“Melhor do que um homem da linha dura”: Pezeshkian venceu as eleições iranianas

A participação foi de cerca de 50% na segunda volta das eleições. Do boletim de voto constavam Pezeshkian e o ultraconservador Saeed Jalili, defensor do aprofundamento dos laços com a Rússia e a China

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Apenas cerca de 50% dos iranianos votaram na segunda volta das eleições Majid Asgaripour / VIA REUTERS
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O moderado Masud Pezeshkian, que se comprometeu a abrir o Irão ao mundo e a garantir as liberdades pelas quais o seu povo anseia, ganhou a segunda volta das eleições presidenciais, informou o Ministério do Interior iraniano este sábado, 6 de Julho. "Ao obter a maioria dos votos na sexta-feira, Pezeshkian tornou-se o próximo presidente do Irão", afirmou o ministério.

A participação foi de cerca de 50% numa corrida apertada entre Pezeshkian, o único moderado no campo original de quatro candidatos, e o antigo negociador nuclear ultraconservador Saeed Jalili, um firme defensor do aprofundamento dos laços com a Rússia e a China.

A segunda volta, realizada esta sexta-feira, 5, seguiu-se ao escrutínio de 28 de Junho com uma participação historicamente baixa: mais de 60% dos eleitores iranianos abstiveram-se na eleição antecipada para a sucessão de Ebrahim Raisi, que morreu na sequência de um acidente de helicóptero.

Vídeos nas redes sociais mostram apoiantes de Pezeshkian a dançar nas ruas de muitas cidades e vilas do país e condutores a buzinar para festejar a vitória. Na cidade de Urmia, no noroeste do país, a cidade natal de Pezeshkian, a população distribui doces nas ruas, relataram testemunhas.

Embora se espere que as eleições tenham pouco impacto nas políticas da República Islâmica, o Presidente estará estreitamente envolvido na escolha do sucessor do ayatollah Ali Khamenei, o líder supremo do Irão, de 85 anos, quem tem a palavra final em todas as questões de Estado.

A afluência às urnas diminuiu nos últimos quatro anos, o que, segundo os críticos, demonstra a erosão do apoio ao regime clerical, numa altura em que cresce o descontentamento da população face às dificuldades económicas e à limitação das liberdades políticas e sociais.

Apenas 48% dos eleitores participaram nas eleições de 2021, que levaram Raisi ao poder, e a taxa de participação foi de 41% nas eleições parlamentares de Março.

A eleição coincide com a escalada das tensões no Médio Oriente devido à guerra entre Israel e os aliados iranianos do Hamas, em Gaza, e o Hezbollah, no Líbano, bem como com o aumento da pressão ocidental sobre o Irão devido ao rápido avanço do seu programa de enriquecimento de urânio.

Não se espera que o próximo presidente produza qualquer mudança importante na política relativa ao programa nuclear ou no apoio aos grupos de milícias do Médio Oriente, mas é ele quem dirige o Governo diariamente e pode influenciar o rumo da política externa e interna do Irão.

Abstenção é um “grande 'não' à República Islâmica”

Um triunfo de Pezeshkian poderia promover uma política externa pragmática, aliviar as tensões sobre as negociações com as grandes potências, actualmente paralisadas, para reavivar o acordo nuclear de 2015, e melhorar as perspectivas de liberalização social e de pluralismo político, segundo os analistas.

No entanto, muitos eleitores mostram-se cépticos quanto à capacidade de Pezeshkian para cumprir as promessas de campanha, uma vez que o antigo ministro da Saúde declarou publicamente que não tinha qualquer intenção de confrontar a elite do poder iraniano, composta por clérigos e "falcões" da segurança.

"Não votei na semana passada, mas hoje votei em Pezeshkian. Sei que Pezeshkian vai ser um presidente fraco, mas ainda assim é melhor do que um homem da linha dura", disse Afarin, 37 anos, proprietária de um salão de beleza na cidade central de Isfahan.

Muitos iranianos têm recordações dolorosas da forma como foi gerida a agitação nacional desencadeada pela morte sob custódia da jovem curda iraniana Mahsa Amini, em 2022, abafada por uma violenta repressão estatal que envolveu detenções em massa e mesmo execuções.

"Não vou votar. É um grande 'não' à República Islâmica por causa da Mahsa (Amini). Quero um país livre, quero uma vida livre", disse a estudante universitária Sepideh, 19 anos, em Teerão.

"Vou votar em Jalili. Ele acredita nos valores islâmicos. Prometeu acabar com as nossas dificuldades económicas ", disse o funcionário aposentado Mahmoud Hamidzadegan, 64, na cidade de Sari, no norte do país.

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