Mulher de Sánchez já foi a tribunal, mas ainda não sabe bem do que é acusada

Partido Popular sugere que o presidente do Governo só se quis manter no poder para proteger a sua família da justiça.

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O interrogatório de Begoña Sánchez ficou marcado para 19 de Julho FLAVIO LO SCALZO / REUTERS
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Begoña Sánchez está a ser investigada por alegados crimes de tráfico de influências e de corrupção empresarial, mas o caso contra a mulher do chefe do Governo socialista espanhol já deu tantas voltas que o juiz que a tinha chamado a depor suspendeu esta sexta-feira o interrogatório, admitindo que ela possa não saber exactamente do que é acusada. O Governo de Pedro Sánchez reagiu com indignação, enquanto o Partido Popular aproveitou para subir ainda mais o tom dos ataques.

No fim de Maio, o Tribunal Superior de Madrid decidiu avançar com a investigação, rejeitando o pedido de arquivamento do Ministério Público, mas também limitou muito o âmbito da investigação, aberta na sequência de uma queixa da organização Mãos Limpas, ligada à direita radical – à qual, entretanto, se associaram o partido extremista Vox, o Movimento de Regeneração Política de Espanha e o Partido Justiça Europa.

Entretanto, o juiz Juan Carlos Peinado, do 41.º Tribunal de Instrução da capital, aceitou incorporar na queixa inicial uma outra apresentada pela organização ultracatólica Hazte Oír, sem que a arguida tenha sido notificada disso.

A justiça decidiu continuar a investigar as ajudas governamentais recebidas por empresas ligadas ao empresário Carlos Barrabés, que organizou o mestrado que Begoña Sánchez co-dirige na Universidade Complutense de Madrid, sobre Transformação Social Competitiva, e foi professor numa das cadeiras. Ao mesmo tempo, o tribunal retirou do processo alegados factos que considerou "implausíveis", como o seu envolvimento no resgate da Air Europa, companhia pertencente ao grupo Globalia.

Depois de Begoña Sánchez ter saído do tribunal, Juan Goyache, o reitor da Complutense, foi ouvido como testemunha e negou a existência de quaisquer irregularidades no mestrado. Segundo os advogados de três das entidades que promovem a acusação, Goyache contou que a secretária de Begoña Gómez lhe telefonou uma vez, pedindo-lhe que fosse falar com ela sobre o mestrado ao Palácio da Moncloa (sede da presidência do Governo), o que os próprios consideram "surpreendente", mas admitem não se tratar de nada "criminoso", escreve o jornal El País.

Quanto a Begoña Sánchez, os 45 minutos serviram apenas para que lhe fossem lidos os seus direitos e para que ficasse esclarecido que não tinha sido formalmente notificada sobre a queixa do movimento Hazte Oír. A arguida, segundo descreve a imprensa espanhola, afirmou que desconhecia os factos exactos da investigação e foi marcado um novo depoimento para dia 19 de Julho.

A porta-voz do Governo, Pilar Alegría, sublinhou que "é absolutamente incompreensível que uma falsa acusação tenha ido tão longe e que tenha sido levada a cabo pelas duas organizações mais extremistas e obscuras que existem actualmente". Foi a abertura desta investigação que levou Sánchez a admitir abandonar a chefia do Governo, no final de Abril, denunciando um “ataque grave e grosseiro” contra a sua família, no contexto “do lamaçal em que a direita e a extrema-direita tentam transformar a política”.

O secretário-geral da organização Mãos Limpas (um pseudo-sindicato sem associados), Miguel Bernad (que foi secretário-geral do partido de extrema-direita Frente Nacional), admite que a denúncia contra Begoña Gómez pode ter por base informações falsas.

Mas a oposição continua a fazer deste caso um dos eixos da sua estratégia contra Sánchez. “Se a minha mulher estivesse no banco dos réus por corrupção, eu ter-me-ia demitido”, assegurou, a semana passada, o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo.

Esta sexta-feira, o porta-voz do grupo parlamentar do partido, Miguel Tellado, foi um pouco mais longe, acusando Sánchez de se ter mantido no poder para proteger a mulher. “Ele queria ser presidente a todo o custo e agora achamos que sabemos porquê”, disse. “Precisava de todos os recursos do Estado à sua disposição para proteger o seu Governo e a sua família da justiça.”

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