descoberta foi feita por uma equipa internacional de astrónomos liderada pela Universidade de Montreal, no Canadá, com base nos dados do telescópio espacial James Webb (JWST) recolhidos em Dezembro de 2023 e combinados com dados anteriores de outros telescópios espaciais, como o Spitzer, o Hubble e o TESS. Os resultados estão disponíveis no ArXiv, um site onde os investigadores submetem os seus resultados à avaliação informal dos seus pares, e serão publicados em breve na revista The Astrophysical Journal Letters.
Num comunicado, a Universidade de Montreal destaca que, “quando o exoplaneta LHS 1140b foi descoberto pela primeira vez, os astrónomos especularam que poderia ser um ‘mini-Neptuno’: um planeta essencialmente gasoso, mas muito pequeno em tamanho comparado com Neptuno”. No entanto, depois de analisarem os novos dados, os cientistas chegaram a uma conclusão muito diferente.
O LHS 1140b orbita uma estrela anã-vermelha de baixa massa e cativou os cientistas por ser um dos exoplanetas mais próximos do nosso sistema solar que se encontra dentro da zona habitável da sua estrela. Os exoplanetas que se encontram nesta zona têm temperaturas que permitem a existência de água em estado líquido – sendo a água líquida um elemento crucial para a vida tal como a conhecemos na Terra.
Uma das principais questões sobre o LHS 1140b era, portanto, se se tratava de um exoplaneta do tipo “mini-Neptuno” – ou seja, um pequeno gigante gasoso com uma espessa atmosfera rica em hidrogénio – ou de uma “super-Terra”, um planeta rochoso maior do que a Terra. Este último cenário incluía a possibilidade de o exoplaneta albergar um oceano líquido envolvido por uma atmosfera rica em hidrogénio, que exibiria um sinal atmosférico distinto que poderia ser observado com o telescópio James Webb.
A análise das observações do James Webb excluiu o cenário de se tratar de um “mini-Neptuno”, com provas que sugerem que o exoplaneta LHS 1140b é, sim, uma “super-Terra”, que pode ter até uma atmosfera rica em azoto. Se este resultado for confirmado, o LHS 1140b seria o primeiro planeta temperado a mostrar sinais de uma atmosfera secundária, criada após a formação inicial do planeta.
Os dados indicam que o LHS 1140b é menos denso do que o esperado para um planeta rochoso com uma composição semelhante à da Terra, sugerindo que 10 a 20% da sua massa possa ser composta por água. Esta descoberta indica que o LHS 1140b pode provavelmente ser um exoplaneta semelhante a uma bola de neve ou um planeta de gelo com um potencial oceano líquido na área da superfície que está sempre virada para a estrela hospedeira do sistema, devido à rotação síncrona do planeta (tal como a Lua em relação à Terra).
“De todos os exoplanetas temperados actualmente conhecidos, o LHS 1140b poderá ser a nossa melhor aposta para um dia confirmar indirectamente a existência de água líquida à superfície de um mundo extraterrestre fora do nosso sistema solar”, afirmou, em comunicado, Charles Cadieux, da Universidade de Montreal, autor principal do novo estudo. “Isto seria um marco importante na procura de exoplanetas potencialmente habitáveis.”
Anos de observações e estudos estão, portanto, pela frente para eventualmente se determinar se o LHS 1140b tem realmente condições de habitabilidade à superfície.