Rui Rio “desconfortável” com entrevista da procuradora-geral da República

Antigo líder social-democrata diz que o MP “se comporta praticamente como um Estado dentro do Estado”.

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Rui Rio é um dos subscritores do Manifesto por uma Reforma da Justiça em Defesa do Estado de Direito Democrático TIAGO PETINGA / LUSA
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O ex-presidente do PSD Rui Rio disse esta quarta-feira que ficou "profundamente desconfortável" com a entrevista da procuradora-geral da República e considerou que o Ministério Público (MP) se comporta como um Estado dentro do próprio Estado.

"A entrevista da senhora procuradora-geral da República deixou-me profundamente desconfortável porque se situou, para mim, num patamar acima de tudo e mais alguma coisa, o que demonstra que o MP se comporta praticamente como um Estado dentro do Estado", defendeu Rui Rio.

O ex-líder social-democrata e antigo presidente da Câmara do Porto acrescentou ainda que "o MP não é um órgão de soberania", afastando a ideia de há "uma campanha orquestrada em relação à senhora procuradora [Lucília Gago]".

"Acho essa afirmação disparatada. Se formos ler os meus discursos quando era presidente da Câmara do Porto, por alturas do 25 de Abril de há 18 anos, há 20 anos, há 15 anos, eu já fazia, então já estava a orquestrar campanha antes de a senhora ser procuradora-geral da República", acrescentou.

Rui Rio falava aos jornalistas antes da cerimónia em que recebeu a Chave da Cidade de Miranda do Douro, também atribuída à coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, ao ex-secretário de Estado das Finanças Nuno Santos Félix.

A distinção, proposta pelo executivo municipal, é entregue no dia em que se assinala o feriado municipal neste concelho do distrito de Bragança.

Numa entrevista na segunda-feira à RTP, a procuradora-geral da República Lucília Gago afirmou nunca ter colocado a hipótese de se demitir após as críticas de que a própria e o Ministério Público de forma geral têm sido alvo, na sequência de processos mediáticos como a Operação Influencer, que levou à queda do Governo de António Costa, investigado, mas não constituído arguido no caso.

Lucília Gago afirmou ainda que há uma "campanha orquestrada" contra o MP: "Estou perfeitamente consciente que há de facto uma campanha orquestrada por parte de pessoas que não deviam, uma campanha orquestrada na qual também se inscrevem um conjunto alargado de pessoas que têm actualmente, ou tiveram no passado, responsabilidades de relevo na vida da nação. Melhor fora que não fizessem os ataques que têm sido desferidos".

Recentemente várias figuras da política e sociedade civil uniram-se em torno do Manifesto por uma Reforma da Justiça em Defesa do Estado de Direito Democrático, que pede uma reforma deste sector e critica a actuação do MP, e onde se incluem antigos líderes partidários como Rui Rio, antigos presidentes da Assembleia da República como Ferro Rodrigues ou Augusto Santos Silva, ex-ministros e ex-deputados.