Israel reconhece falha na protecção de kibbutz a 7 de Outubro

Ministro da Defesa pede criação de comissão estatal para erros cometidos antes e durante o ataque do Hamas. “Investiguem-me a mim, investiguem o primeiro-ministro”, declarou.

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Yoav Gallant, ministro da Defesa de Israel, pediu uma comissão de investigação ao 7 de Outubro Fabrizio Bensch / REUTERS
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O Exército israelita admitiu erros cometidos na defesa do kibbutz Be’eri, atacado a 7 de Outubro, mas não respondeu a questões chave sobre os acontecimentos nesse dia, incluindo sobre a razão pela qual houve uma concentração de militares nos portões do kibbutz mas sem entrar durante várias horas, e se houve uma ordem para disparar contra uma casa onde estavam combatentes do Hamas e civis, e onde há suspeitas de que foi um ataque israelita a matar grande parte dos civis, segundo o diário The Washington Post.

Os resultados da investigação foram apresentados aos sobreviventes, que continuam num hotel no Mar Morto, pelo porta-voz militar Daniel Hagari, acompanhado pelo major-general Mickey Edelstein.

Não ficou claro o que aconteceu numa casa em que morreram 13 dos 14 civis israelitas e onde estavam também 40 combatentes do Hamas, suspeitando-se de uma aplicação da polémica “directiva Hannibal”, que nunca foi escrita e por isso é alvo de diferentes interpretações mas que permitira usar força máxima para evitar que fossem feitos reféns.

"Falhámos na protecção do kibbutz", reconheceu Hagari. Be’eri foi das comunidades mais atingidas no ataque de 7 de Outubro, tendo morrido 101 pessoas, ou seja um décimo da população, no ataque.

O kibbutz emitiu um comunicado dizendo que “não precisava dos resultados da investigação para sentir o fracasso das IDF a cada minuto desde as 6:29 da manhã daquele sábado negro”. Um ponto positivo foi que “a investigação contribuiu para a compreensão da profundidade e da complexidade dos combates nalgumas zonas do kibbutz”, mas “não deu respostas satisfatórias às questões essenciais”.

Comissão a 7 de Outubro

Ainda esta quinta-feira, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, pediu a criação de uma comissão estatal para investigar os erros cometidos pelas autoridades israelitas antes e durante os ataques do Hamas de 7 de Outubro de 2023.

“Esta comissão de inquérito deve examinar as falhas operacionais e de inteligência de 7 de Outubro, lidar com o processo de gestão da guerra e abordar a acumulação de forças do Hamas na última década”, disse o ministro durante uma cerimónia de graduação de cadetes do exército.

Com as declarações, Gallant distanciou-se mais uma vez do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, cuja posição é que qualquer investigação sobre as acções das autoridades durante o 7 de Outubro deve esperar até que a guerra contra o Hamas em Gaza termine.

Gallant insistiu que o Exército deve reconstruir a confiança que foi danificada, e que os políticos não devem ficar de fora. Investiguem-me a mim, investiguem o primeiro-ministro, declarou.

Assumir responsabilidade

A apresentação dos resultados da investigação ao que aconteceu no kibbutz Be’eri foi, no entanto, uma das poucas ocasiões em que as autoridades israelitas assumiram a responsabilidade pelos acontecimentos de 7 de Outubro.

Na véspera à noite, o chefe do distrito sul do serviço de informações internas de Israel (Shin Bet) - cuja identidade, tal como a de todos os funcionários da agência, não foi revelada - demitiu-se, tornando-se o primeiro membro do organismo a fazê-lo por causa das falhas de informação que levaram ao massacre de Outubro.

Até agora, só se registaram duas demissões de relevo nas Forças Armadas devido aos erros antes e durante o ataque de 7 de Outubro.

A primeira foi a 22 de Abril, quando o chefe dos serviços secretos militares israelitas, o general Aharon Haliva, se demitiu após 38 anos de serviço militar.

O segundo foi a 9 de Junho, quando o brigadeiro-general Avi Rosenfeld, comandante da divisão de Gaza, se demitiu depois de não ter conseguido proteger “as comunidades (da fronteira de Gaza), milhares de residentes, milhares de participantes no festival de música de Reim e as forças estacionadas nos postos avançados”.

O chefe do Shin Bet, Ron Bar, pediu desculpa pelo sucedido no 7 de Outubro e assumiu a responsabilidade, mas, por enquanto, continua em funções.