Pascal Quignard convoca uma companhia de solitários
Os Desarçonados é um livro em fuga. Que se recusa obedecer e declarar o género literário a que pertence. Um livro de caça e de guerra, de caçadores e guerreiros. A guerra é a vida.
Este livro de Pascal Quignard foge resolutamente de qualquer enquadramento. Recusa-se a ser detido, a responder a quaisquer perguntas. Nem sequer acede a revelar a sua identidade. Ele é, sem dúvida – ou no usufruto jubiloso e violento de todas as dúvidas –, um suspeito em fuga. Um infractor altamente perigoso. E, como dirá o autor francês a dado ponto, livre como os gatos. Por isso, Os Desarçonados é tanto uma biologia especulativa, fantasiosa e sonhadora, capaz de descrever “a bolsa não-verbal oculta no fundo de cada corpo” (p.144), como a rigorosa expedição antropológica ao matagal obscuro do humano – “Embora o homem não tenha nunca a possibilidade de experimentar o seu fim, ele é o único dos animais no qual toda a vida é orientada pela imaginação da sua morte.” (p.51).
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.