Stoltenberg desvaloriza visita de Orbán a Moscovo e promete “apoio substantivo” da NATO à Ucrânia
Secretário-geral da NATO antecipa agenda da cimeira de Washington, onde aliados aprovarão várias iniciativas que “constituem uma ponte para a adesão” da Ucrânia no futuro.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltemberg, espera que os chefes de Estado e governo da aliança atlântica aprovem um “pacote substantivo” de assistência de segurança à Ucrânia, que inclui “mais apoio militar imediato”, um novo comando responsável pela coordenação da ajuda e do treino, e um compromisso financeiro que deverá ascender aos 40 mil milhões de euros por ano, durante a cimeira de Washington, na próxima semana.
Mas há um que já disse que não aprova: o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, que aterrou esta sexta-feira em Moscovo, para um encontro com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin. Na véspera da cimeira de Washington, Jens Stoltenberg desvalorizou a “iniciativa pessoal” do líder húngaro – uma “missão de paz” que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, não hesitou em descrever como “apaziguamento” – e recusou que pusesse em causa a unidade dos aliados no apoio à Ucrânia.
“É verdade que a Hungria já disse claramente que não quer apoiar os compromissos da NATO em relação à Ucrânia, e por isso não participará no novo comando e na assistência de segurança e treino, nem contribuirá financeiramente para o apoio militar. Mas a boa notícia é que a Hungria não vai bloquear os esforços da NATO na continuação da ajuda à Ucrânia”, afirmou Stoltenberg, numa conferência de imprensa no quartel-general da aliança, em Bruxelas, onde apresentou o caderno de encargos da cimeira e a agenda de trabalho dos líderes da NATO na próxima semana.
“A nossa tarefa mais urgente é o apoio à Ucrânia, para que se possa defender da guerra que está em curso e para que possa dissuadir a Rússia de uma nova agressão. Em Washington vamos tomar decisões decisivas [sic] para garantir que a Ucrânia prevalece”, garantiu o secretário-geral da NATO, vincando que “todo o trabalho que está a ser feito vai no sentido de tornar a Ucrânia mais forte e mais bem preparada para se juntar à aliança” no futuro.
Além do novo comando sedeado em Wiesbaden, na Alemanha, para dirigir a coordenação e distribuição da maior parte da assistência internacional em matéria de segurança e treino, a aliança pretende criar um novo Centro Conjunto de Análise, Formação e Educação NATO-Ucrânia, “para trabalhar de forma mais estreita com as Forças Armadas ucranianas” e aprofundar a cooperação no domínio industrial. O centro será instalado na Polónia, que também vai ter uma nova base para a defesa contra mísseis balísticos.
“Todos os elementos que estamos a considerar – um comando da NATO, mais financiamento e apoio militar, mais interoperabilidade e mais acordos de segurança – configuram um pacote muito forte para a Ucrânia e constituem uma ponte para a adesão à NATO”, explicou Stoltenberg.
Esse é o objectivo do Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e de todos os aliados – entre os quais a Hungria, assinalou o secretário-geral, lembrando que o Governo de Budapeste apoiou todas as declarações da NATO a condenar a agressão da Rússia e defender o respeito pela independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia, e a confirmar a “irreversibilidade” do processo de adesão do país.
Os aliados não tencionam avançar um convite formal para a entrada do país na NATO, durante a cimeira de Washington, mas não deixarão de enviar sinais inequívocos de que “a Ucrânia está a aproximar-se cada vez mais”, garantiu Stoltenberg.
Além da Ucrânia, que será o foco das atenções dos líderes da NATO, o secretário-geral apontou para a importância das discussões em torno do reforço da postura de dissuasão e defesa da aliança, e ainda da importância das parcerias globais, que são cada vez mais relevantes. “Quanto mais os actores autoritários se alinham, mais importante é trabalhar com os nossos parceiros, por exemplo no Ásia-Pacífico”, justificou.
“O que se passa na Ucrânia mostra como a nossa segurança está interligada. Não é uma questão regional, é global”, notou Stoltenberg referindo-se ao envolvimento do Irão e da Coreia do Norte na guerra que decorre na Europa, pela via do abastecimento militar à Rússia, e também do papel que a China está a desempenhar, ao fornecer componentes electrónicos e outros bens de duplo uso (civil e militar) a Moscovo.
Ao contrário da Rússia, os membros da NATO não vão entrar em modo de economia de guerra, mas na cimeira de Washington deverão aprovar um compromisso para reforçar a cooperação industrial transatlântica no domínio da defesa, para promover a procura no mercado e aumentar a capacidade de produção.