“Bini” continua a colocar a Eritreia no mapa do ciclismo

Na etapa 8 da Volta a França, Bini Girmay voltou a vencer na prova e a dar mais um passo na afirmação da Eritreia e dos atletas negros no ciclismo.

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Biniam Girmay celebra no Tour Stephane Mahe / REUTERS
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Mais um sprint, mais uma tarde memorável para Biniam Girmay. O ciclista da Eritreia venceu a etapa 8 da Volta a França, erguendo os braços na meta pela segunda vez na prova. E não só mantém a camisola verde como aumenta bastante a vantagem para os rivais, depois de bater Jasper Philipsen e Arnaud De Lie na meta.

Girmay é o principal sprinter do pelotão? Nem por isso. É o primeiro nome que vem à cabeça quando se fala de puncheurs em pequenas elevações? Talvez também não seja. Mas é, em rigor, um ciclista que faz bem ambas as coisas. Nessa medida, o triunfo num final com uma pequena subida assenta bem ao eritreu, que continua a sua história tremenda no ciclismo mundial.

Nascido na Eritreia, este é um corredor que cresceu sem a força da tradição ou do berço de ouro do ciclismo. Além do papel na afirmação de um atleta negro nesta modalidade, sendo uma pedrada no charco, “Bini” continua a colocar no mapa do desporto um pobre país do Leste de África que praticamente só tem relevância nas corridas de fundo do atletismo – e mesmo aí sem valor de primeira água.

Jonas sozinho

A etapa deste sábado foi algo bizarra no plano táctico. Poucos esperavam que Jonas Abrahamsen, líder da classificação da montanha, se prestasse a “passear”, sozinho, a sua camisola às bolinhas.

É certo que começou por estar numa fuga com mais "compinchas", mas, quando ficou sozinho, o ciclista norueguês, sem se perceber bem porquê, decidiu levar as pintas vermelhas estrada fora, sem ajuda, com o único objectivo de somar uns pontinhos da montanha – e foram mesmo “pontinhos”, já que em muitos quilómetros de aventura a solo apenas lhe valeram mais quatro pontos.

O desenho da tirada, com várias pequenas elevações, prestava-se a vários tipos de cenário – uma fuga, um ataque tardio de um puncheur ou o plano mais provável de um sprint entre velocistas mais capazes na pequena e média montanha, já que os sprinters mais puros e mais pesados talvez não tivessem “peito” para os 3% do final. Era, portanto, um dia para as equipas dos sprinters não deixarem passar em branco.

E Abrahamsen, que chegou a rolar com mais de seis minutos de vantagem, acabou a ser apanhado a 15 quilómetros do final – e todos sabiam que isso iria acontecer.

No sprint final, Girmay foi muito sagaz a ler a corrida, esperou que outros colocassem o peito ao vento primeiro e arrancou no momento certo para bater Philipsen, conseguindo, em simultâneo, tapar a aceleração final a De Lie.

Para este domingo está agendada uma das etapas mais aguardadas do Tour – com potencial para ser a mais divertida. Em estilo clássica, a tirada vai ter vários percursos de gravilha e terra batida, algo que, conjugado com meteorologia adversa, poderá provocar espectáculo e problemas – espectáculo para quem vê, problemas para quem apenas queria um dia calmo em cima da bicicleta.

O potencial colectivo das equipas na protecção dos líderes vai ser posto em jogo e ciclistas como Pogacar e Evenepoel, fortes em clássicas poderão, neste domingo, ter predicados diferentes de outros voltistas como Vingegaard, Roglic, Ayuso ou Almeida.

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