O melhor dia da vida de Barbora Krejcikova chegou

A checa é a oitava campeã diferente nas últimas oito edições do torneio de Wimbledon.

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Krejcikova com o troféu Venus Rosewater, no All England Lawn Tennis and Croquet Club, em Londres Hannah McKay / REUTERS
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Barbora Krejcikova já tinha conquistado um título do Grand Slam em singulares e tudo o que havia para vencer em pares femininos: sete troféus repartidos pelos quatro majors, WTA Finals, medalha de ouro olímpica e número um no ranking da especialidade, além de mais três ‘Slams’ em pares mistos. Mas o título em Wimbledon era aquele que a tenista checa mais desejava oferecer à sua mentora, Jana Novotna.

Ao derrotar na final a italiana Jasmine Paolini (7.ª no ranking), por 6-2, 2-6 e 6-4, Krejcikova sucede no palmarés da prova britânica às compatriotas Martina Navratilova (campeã nove vezes), Jana Novotna, Petra Kvitova (duas vezes) e à vencedora do ano passado, Marketa Vondrousova, mas é a primeira checa a conquistar os títulos de singulares em dois majors diferentes, após o triunfo em Roland Garros, em 2021.

Na memória dos fãs mais velhos estarão sempre as imagens de Novotna a chorar compulsivamente no ombro da duquesa de Kent, após perder a final de 1993 com Steffi Graf, na qual esteve a vencer por 4-1 no terceiro set. As emoções fortes voltaram cinco anos mais tarde quando Novotna derrotou na final Nathalie Tauziat e posou, a sorrir, com a Venus Rosewater Dish nas mãos.

“Foi um momento muito emocional ver o meu nome ao pé do dela no quadro de vencedoras. Penso que ela iria estar orgulhosa, muito entusiasmada porque Wimbledon era muito especial para ela. Jana foi quem me disse que eu tinha potencial e que devia tornar-me profissional”, revelou Krejcikova, recordando a compatriota, a cuja porta de casa bateu, em 2014, entregando-lhe uma carta a pedir ajuda para a carreira.

Desde esse dia em Omice – perto de Brno, cidade natal de ambas – a carreira de Krejcikova, então com 18 anos, nunca mais foi a mesma. Para surpresa da tenista, Novotna ofereceu-se para viajar com ela, mas a parceria terminou em 2016, quando a saúde de Novotna piorou: um cancro nos ovários viria a causar-lhe a morte no final do ano seguinte. As últimas palavras de Novotna para a atleta foram: “Vai ganhar um Grand Slam.”

"Só pensava: 'sê corajosa'"

Em Wimbledon, a tarefa foi difícil desde a primeira ronda em que precisou de três sets e três horas para ultrapassar Veronika Kudermetova (38.ª). E, a partir da quarta ronda, teve de superar adversárias com melhor ranking: Danielle Collins (11.ª), Jelena Ostapenko (14.ª), Elena Rybakina (4.ª) e Paolini (7.ª), as duas últimas em três sets. Nesta quinzena, Krejcikova ganhou tantos encontros como as vitórias que tinha somado antes de Wimbledon, numa época fustigada por problemas físicos, que a obrigou mesmo a parar durante dois meses e a chegar a Londres com somente dois encontros ganhos desde Abril.

A confiança foi crescendo ronda a ronda, mas no derradeiro encontro, a experiência de tantas finais já disputadas em Grand Slams fez a diferença, em especial, no tenso terceiro set. Krejcikova adiantou-se para 4-3, graças a uma dupla-falta da italiana, vantagem confirmada com um jogo de serviço em branco. Quando serviu para fechar, a checa ganhou os dois primeiros pontos mas cometeu três erros directos e teve que salvar um break-point. Depois, desperdiçou um match-point, anulou um segundo break-point, assinou o sexto ás, desperdiçou um segundo match-point, mas na terceira oportunidade o primeiro serviço voltou a fazer a diferença. “No terceiro set, acreditei que se servisse bem e esperasse pelas minhas oportunidades, iria acontecer. Só pensava: ‘sê corajosa’”, contou Krejcikova.

Paolini nunca tinha ultrapassado uma ronda em Wimbledon, mas trouxe a confiança de Roland Garros, onde cinco semanas antes se estreou numa final do Grand Slam. Quando iniciou a época, no 30.º posto, nem a própria acreditaria que seria finalista em Paris e em Wimbledon.

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