Russos querem negociações de paz com a Ucrânia, mas sem concessões

Sondagem mostra aumento do apoio às negociações entre os russos, mas são muito poucos os que aceitam abrir mão dos territórios ocupados. Um terço considera aceitável o uso de armas nucleares.

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Putin tem defendido negociações de paz com a Ucrânia, mas exige manter territórios ocupados Vyacheslav Prokofyev / VIA REUTERS
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Uma sondagem recente mostra que a maioria dos russos defende a abertura de negociações de paz para a guerra na Ucrânia, mas sem fazer qualquer concessão. As acções do Kremlin na sua “operação militar especial” na Ucrânia continuam a ser apoiadas por uma sólida maioria da população.

De acordo com a mais recente sondagem do Centro Levada, um dos institutos de sociologia mais respeitados da Rússia, 58% dos russos apoiam o início de conversações que levem ao fim da guerra com a Ucrânia. Trata-se de um número recorde desde o início da invasão russa, em Fevereiro de 2022, que, segundo o director do Levada, Leonid Volkov, está relacionada com a mudança no discurso do Presidente, Vladimir Putin.

“Nas últimas semanas, ele [Putin] tem falado mais frequentemente sobre negociações de paz, nas quais nós estamos interessados”, explicou Volkov em entrevista ao Moscow Times.

Uma sondagem recente feita em vários países europeus mostrava uma convicção crescente de que o conflito entre a Ucrânia e a Rússia iria terminar com negociações de paz, mas em simultâneo a defesa da manutenção do apoio militar a Kiev.

Porém, os termos das negociações desejadas pelos russos são bastante diferentes daqueles defendidos pela Ucrânia e pelos seus aliados ocidentais. Apenas 17% dos inquiridos concordam que Moscovo deva fazer concessões para conseguir chegar a um acordo que ponha fim ao conflito. A mesma sondagem mostra que 73% estão contra a devolução dos territórios ocupados na Ucrânia e 83% rejeitam a hipótese de uma adesão da Ucrânia à NATO.

Estas opiniões reflectem os princípios de negociação do Kremlin, que tem insistido no reconhecimento das ocupações de território na Ucrânia e na exigência de neutralidade para o país vizinho – duas linhas vermelhas para Kiev que tem como objectivo recuperar todo o seu território e entrar na NATO.

O apoio dos russos à chamada “operação militar especial” da Rússia na Ucrânia está em 77%, que, de acordo com Volkov, é um patamar semelhante ao da taxa de aprovação de Putin, que foi reeleito em Março com 88% dos votos em eleições sem adversários credíveis.

“Quando fazemos perguntas adicionais sobre por que razão apoiam [a guerra], a principal resposta é ‘Quem é que haveríamos de apoiar? Apoiamos os nossos, não o outro lado’”, explicou Volkov a propósito do apoio dos russos à invasão da Ucrânia.

Ainda assim, cerca de 40% dos inquiridos afirmam que o melhor seria que a Rússia não tivesse invadido a Ucrânia. Mas uma maioria expressiva, de 65%, acredita que o Ocidente e a NATO são os principais responsáveis pelo conflito.

A sondagem também tentou aferir a opinião dos russos sobre o recurso a armas nucleares e concluiu que cerca de um terço encara o seu uso como uma resposta aceitável num conflito. No entanto, 52% consideram inaceitável a utilização de armas nucleares.

Segundo Volkov, “a discussão deste tema no espaço público dá uma impressão de que é possível” contemplar a utilização de armas nucleares – vários dirigentes russos têm referido essa possibilidade desde o início da invasão. “Quanto mais isto for discutido e mais argumentos forem apresentados ao mais alto nível, mais aceitável se pode vir a tornar”, acrescenta o sociólogo.

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