Jogo viral em que só se clica numa banana chegou aos cinco mais jogados na Steam

Banana está disponível na Steam gratuitamente desde Abril e já teve mais de 900 mil jogadores activos. Bananas coleccionáveis no jogo chegam a ser vendidas por milhares de dólares.

Foto
Banana chegou a ter mais de 900 mil jogadores activos num dia DR
Ouça este artigo
00:00
04:43

Jogaria um videojogo que consiste simplesmente em clicar numa imagem de uma banana e, literalmente, mais nada? Se não, saiba que, actualmente, há mais de 300 mil jogadores que discordam.

Chama-se Banana e está na Steam desde Abril. “Banana é um jogo clicker, no qual se clica numa banana”, descreve a página do jogo. O objectivo é coleccionar as diferentes bananas que surgem, aleatoriamente, a cada três horas. Caso jogue durante uma hora, pode desbloquear, a cada 18 horas, bananas mais raras. Há bananas coloridas, de ouro, diamante, com padrões, com imagens do Christian Bale e por aí em diante.

Banana ​já atingiu o top 3 na tabela dos cem videojogos com mais jogadores activos na Steam. Esta quinta-feira, chegaram a estar activos 313.806 jogadores ao mesmo tempo. Um valor, ainda assim, muito inferior ao pico atingido a 20 de Junho, 917.272 pessoas. À frente surgiam, a 4 de Julho, apenas o Counter-Strike 2, PUBG: Battlegrounds e o Dota 2. Todos jogos mais, digamos, a sério.

Aqueles que o experimentaram, aclamam-no. Em 31.789 críticas na página do jogo na Steam, 84% (26.990) são positivas. Na caixa de comentários, porém, raramente os textos falam sobre a qualidade do jogo em si. Um utilizador descreve, num dos comentários, os benefícios da banana na depressão, pressão sanguínea, sistema nervoso, mordidas de mosquito, entre outros. Um outro diz que vai “comer um copo de plástico” sempre que alguém colocar um like no seu comentário. Para um terceiro, o impacto do videojogo foi mais profundo, afirmando que “cada clique numa banana virtual se tornou um adiamento do caos da realidade”. “De certa forma, Banana salvou-me”, continua.

Por trás do sucesso está uma fiel comunidade no Discord, actualmente com mais de 30 mil membros, que tem um papel participativo no jogo. “Todas as nossas bananas são feitas com o esforço e a inspiração da comunidade”, lê-se na descrição do jogo. Os jogadores podem submeter designs para bananas que poderão, posteriormente, ser incluídos no jogo.

Algumas pessoas investem tanto no jogo que chegam a utilizar bots ("robôs") para conseguir coleccionar bananas mais raras de forma mais eficaz. “Infelizmente estamos a enfrentar, actualmente, alguns problemas com os bots”, disse um membro da equipa de criadores à Polygon, que especificou que há pessoas a usar até mil contas alternativas.

Porquê?

Banana é praticamente uma cópia de Egg, jogo lançado há uns meses, que consiste no mesmo, só que com um ovo. Apesar de numa escala menor, o jogo também conta com quase oito mil críticas positivas. À Polygon, um dos membros da equipa de Banana confirmou que este é “basicamente um jogo estúpido, uma cópia de Egg, mas muito pior”.

Banana, Egg e outros jogos clicker inserem-se numa maior categoria de videojogos, os idle, que em português podemos chamar de inertes. Exigem muito pouco investimento de tempo e esforço por parte de jogadores. "Muita gente diz: 'Porque é que estou a jogar a um jogo que me obriga a clicar infinitas vezes e aquilo que acontece é ver números a aumentarem?'", refere Ricardo Correia, editor-chefe da página de videojogos Rubber Chicken. "O incremento de números é altamente apelativo aos seres humanos."

No caso particular de Banana, o sucesso advém de uma conjugação de factores. Há quem venda as suas bananas em troca de dinheiro na Steam. A maioria por alguns cêntimos, mas há exemplares que já foram compradas por mais de mil dólares, como foi o caso da Crypticnana, a 20 de Junho. "Como se está a criar muito burburinho à volta do jogo, as pessoas disparam números e há quem compre na expectativa que essas skins [as várias versões das bananas] valorizem".

"Provavelmente muitas pessoas começaram a achar piada jogar a um jogo que não tem qualquer apelo visual. Provavelmente começou como uma piada", equaciona Ricardo Correia, que sublinha que Banana se destaca por "uma abordagem muito, muito absurda, até para um género que muita gente já acha que é um bocadinho absurdo". Não obstante, tratar-se-á de "uma jogada de génio dos próprios developers".

"O developer fez uma máquina de fazer dinheiro: até as próprias produções são da comunidade e é a comunidade que ajuda a vender [as bananas coleccionáveis]", acrescenta o especialista em videojogos.

Já houve quem questionasse se Banana não seria parte de uma burla, depois de se descobrir, segundo a Eurogamer, que um dos developers do jogo tinha estado envolvido num esquema de bitcoins no mercado da Steam. No entanto, a equipa responsável pelo jogo negou as acusações e admitiu ter-se separado do colaborador uns tempos mais tarde.

Sugerir correcção
Comentar