Três animais que conseguem detectar doenças nos humanos

Os cães, os ratos e as abelhas são algumas das espécies que, com treino, conseguem identificar doenças como o cancro, Parkinson, malária e até infecções urinárias.

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Três animais que conseguem detectar doenças nos humanos Tamas Pap/Unsplash
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Quando se trata de diagnosticar com precisão uma doença, podes pensar que são necessárias máquinas e equipamentos dispendiosos e de alta tecnologia capazes de ver por baixo da pele o que se passa no corpo. No entanto e apesar de estes equipamentos de alta tecnologia serem certamente incríveis, não são os únicos instrumentos capazes de detectar doenças. Na verdade, podes até partilhar casa com um destes poderosos agentes detectores de doenças.

São inúmeros os casos de donos de animais de companhia que ficaram a saber que tinham um problema de saúde através do animal. Entre os exemplos estão cães que lambem, cheiram e até tentam mastigar manchas na pele do dono — manchas que, mais tarde, foram diagnosticadas como sendo um melanoma maligno.

Na realidade, muitas espécies de animais — desde o verme microscópico Caenorhabditis elegans até às formigas, ratos e cães — demonstraram com sucesso a capacidade de detectar doenças em pessoas e a partir de amostras biológicas durante as experiências.

As doenças que identificam são várias, desde o cancro e as infecções do trato urinário até à covid-19 e à infecção gastrointestinal Clostridium difficile. Muitas destas patologias são graves, especialmente em doentes vulneráveis e imunocomprometidos, pelo que é essencial uma detecção precisa e precoce.

Eis alguns dos animais incríveis que são capazes de detectar doenças em humanos:

Cães

Os cães são o exemplo mais conhecido de animais que conseguem identificar uma série de doenças, incluindo a doença de Parkinson, o cancro da bexiga e a malária. As crises epilépticas e a hipoglicémia (baixo nível de açúcar no sangue) em doentes diabéticos também podem ser identificadas por cães de assistência treinados para o efeito.

Aparentemente, o impressionante sentido olfactivo destes animais é fundamental para a capacidade de detectarem odores específicos, mesmo em concentrações incrivelmente baixas. Na verdade, pensa-se que o sentido de olfacto do cão é mais de dez mil vezes melhor do que o nosso. O cão consegue até utilizar as narinas de forma independente quando investiga novos odores.

Numa primeira fase, os cães farejadores e de assistência são treinados para associar cheiros específicos a uma recompensa, como uma guloseima ou um brinquedo. Depois são preparados para reconhecer alterações de odor ou alterações físicas e comportamentais no dono que antecipem uma convulsão (ou outro problema de saúde).

Normalmente, os cães farejadores ficam parados quando reconhecem um odor à espera de ser recompensados. Os cães de assistência interagem frequentemente com o tutor, por exemplo, dando-lhe uma pata ou tocando-o para sinalizar que precisa de agir rapidamente para ficar em segurança.

Ratos

Os ratos também são óptimos a farejar cheiros específicos.

A ratazana gigante africana foi treinada para detectar o odor de explosivos de minas terrestres em Moçambique. Além disto, esta espécie está também a ser uma ajuda valiosa na identificação de problemas de saúde, desempenhando um papel importante na detecção da tuberculose em amostras de expectoração recolhidas de casos suspeitos.

Os ratos são rápidos e demoram apenas 20 minutos a analisar 100 amostras de doentes. Utilizam as capacidades de farejar para detectar a assinatura química característica da tuberculose nas amostras.

Como pagamento pelo trabalho bem feito recebem uma guloseima de abacate e banana. Isto faz destes roedores uma opção preciosa quando o tempo e o dinheiro são limitados nas instalações de diagnóstico e rastreio. Estes ratos têm uma taxa de sucesso incrível, uma vez que detectam com precisão casos positivos de tuberculose em 81% das vezes.

Abelhas

Até as abelhas podem reconhecer sinais de certas doenças em amostras, incluindo o cancro do pulmão, a tuberculose e a covid-19.

Estes animais são extremamente sensíveis a odores de baixa concentração, o que as torna capazes de detectarem alterações químicas de uma forma semelhante à dos cães e dos ratos.

Os investigadores conseguiram treinar as abelhas para responderem à presença de cheiros específicos, sendo que os animais estendem a língua para receberem uma recompensa de açúcar. Com o treino, esta resposta torna-se consistente e altamente sensível a odores associados a estados de doença.

Esta capacidade torna as abelhas úteis para identificar doenças da mesma forma que outros animais. O tamanho poderá torná-las uma opção ainda mais eficiente e de baixo custo para o rastreio rápido de amostras.

Sentidos superiores

Mas como é que os animais são capazes de identificar a presença de doenças específicas? Isso tem que ver com a capacidade que muitos têm de detectar pequenas alterações no perfil químico do odor de uma pessoa.

Muitas espécies (incluindo cães, ratos e abelhas) conseguem reconhecer alterações muito subtis em substâncias chamadas compostos orgânicos voláteis (COV) que o corpo liberta em níveis muito baixos, mesmo quando está saudável. Na verdade, o hálito humano exalado contém aproximadamente 3500 COVs diferentes. A composição e a concentração destes compostos que o corpo liberta muda com base na saúde de uma pessoa — e serão diferentes se ela estiver a lutar contra uma infecção ou a lidar com um problema de saúde.

No entanto, as capacidades de detecção de doenças dos animais não são só para benefício humano. O verme Caenorhabditis elegans consegue identificar cancro em amostras de humanos e o facto de ter sentidos olfactivos superiores significa que também consegue reconhecer cancro em amostras de cães e gatos.

As competências que as diferentes espécies têm para detectar doenças com precisão podem fazer com que os animais treinados para esse efeito sejam uma forma eficaz, não invasiva, rápida e económica de rastrear problemas de saúde específicos. A par disto, as interacções positivas entre pessoas e animais poderão aumentar ainda mais.

Actualmente, e especialmente por causa dos regulamentos, os animais utilizados para a detecção de doenças são vistos apenas como "ferramentas" de rastreio a utilizar em conjunto com as técnicas de diagnóstico médico. No entanto, se os quadros regulamentares o permitirem, poderão um dia tornar-se um componente essencial do diagnóstico.

Na realidade, os cães de detecção foram mais rápidos (e mais baratos) a rastrear amostras para a covid-19 do que os testes PCR de rotina. Ao compreendermos as capacidades olfactivas destes animais, poderemos ajudar a melhorar ainda mais os testes de diagnóstico laboratorial e aplicar algumas das fantásticas capacidades que possuem.

Apesar de a exploração das aptidões das espécies poder ser útil para nós, é importante lembrar que a saúde e o bem-estar dos animais envolvidos também devem ser prioritários. A ética do trabalho com animais deve ser sempre tida em conta juntamente com considerações de custo, segurança e eficiência de quaisquer programas de rastreio de doenças generalizadas que os envolvam.


Exclusivo P3/ The Conversation
Jacqueline Boyd é professora sénior de Ciência Animal na Universidade de Nottingham Trent

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