Ligações energéticas: “França levanta sempre problemas”, diz ministra

Ministra do Ambiente diz que Portugal e Espanha não vão desistir de colocar as interligações entre a Península Ibérica e França na agenda europeia, apesar da “resistência muito grande” dos franceses.

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A protecção da indústria nuclear francesa é tida como o maior bloqueio à construção das interconexões a partir da Península Ibérica JULIEN WARNAND / EPA
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“O poderio nuclear francês, que não quer concorrência [da electricidade ibérica]”, tem de ser combatido a nível europeu sob pena de não haver um mercado único da energia e de a Península Ibérica “continuar a ser uma ilha energética”, sublinhou esta quarta-feira a ministra do Ambiente e da Energia, Maria da Graça Carvalho, na Assembleia da República.

A propósito do acordo recente entre Portugal e Espanha para desenvolver um esforço conjunto que coloque as interligações eléctricas entre a Península Ibérica e França na agenda europeia, a ministra diz que os dois países esperam a ajuda da Alemanha, Bélgica e Luxemburgo para que este tema deixe de ser visto exclusivamente como uma questão entre a Ibéria e a França.

Embora “a resistência muito grande da França” torne tudo mais complicado, Graça Carvalho diz que os parceiros ibéricos vão insistir no tema. “No Conselho Europeu, a França quis retirar tudo o que era interligações, pôs delete [apagar, em inglês] em tudo e foi uma guerra, mas não vamos desistir”, exemplificou a ministra do Ambiente.

No papel, as metas europeias de interligações eléctricas (ou seja, da capacidade de um Estado transferir energia para os seus vizinhos em função da capacidade de produção instalada) são de 15% até 2030.

Contudo, na prática, entre a Península Ibérica e a França, esse valor ronda os 3%, ainda que haja projectos de reforço em curso, como o cabo submarino pelo Golfo da Biscaia para ligar o País Basco espanhol à região francesa da Aquitânia.

Entre Portugal e Espanha também estão previstos reforços de capacidade de interligação entre o Minho e a Galiza.

As reuniões entre Graça Carvalho e a sua homóloga espanhola Teresa Ribera (vista como uma das candidatas à pasta da Energia na Comissão Europeia) nos últimos meses têm debatido a urgência de acelerar o cumprimento destas metas e de dar ao assunto um carácter europeu, pelo facto de as interconexões serem consideradas essenciais para garantir a segurança do abastecimento europeu, com mais electricidade a chegar aos países da Europa central em caso de necessidade (além de maior concorrência em termos de preço).

Coisa diferente, assumiu a ministra, é o investimento no gasoduto de transporte de hidrogénio que foi anunciado em 2022, como parte da estratégia europeia para reduzir a dependência do gás russo.

O plano era construir uma terceira interligação gasista com Espanha (o projecto CelZa, entre Celorico da Beira e Zamora), que depois se conectasse à rede espanhola e, a partir desta, à rede francesa.

O transporte de hidrogénio, “além de ser caro, é tecnologicamente difícil”. Portugal vai continuar a acompanhar o tema do gasoduto, mas não vai “iniciar as obras”, a não ser que arranquem os trabalhos entre Barcelona e Marselha (para a ligação baptizada como BarMar), sublinhou Graça Carvalho.

“O hidrogénio é interessante para atrair investimento para Portugal e é nisso que estamos a trabalhar”, porque este vector energético deve ser usado mais próximo dos locais onde é produzido, frisou a ministra.

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