Novo foguetão europeu vai pôr em órbita satélite português

Pequeno satélite, desenvolvido no Instituto Superior Técnico, venceu concurso da Agência Espacial Europeia para viajar a bordo do Ariane 6. Pode tornar-se o terceiro satélite português no espaço.

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O satélite foi desenvolvido por estudantes e professores do Instituto Superior Técnico Daniel Rocha
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Por mais que se tente, sabe sempre a pouco definir as sensações de ver um satélite criado de raiz ser lançado para o espaço. Ainda mais se tiver sido construído por professores e alunos de uma universidade portuguesa. Ansiedade talvez seja a melhor forma de o descrever. Esta terça-feira, se a primeira viagem do Ariane 6, o novo foguetão europeu, correr como planeada, teremos mais um satélite português no espaço – e este é o primeiro universitário.

“Como se diz numa famosa frase do futebol português, ‘prognósticos só no fim do jogo’”, atira Rui Rocha, docente e investigador do Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa. Há mais de um ano que estudantes e professores aguardam pela descolagem do Ariane 6 para verem o seu trabalho chegar ao espaço. Afinal este satélite, o ISTSat-1, é um projecto em curso desde 2017 e que juntou cerca de 50 pessoas do IST.

Rui Rocha estará na Guiana Francesa esta terça-feira à espera do primeiro voo do novo foguetão europeu, mas não estará sozinho. A Agência Espacial Europeia (ESA) também convidou três dos estudantes que participaram neste projecto: Afonso Muralha, João Paulo Monteiro e Rúben Afonso. Em Lisboa estará uma equipa preparada para detectar a localização do satélite e arrancar os trabalhos do ISTSat-1.

“Estaremos ansiosamente a aguardar a passagem do satélite e o sinal dele. Até chegar a esse ponto, ainda temos de ultrapassar algumas barreiras. Há a injecção em órbita, a abertura das antenas e o arranque da transmissão. Demorará umas horas a começar o processo. Se tudo correr bem, apanhá-lo pode demorar uns dias”, avisa Rui Rocha.

Será o terceiro satélite português a ir para o espaço, depois do PoSat-1 em 1993 e do Aeros em Março deste ano. A expectativa até era que este satélite universitário pudesse ter sido lançado já em Outubro de 2023, mas os sucessivos atrasos na descolagem do Ariane 6 adiaram a partida.

O ISTSat-1, um cubo com dez centímetros de altura e de largura, será colocado na órbita baixa da Terra, a 560 quilómetros de altitude, de onde testará a detecção e descodificação dos sinais emitidos pelos aviões para as estações. A missão será explorar a possibilidade de criar um radar mais fidedigno para vigiar os aviões que voam por todo o planeta.

Um satélite em órbita permite fazer essa “vigilância”, já que os aviões têm “ADS-B”, um sistema de emissão de sinais para as estações terrestres localizarem um determinado avião – permitindo que visitemos o site Flightradar24 para acompanhar uma viagem praticamente em directo. Ora, em zonas oceânicas ou nas regiões polares, não há plataformas terrestres tão frequentemente como nos continentes, pelo que a detecção destes sinais a partir do espaço pode ser “a resposta para podermos localizar os aviões, estejam em zonas populosas ou remotas do planeta”, como explicou Rui Rocha ao PÚBLICO no ano passado.

Seleccionado pela ESA

O estado de espírito não podia ser outro. “Está tudo ansioso”, admite Rui Rocha. A construção deste satélite é quase um capricho com mais de uma década, num desafio lançado por professores e radioamadores que rastreavam satélites por carolice. “Desde 2012, começámos a desafiar alguns alunos para fazerem teses de mestrado nesta área, desenvolvendo subsistemas já a pensar num satélite destes num futuro próximo”, conta o professor do IST.

As mais de 25 teses de mestrado criadas no desenvolvimento do ISTSat-1 serviram o primeiro propósito deste projecto: ser uma plataforma de ensino e desenvolvimento para lá das aulas.

Mas em 2017 surgiu outra oportunidade. O concurso Fly Your Satellite, coordenado pela ESA, premeia equipas universitárias que constroem satélites e, na segunda edição, a selecção não implicava apenas um lançamento. Os satélites escolhidos tinham o privilégio de serem dos primeiros passageiros a apanhar boleia do Ariane 6. Depois de ultrapassados todos os testes de avaliação do satélite, como qualquer satélite empresarial também seria obrigado a cumprir, o ISTSat-1 garantiu que seria um dos dois projectos a voar no novo foguetão europeu. O outro cubesat (ou seja, um pequeno satélite em forma de cubo) vem da Universidade Politécnica da Catalunha (Espanha).

Depois de serem lançados para a órbita da Terra, estes satélites académicos terão de esperar 45 minutos antes de serem activados. A partir desse momento, começa a caça ao sinal, com estudantes em Lisboa à procura da passagem dos satélites, bem como radioamadores de todo o mundo que já foram convocados pela ESA para rastrearem os céus à procura destes pequenos satélites.

“É o nosso primeiro satélite. Nunca lançámos nenhum, não temos experiência nenhuma e também não operámos nenhum até agora. Fizemos este satélite para aprender e aprendemos imenso”, diz Rui Rocha. Se tudo correr bem, como vai acautelando na conversa o professor do IST, o terceiro satélite português poderá estar cinco anos a trabalhar a 560 quilómetros da Terra – até se acabarem as baterias.

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