Exército israelita ataca bairros do centro da Cidade de Gaza

O exército israelita realizou ataques esta madrugada com tanques e bombardeamentos aéreos, afirmando que militantes do Hamas e da Jihad Islâmica se escondiam na zona civil.

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Cidade de Gaza tem sido alvo de ataques israelitas Dawoud Abu Alkas / REUTERS
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Forças israelitas bombardearam a Cidade de Gaza na madrugada de segunda-feira, enquanto colunas de tanques avançaram para o centro da cidade a partir de várias direcções, no que os residentes disseram que foi um dos ataques mais fortes ao território palestiniano desde o início da guerra, que se encaminha para o décimo mês.

Os serviços de emergência de Gaza estimam que várias dezenas de pessoas terão sido mortas nos ataques. No entanto, as equipas de emergência não conseguiram chegar até essas pessoas devido às ofensivas militares em curso nos bairros da cidade de Daraj e Tuffah, a leste, e em Tel Al-Hawa, Sabra e Rimal, a oeste.

Segundo os residentes, os bairros da Cidade de Gaza, situada no norte da Faixa, foram bombardeados durante toda a noite e pela madrugada. Vários edifícios de múltiplos andares foram destruídos, acrescentaram.

Um tanque israelita empurrou as pessoas para a estrada mais a oeste, perto do Mediterrâneo, relataram os residentes.

"O inimigo está atrás de nós e o mar está à nossa frente, para onde é que vamos?", contou Abdel-Ghani, um habitante da Cidade de Gaza, que preferiu não ser identificado com o nome completo.

"Os projécteis dos tanques e os mísseis dos aviões estão a cair nas estradas e nas casas como o inferno de um vulcão. As pessoas estão a correr em todas as direcções e ninguém sabe para onde ir", disse Abdel-Ghani à Reuters através de uma aplicação de chat.

As forças armadas israelitas afirmaram, em comunicado, que estavam a montar uma operação contra as infra-estruturas dos militantes do Hamas na Faixa de Gaza e que tinham retirado de acção mais de 30 combatentes.

A nova ofensiva israelita ocorre no momento em que o Egipto, o Qatar e os Estados Unidos intensificaram os esforços para mediar um acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo militante palestiniano Hamas, quando a guerra de Gaza entrou no seu décimo mês.

A guerra foi desencadeada em 7 de Outubro do ano passado, quando combatentes liderados pelo Hamas, grupo que controlava Gaza, atacaram o sul de Israel, matando 1200 pessoas e fazendo cerca de 250 reféns, segundo dados de Israel.

Desde então, mais de 38.000 palestinianos foram mortos na ofensiva militar israelita, segundo as autoridades de saúde de Gaza.

Os residentes de Gaza contaram que os tanques avançaram a partir de pelo menos três direcções na segunda-feira, tendo atingido o centro da Cidade de Gaza, apoiados por fogo pesado israelita vindo do ar e do solo. Estes ataques obrigaram milhares de pessoas a saírem das suas casas para procurar abrigo, o que, para muitos, foi impossível de encontrar, obrigando a que alguns dormissem na berma da estrada.

Os médicos do Hospital Batista Árabe Al-Ahli, na Cidade de Gaza, tiveram de retirar os doentes para o Hospital Indonésio, no norte da Faixa de Gaza, já lotado e mal equipado, disseram as autoridades de saúde palestinianas. Um ataque israelita no subúrbio oriental de Shejaia matou quatro palestinianos, segundo os médicos.

Os militares israelitas afirmaram que tinham avisado os civis sobre as suas operações e disseram que seria aberta uma rota para que os civis pudessem sair das áreas afectadas, bem como afirmaram que combatentes do Hamas e do grupo aliado Jihad Islâmica estavam a esconder-se atrás de infra-estruturas civis para atacar as forças israelitas.

As Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa da Fatah palestiniana afirmaram que tinham disparado morteiros contra as forças israelitas durante o ataque a sudoeste da Cidade de Gaza.

Esperança por uma pausa

As esperanças entre os residentes de Gaza de uma pausa nos combates renasceram depois de o Hamas ter aceitado uma parte essencial da proposta de cessar-fogo dos EUA, o que levou um responsável da equipa de negociação israelita a afirmar que havia uma possibilidade real de um acordo.

O Hamas deixou cair a exigência de que Israel se comprometesse primeiro com um cessar-fogo permanente antes de assinar um acordo. Em vez disso, o grupo militante disse que permitiria que as negociações se concretizassem ao longo da primeira fase de seis semanas, contou uma fonte do Hamas à Reuters no sábado.

Mas o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu insistiu que o acordo não deve impedir Israel de retomar a luta até que os seus objectivos de guerra sejam atingidos. Esses objectivos foram definidos no início da guerra como o desmantelamento das capacidades militares e de governação do Hamas, bem como o regresso dos reféns israelitas.

O ministro das Finanças israelita, Bezalel Smotrich, disse na segunda-feira que seria um grande erro parar agora a ofensiva israelita.

Smotrich, que dirige um partido pró-colonos que faz parte da coligação governamental de Netanyahu, escreveu na plataforma de media social X: "O Hamas está a cair e a implorar um cessar-fogo. Este é o momento de apertar o pescoço até esmagarmos e quebrarmos o inimigo. Parar agora, mesmo antes do fim, e deixá-lo recuperar e voltar a lutar contra nós é uma loucura sem sentido".

Três detidos palestinianos libertados encontrados mortos

Três corpos algemados de detidos palestinianos que tinham sido libertados por Israel foram encontrados perto da fronteira de Gaza com Israel. Segundo o tio de um deles e uma testemunha, os detidos tinham sido atacados pelas forças israelitas pouco depois da sua libertação.

Abdel Hadi Ghabayen, tio de um dos detidos, Kamel Ghabayen, contou que saiu às 5h00 de domingo à procura do sobrinho, depois de ele ter sido detido pelas forças israelitas no sábado.

"Encontrei-o no chão, juntamente com os outros dois mártires. Estavam sem roupa e tinham algemas de plástico nas mãos, colocadas pelo exército israelita", afirmou Ghabayen.

Os corpos foram encontrados perto da vedação da fronteira israelita no domingo, nas imediações da passagem fronteiriça de Karam Abu Salem (Kerem Shalom), no sul de Gaza, disse ele.

A Reuters não conseguiu confirmar de forma independente o que aconteceu aos três homens ou o motivo da sua detenção. Os militares israelitas não responderam a um pedido de comentário sobre estes relatos.

Abdel Hadi Ghabayen disse que um dos detidos tinha perdido uma perna e que o seu corpo estava "em pedaços" na sequência do que disse ter sido um ataque das forças israelitas efectuado pouco depois da sua libertação.

Quando tentou recuperar a perna desmembrada do homem, segundo Ghabayen, os israelitas "começaram a disparar contra mim e eu parei". Mais tarde, transportou os corpos dos três no seu camião para o Hospital Nasser, na cidade de Khan Younis, no sul de Gaza.

Os três - Kamel Ghabayen, Mohammed Awad Ramadan Abu Hejazi e Ramadan Awad Ramadan Aby Hejaz - encontravam-se entre os vários palestinianos detidos no sábado e mantidos para interrogatório, segundo um dos homens, Mahmoud Abu Taha.

Abu Taha disse que foram alvo de fogo pouco depois de terem sido libertados.

"Chegámos à rua Karkar (em Gaza). Dez minutos depois de lá estarmos, encontrámos uma bomba atirada às pessoas que estavam comigo. Graças a Deus, eu estava na frente. A bomba atingiu 6 ou 7 pessoas que estavam detidas connosco. Graças a Deus estou vivo", contou.

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