Associação de vítimas da Igreja contesta avaliação “caso a caso” para indemnização

Associação Coração Silenciado entende que é “preciso evitar, de uma vez por todas, a revitimização dos sobreviventes” e o “remexer nas memórias”.

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Associação contesta a avaliação "caso a caso" Daniel Rocha/Arquivo
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A associação que representa as vítimas de abusos sexuais na Igreja contestou esta quinta-feira, 11 de Julho, a avaliação "caso a caso" para atribuição da compensação financeira e apelou à realização de uma campanha para que ninguém que pretenda ser compensado fique excluído.

A direcção da associação Coração Silenciado esteve reunida na quarta-feira, ao final do dia, com a presidência da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), num encontro em que "valorizou todo o contributo que a coragem das vítimas trouxe para a compreensão do sofrimento causado pelos abusos no seio da Igreja Católica e da dimensão dos traumas causados".

A associação reconheceu que um ano e depois depois da divulgação do Relatório da Comissão Independente (CI), as estruturas da Igreja progrediram na abordagem do problema. "Com efeito, o tema da prescrição já está fora de consideração. "Não estamos a tratar de um processo jurídico, mas a reconhecer a culpa e o mal causado", refere num comunicado divulgado esta quinta-feira.

Na reunião com a CEP, a associação assinalou também a evolução no que respeita às compensações financeiras: "Ao contrário do que dissera [o então cardeal-patriarca Manuel] Clemente em Fevereiro de 2023", quando dizia que falar de indemnizações seria "insultuoso para as vítimas", hoje já se fala dessas compensações.

Para a Coração Silenciado, a "importante divergência" que está por resolver é a forma e/ou o método a utilizar para realizar as compensações económicas.

"Contestámos abertamente a avaliação "caso a caso". É para nós uma questão de humanização e não uma questão burocrática ou de cálculos profissionais da "qualidade" dos traumas", realça.

A associação entende que é "preciso evitar, de uma vez por todas, a revitimização dos sobreviventes, o "remexer nas memórias"", uma vez que o processo como neste momento está estabelecido determina que cada sobrevivente tenha de redigir uma carta a indicar, de forma sucinta, o abuso que sofreu, quando isso já consta no processo de denúncia.

"Ao termos de justificar à nova comissão, criada para avaliar o impacto que o abuso teve nas nossas vidas, seremos então mais um número sem rosto, sujeitos a uma "tabela de preços" do sofrimento", sustenta.

Sublinha ainda que se o princípio é "'Amai-vos uns aos outros' em vez de 'Amai-vos uns aos outros, mas mais uns do que outros', isso determinaria um tratamento igualitário para com todas as vítimas", considerando que seria então "um processo mais humanizante e, certamente do ponto de vista da própria Igreja, mais cristão".

A associação refere ainda que lhe foi confirmado que foram extraídos e destruídos todos os dados pessoais do relatório da CI.

"É frustrante sabermos que todo o trabalho da CI não tinha como objectivo ajudar e acompanhar as vítimas, mas tão somente recolher dados/testemunhos para conhecimento da realidade pretérita e para estatística", sublinha.

A Coração Silenciado reclama a necessidade de "a Igreja falar a uma só voz, em vez de diferentes avaliações diocese a diocese".

A associação sugere por isso a publicitação frequente e explícita por parte da Igreja, através de uma campanha televisiva, que a instituição está pronta para as compensações financeiras, indicando endereço central de email e números de telefone, "para que ninguém que pretenda ser compensado fique de fora".

Adianta que a CEP tomou nota das preocupações e sugestões e que aguarda "melhores e mais positivos desenvolvimentos, ora na continuidade, ora na diferença do que tem sucedido".