O maior reservatório da ilha grega de Naxos secou, sendo útil apenas para as tartarugas que passeiam pelos seus baixios lamacentos. A jusante, a água do mar infiltrou-se em poços de irrigação vazios, prejudicando a apreciada cultura de batata da ilha. Mais a Sul, na ilha de Karpathos, as autoridades impuseram restrições ao enchimento das piscinas, enquanto na ilha setentrional de Thasos, estão a procurar uma unidade de dessalinização para tornar a água do mar potável.
A maior parte da Grécia tem registado pouca ou nenhuma chuva nos últimos meses. Agora, quando as ilhas do país se preparam para receber um número recorde de turistas no Verão, a pressão sobre o abastecimento de água foi especialmente intensa, segundo as autoridades, os agricultores e os cientistas.
"Houve uma intensa escassez de chuvas em todo o Mediterrâneo e, em Naxos em particular, os nossos reservatórios de superfície estão vazios", disse o presidente da câmara da ilha, Dimitris Lianos. Milhões de turistas visitam a Grécia todos os anos para desfrutar dos seus locais antigos, das suas praias imaculadas e das suas águas azul-turquesa. Mas os impactos das alterações climáticas, incluindo temperaturas mais elevadas, precipitação irregular e incêndios florestais, ameaçam o futuro do maior motor económico do país.
Este ano parece especialmente difícil. Após o Inverno mais quente de que há registo, os incêndios florestais começaram invulgarmente cedo, alguns em zonas onde normalmente haveria neve. Pelo menos seis turistas, incluindo o conhecido apresentador de televisão britânico Michael Mosley, morreram no mês passado, quando as vagas de calor varreram o país.
Os especialistas em clima receiam que o pior ainda esteja para vir. Andrea Toreti, coordenador do observatório europeu e mundial da seca do Serviço de Gestão de Emergências Copérnico, afirmou que, quando os efeitos da seca se tornam visíveis, é demasiado tarde para tomar medidas. "Precisamos de evitar pensar em modo de emergência, (em vez disso) olhar para a prevenção e a preparação", disse Toreti.
Culturas Doentes
A escassez de água é gritante em Naxos, uma ilha montanhosa com 20.000 habitantes numa das zonas mais populares - e secas - do Mar Egeu. Dezenas de milhares de turistas acorrem diariamente às suas praias durante o Verão. Os dois reservatórios da ilha têm apenas 220 mil metros cúbicos de água utilizável, um terço do nível do ano passado e o equivalente a apenas algumas dezenas de piscinas olímpicas.
As autoridades garantiram três unidades portáteis de dessalinização que tratarão a água do mar para a tornar potável e que, segundo o presidente da Câmara, Lianos, deverão cobrir a falta de água para casas, hotéis e piscinas. Mas os agricultores não receberão qualquer água tratada e terão de recorrer a poços que foram contaminados pelos aquíferos de água do mar. Os agricultores afirmam que esta contaminação ocorre quando os poços estão suficientemente vazios para que a água salgada se infiltre.
Stelios Vathrakokoilis cultiva as famosas batatas de Naxos, que são adoradas na Grécia pelo seu sabor amanteigado e estão protegidas ao abrigo das regras da UE. Este ano, a sua produção será reduzida para menos de metade devido à salinidade da água de irrigação. "É uma grande desilusão, porque nós, humanos, não conseguimos antecipar que as alterações climáticas também nos iriam bater à porta", afirmou, enquanto um punhado de trabalhadores colhia batatas nas proximidades.
Abastecimento Curto
Os países do Mediterrâneo, incluindo a Espanha e a Itália [e também Portugal], estão a procurar formas de reforçar o seu abastecimento de água recorrendo à dessalinização, mas os fornecedores afirmaram que as unidades estavam em falta este Verão devido ao aumento da procura.
Mesmo em Thasos, que é muito mais verde do que a rochosa Naxos, os funcionários disseram que queriam comprar uma unidade para utilização futura. O fabricante grego Sychem adianta que não conseguiu satisfazer plenamente a procura dos seus clientes este Verão devido à escassez de componentes essenciais e ao prolongamento dos prazos de construção, declarou o seu director-executivo Alexandros Yfantis. As novas unidades deverão estar disponíveis a partir de Setembro. "Uma vez que o problema está em todo o lado, qualquer equipamento temporário já foi alugado", disse Yfantis.