Bíduo em Constância, a vila que se reivindica camoniana

“É uma terra linda, com pontos de beleza paisagística natural incomuns”, escreve a leitora Helena Pereira.

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Constância Beatriz Botelho
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Castelo de Almourol Beatriz Botelho
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Bíduo não é termo de Camões, mas precisa de explicação: "espaço de dois dias" é o que vem como significado num dicionário corrente. Ora, durante um bíduo de meados de Maio, a nossa vida estudantil, monótona, foi dinamizada com uma agradável ida a Constância, no distrito de Santarém (acrescentemos que o concelho de Constância confina com os de Abrantes, Vila Nova da Barquinha, Chamusca). Jovens da Secundária José Gomes Ferreira, localizada em Benfica, partiram para o Centro de Portugal sedentos de liberdade, à procura de novas aventuras e descobertas, a pretexto de cumprir um programa de actividades de exploração da natureza promovido pela Educação Física.

Constância, que assume ter sido poiso de Luís de Camões durante algum tempo (mas a biografia do nosso poeta cinco vezes centenário é tão incerta...), é uma terra linda, com pontos de beleza paisagística natural incomuns e, já agora, com uma casa-memória de Camões, um jardim-horto com as espécies botânicas referidas na obra camoniana, concebido por Gonçalo Ribeiro Telles, e o monumento ao poeta, de Lagoa Henriques.

Acabados de chegar, começámos por montar as nossas confortáveis propriedades, as tendas. Logo a seguir, deu-se início à nossa primeira actividade, marcada por um passeio, de canoa, pelos rios Zêzere e Tejo, cuja confluência é outra originalidade constanciense. As águas cristalinas dos dois rios ficaram por momentos manchadas com a competitividade e o desejo de vencer esta corrida. Parámos perto do Castelo de Almourol, apreciando toda a vista que estava diante de nós.

Quilómetros depois, já de regresso ao parque de campismo, a tarde foi preenchida com inactividade e sonolência. À medida que escurecia, não sucedeu como na Lisboa de Cesário Verde, como ouvimos nas aulas de Português, onde, segundo o poeta de O Sentimento dum Ocidental, ao anoitecer, soturnidade e melancolia despertam "um desejo absurdo de sofrer". Ao contrário, em Constância, com o aproximar da noite o ambiente de serenidade foi invadido por animação e euforia. O jantar foi um momento de camaradagem e união. Foi preciso criar alguns grupos para a actividade que estava por vir, uma exploração da vila e dos seus pontos mais estimados.

Formados os grupos, deu-se início à procura dos monumentos. O ar fresco da noite enchia-nos os pulmões de entusiasmo e bom humor. A vila é conhecida pelas casitas brancas, singelas e de telhados avermelhados. Passámos por vários monumentos, como a Torre do Relógio e a já referida estátua ao poeta aniversariante com quinhentos anos (Camões, que o monumento tem quarenta e poucos anos). Chegara o momento de regressar ao parque de campismo e de cada um se recolher na sua tenda. A noite foi desagradável e ruidosa, mas rapidamente desapareceu a escuridão.

O dia seguinte revelou-se frio e ventoso. Começou com um pequeno-almoço desordenado, seguindo-se não poucas actividades. A jornada ficou marcada por actividades de dinamismo de grupo, que careciam de um esforço conjunto. Momentos como estes servem para criar laços e memórias com os colegas, fora do ambiente escolar, e estreitar relações com os professores. Tratou-se de um dia que passou rápido. Infelizmente, aproximava-se a partida para Benfica, o que significava a preparação das bagagens.

Pouco apressados para deixar Constância, todos aproveitámos ao máximo os últimos momentos, absorvendo cada detalhe da paisagem. Finalmente, entrámos no autocarro para voltar para casa e, assim que abandonámos a vila, uma moleza instalou-se em todos, de alunos a professores. Ao chegarmos a Benfica, as saudades de Constância, que exibe uma beleza e biodiversidade espantosas, já eram evidentes.

Helena Pereira

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