Procurar casa é difícil. E quando o senhorio é IA? Ainda mais frustrante e repetitivo
Os bots são tão credíveis que os inquilinos acham que são seres humanos. “Percebo a ideia, mas ainda estão numa fase de tentativa e erro”, diz uma pessoa que estava a procurar casa.
Há magnatas norte-americanos do imobiliário a deixar o trabalho a cargo de chatbots. E há personalidades para todos os gostos: o Matt, simpático e prestável, que marca as visitas aos imóveis; a Lisa, mais profissional, que responde a todas as questões dos potenciais inquilinos; e o Hunter, severo, responsável por relembrar que chegou a altura de pagar a renda. Os bots são tão credíveis que os inquilinos acham que são seres humanos — e isso é perigoso.
Estes três “funcionários” ajudam (e substituem, até certo ponto) oito pessoas que geriam 814 propriedades do complexo The Distritct at Cypress Waters, no estado norte-americano do Texas. Jason Busboom, responsável pelos apartamentos e pelas casas, começou a usar esta tecnologia há um ano, mas não é caso único.
A empresa EliseAI, com sede em Nova Iorque, fornece assistentes virtuais utilizados em mais de 2,5 milhões de apartamentos nos Estados Unidos. O objectivo, segundo disse a CEO Minna Song ao New York Times, é tornar estes assistentes o mais humanos possível. Os inquilinos podem comunicar com eles através de mensagens, e-mails e chamadas — a pronúncia é escolhida pelo proprietário.
Os assistentes treinados com inteligência artificial conseguem até ajudar a resolver problemas de manutenção. Por exemplo, se alguma torneira estiver a pingar, enviam um vídeo ao inquilino a explicar como desligar a água até chegar um canalizador para fazer a reparação. Este modo de operar agrada a alguns inquilinos, que tentam combinar cafés com o “senhorio” e chegam a enviar-lhe presentes. Isto porque não sabem que do outro lado não está um ser humano. Na maior parte dos estados norte-americanos não existe uma lei que obrigue a informar sobre o uso de inteligência artificial. E, nos estados em que existe, esse tipo de exigência está apenas relacionada com influência em eleições e vendas.
Ray Weng é programador e apercebeu-se que estava a falar com um chatbot enquanto procurava casa em Nova Iorque porque contactou dois agentes imobiliários com o mesmo nome e que davam as mesmas respostas a tudo. "Prefiro lidar com uma pessoa", disse. "Se for tudo automatizado, parece que [os agentes imobiliários humanos] não se importam o suficiente para ter uma pessoa real a falar comigo."
Um dos grandes riscos deste sistema é a possível falha dos assistentes, que não têm capacidade de análise crítica. O gestor de uma empresa que utiliza inteligência artificial para responder a clientes afirma que o chatbot é bom a responder a perguntas simples, mas, quando os assuntos são mais complicados, “pode responder como acha que deve e não necessariamente como é suposto”.
É também essa a avaliação de alguns inquilinos que já tiveram de lidar com esta nova forma de senhorio: funcionam para marcar visitas, mas podem tornar-se muito "frustrantes e repetitivos" quando são mesmo necessários. “Percebo a ideia, mas ainda estão numa fase de tentativa e erro.”