Afinal, o que se passa com o tempo? “Nada indica que Julho será mais frio e chuvoso”, diz o IPMA

Nortada vai mexer com as temperaturas e trazer (pouca) chuva esta semana. Mas a previsão de Julho aponta para temperaturas acima da média e tempo seco a partir da próxima semana. Aqui e pela Europa.

Foto
A agência meteorológica portuguesa aponta para uma "anomalia positiva" na ordem dos 1,5ºC na temperatura média mensal do ar entre Julho e Setembro Tiago Lopes
Ouça este artigo
00:00
06:25

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Não, o Verão não desapareceu do mapa. Embora o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) admita que esta semana registará uma "precipitação total semanal com valores acima" da média e uma "temperatura média semanal com valores abaixo do normal", o tempo seco e quente deve voltar já na próxima semana. "Não há nada que diga que vai ser um Julho chuvoso e mais frio", assegurou o meteorologista Pedro Sousa em declarações ao PÚBLICO. Pelo contrário, as previsões apontam para um novo aumento das temperaturas e um decréscimo na precipitação, que já será residual, na terceira semana do mês.

As pistas sobre o que a meteorologia reserva para Portugal continental ao longo deste mês estão numa previsão que o IPMA publicou na semana passada sobre as quatro semanas que arrancam esta segunda-feira, 8 de Julho, e culminam no primeiro domingo de Agosto, dia 4. Esta previsão meteorológica tem de ser interpretada com cautela, apelou Pedro Sousa, porque se baseia meramente em probabilidades: quanto mais tempo passar em relação ao dia em que foi feita a análise, menor o grau de certeza sobre a análise dos meteorologistas. Mas já lá vamos.

A segunda semana de Julho, até ao dia 14 de Julho, é aquela para a qual os cientistas têm uma melhor percepção sobre o estado do tempo. E têm más notícias: vai estar mais frio e chover mais do que o habitual. O boletim do IPMA indica "valores acima do normal" de precipitação total semanal no litoral Norte e "valores abaixo do normal" de temperatura média semanal em todo o território continental. Os termómetros podem marcar até menos 3ºC do que se esperava nesta altura do ano e a precipitação no litoral Norte pode chegar aos 10 milímetros — o equivalente à acumulação de 10 litros de chuva num metro quadrado de água.

Sabemos o que está a pensar: tirou estes dias há meses e não estava nos seus planos ser surpreendido com chuva enquanto aproveita o Sol em pleno Verão. Há mesmo certezas absolutas de que as suas férias vão ser arruinadas pela meteorologia? A resposta rápida é não. Não existem certezas absolutas em meteorologia porque a atmosfera é tão dinâmica que pode fintar os cientistas mais atentos e contrariar até as previsões mais conservadoras. E é por isso que o IPMA avalia as suas próprias previsões em função da confiança que tem nelas.

Ora, segundo essa análise, "a probabilidade de a precipitação total semanal ser superior ao normal" entre 8 e 14 de Julho "situa-se entre os 60% e os 80%". E a probabilidade de a temperatura média semanal ser inferior ao normal "situa-se entre os 60 e os 90%". Trocado por miúdos, isto significa que é mais provável o cenário em que chove mais do que o normal e faz menos calor do que o expectável do que a situação contrária. Ainda assim, há margens para o erro — e essa hipótese de errar só aumenta a partir do próximo domingo para a frente.

É assim porque, apesar de se considerar que um período de 30 dias numa análise meteorológica é "suficientemente curto para que a atmosfera retenha informação sobre as suas condições iniciais", também se julga que é "suficientemente longo para que variabilidade do oceano influencie a circulação atmosférica". Para chegar a um consenso sobre o que vai pesar mais na previsão, os meteorologistas utilizam modelos de simulação diferentes para aferir quais são os desfechos possíveis. Quanto maior for a concordância entre as simulações, maior a probabilidade de a previsão meteorológica estar correcta.

Acontece que, a partir da segunda semana em análise (o que corresponde, neste caso, à terceira semana de Julho), "não existe aptidão da previsão para os padrões de tempo de larga escala" porque, matematicamente, "o erro da previsão é igual ao de uma previsão baseada numa média climatológica", diz o relatório do IPMA. Ou seja, mesmo que a previsão meteorológica mais provável aponte para uma variação da temperatura em relação à normal, por exemplo, a margem de erro dessa previsão coincide com a margem de erro do modelo climatológico utilizado para a criar. A temperatura pode mesmo variar em relação ao normal — ou então não.

Mais: chover mais do que a média, tendo em conta o Verão em Portugal, significa chover pouco à mesma. "Em grande parte do território, a precipitação em Julho é residual ou mesmo nula", recordou Pedro Sousa numa explicação cedida ao PÚBLICO: "Se houver uma precipitação de dois milímetros no Algarve, onde quase não chove nesta altura do ano, isso já seria uma anomalia de 100%." Em algumas regiões do Norte, onde a chuva é mais comum do que a Sul, seria preciso chover mais para que isso se traduza numa anomalia — mas, ainda assim, choveria pouco.

Eis então o que se pode saber sobre o que o tempo reserva aos portugueses no continente: na terceira semana de Julho, entre os dias 15 e 21, prevê-se uma precipitação abaixo do normal para o litoral Norte, assim como temperaturas até 3ºC mais elevadas do que a média para a região Norte, interior Centro e interior Sul. Depois disso, os valores de temperatura média semanal só se devem manter acima do normal em algumas áreas do país: de 22 a 28 de Julho, será assim na região Norte e no interior Centro; mas, a partir de dia 29 e até ao dia 4 de Agosto, só deve estar mais calor do que o habitual no Norte.

Num outro relatório, referente ao que se pode esperar entre Julho e Setembro deste ano, a agência meteorológica portuguesa aponta para uma "anomalia positiva" na ordem dos 1,5ºC na temperatura média mensal do ar, sobre todo o território de Portugal continental e ilhas — um cenário que se verifica por toda a Europa. Esperam-se temperaturas mais elevadas no interior da Península Ibérica, mas isso é habitual, esclarece Pedro Sousa: no litoral, os gráficos parecem mostrar temperaturas menos elevadas por causa do efeito da Nortada.

E não, ela não está mais forte do que nunca, assegura o cientista. A ideia de que o Verão está mais fresco e mais incerto "tem a ver com a nossa memória meteorológica": "Achamos sempre que está mais frio, mas, na verdade, a tendência tem sido de aquecimento. É isso que ficamos a saber se olharmos para um conjunto alargado de dados e formos analisar como foi o Verão em anos anteriores."

De qualquer forma, estas previsões de temperatura devem ser interpretadas com cautela: a probabilidade de a temperatura média ser mesmo superior ao normal na próxima semana nas regiões mencionadas foi calculada em apenas 50% a 70% — e essas percentagens baixam para 40% a 70% entre os dias 22 e 28 de Julho; e para 50% a 60% de 29 de Julho a 4 de Agosto. No que toca à precipitação, o IPMA nem sequer arrisca uma previsão meteorológica porque, a existir, será tão tímida que será difícil medi-la a esta distância temporal: "Não é possível identificar a existência de um sinal estatisticamente significativo, ou seja, não se pode tirar grandes conclusões." Só resta esperar para ver.