Autárquicas: entre Bloco e Livre, a “vontade de convergência é a mesma”
Mariana Mortágua inclui o PS na frente de esquerda que quer criar contra Carlos Moedas em Lisboa, mas avisa que vai depender do programa que puder ser consensualizado.
O Bloco de Esquerda (BE) e o Livre reuniram-se esta quinta-feira e garantem que a "vontade de convergência é a mesma", para as eleições autárquicas de 2025, tendo Mariana Mortágua admitido que a esquerda deve "criar movimentos" para "derrotar a política de [Carlos] Moedas" em Lisboa. Mas, embora inclua o PS na equação, a líder dos bloquistas avisa que é preciso discutir "programas".
Após um encontro de uma hora, Isabel Mendes Lopes, líder parlamentar do Livre, destacou a "necessidade de os partidos ecologistas e progressistas conversarem, convergirem, apresentarem alternativas a uma governação de direita a nível nacional, como em muitos locais do país". E assegurou que, entre o Bloco e o Livre, "a vontade de convergência é a mesma para encontrar soluções". "É nisso que vamos continuar a trabalhar, sendo que há essa vontade para os próximos actos eleitorais, nomeadamente, as eleições autárquicas", admitiu.
Mendes Lopes abre, assim, caminho à possibilidade de a esquerda formar uma pré-coligação eleitoral em Lisboa. Mas depois de ter defendido uma “mega-coligação” na capital, em entrevista à Rádio Renascença, agora não vai tão longe, argumentando que a criação de coligações “é algo que temos de discutir”. “O que é importante é haver convergência programática e apresentação de ideias de futuro para cada local. A forma como podemos criar essa alternativa é algo a discutir”. Por enquanto, ainda não há outra reunião agendada com os bloquistas, mas a líder da bancada do Livre salienta que a “convergência e o diálogo vão-se fazendo diariamente”.
Já Mariana Mortágua, líder do BE, assume que as "possibilidades de convergência são muito importantes em sítios onde a direita governa", sendo Lisboa "um bom exemplo de como é importante que a esquerda possa dialogar para criar movimentos maiores do que os partidos, que possa derrotar a política de Moedas". A bloquista defende que este diálogo deve acontecer "um pouco por todo o país", embora sinalize que "depende de cada circunstância", mas assume que, "em Lisboa, há uma reflexão mais adiantada a este respeito, uma governação de Carlos Moedas e uma experiência passada de convergência à esquerda".
O Bloco inclui o PS nesta equação, argumentando que "é importante que essa possibilidade de diálogo exista" — ao contrário do que fez o PCP, que já recusou qualquer entendimento com os socialistas —, e que "quando há governações de direita tão fortes, uma necessidade tão grande de encontrar alternativas e um passado de convergência bem-sucedida, há a possibilidade para que o diálogo seja mais abrangente". Mas avisa que "depende de programas", que se foquem na mobilidade, na habitação, no acolhimento de migrantes ou na situação dos sem-abrigo, de maneira a que o "discurso" não seja "vazio".
Questionada pelo PÚBLICO sobre se a abertura para o diálogo com o PS pode ser afectada se os socialistas viabilizarem o Orçamento do Estado para 2025, como Pedro Nuno Santos admitiu esta quarta-feira, Mortágua aponta que as autárquicas e as legislativas "são eleições separadas", retirando a importância de, "em situações excepcionais", como a de Lisboa, haver "convergências reais".
A reunião entre as duas forças políticas surge depois de o Bloco ter pedido reuniões à esquerda após as legislativas e no seguimento de um pedido do Livre ao PS, BE, PCP e PAN para debater as eleições europeias e as autárquicas. Também o BE anunciou que vai realizar uma conferência nacional, no último trimestre do ano, para, entre outros temas, "discutir a política de alianças do BE nas eleições autárquicas".