Naufrágio ao largo da Marinha Grande: sobreviventes resgatados por pescadores

Os pescadores a bordo do Virgem Dolorosa, dois indonésios e 15 portugueses, quase todos residentes no concelho da Figueira da Foz, estariam habituados às condições do mar.

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As buscas pelos três desaparecidos continuarão nos próximos dois a três dias com o auxílio de mergulhadores da Polícia Marítima CARLOS BARROSO / LUSA
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Agentes da Polícia Marítima participam nos trabalhos de resgate da embarcação de pesca que virou CARLOS BARROSO / LUSA
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Um helicóptero AW119 KOALA da Força Aérea Portuguesa participa nos trabalhos de resgate da embarcação,Um helicóptero AW119 KOALA da Força Aérea Portuguesa participa nos trabalhos de resgate da embarcação CARLOS BARROSO / LUSA,CARLOS BARROSO / LUSA
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As nuvens que ainda se avistavam na Figueira da Foz ao início da manhã já se dispersaram, mas não eram suficientes para condicionar os trabalhos de pesca que a traineira Virgem Dolorosa estaria a executar à hora em que se registou o acidente que resultou na morte de três pescadores, asseguram os trabalhadores concentrados junto ao porto da cidade.

Os pescadores a bordo da embarcação, dois indonésios e 15 portugueses, quase todos residentes no concelho da Figueira da Foz, estariam todos habituados às condições deste mar. Uns mais do que outros: alguns tinham pouco mais de 20 anos, outros estavam na casa dos 60.

Uma primeira inspecção não encontrou sinais de pessoas no interior da embarcação, que tem redes de pesca à volta. Os mergulhadores não começaram ainda a trabalhar nas buscas porque a ondulação não o permite — mas, durante a madrugada, não havia condições oceanográficas suficientemente adversas para justificar que o barco se tenha virado, revelou o comandante José Luís Sousa, porta-voz da Autoridade Marítima Nacional (AMN).

Entretanto, a AMN tomou nota dos relatos dos cidadãos que dizem ter avistado um corpo no mar e está em contacto com a capitania do porto da Nazaré para apurar que seguimento foi dado à ocorrência, admitindo que se possa tratar de um falso alarme.

A tese do cansaço, por já passar das 4h30 quando a embarcação se virou, também não convence. Apesar das altas horas, estes pescadores tinham saído do porto da Figueira da Foz para renderem a equipa que tinha estado a trabalhar até à meia-noite.

O facto de o barco se ter virado tão próximo da costa não antecipava problemas dessa natureza: tudo estaria a seguir o rumo habitual de uma noite de pesca. De acordo com o comandante Cervaens da Costa, da capitania do porto da Figueira da Foz, esta embarcação dedicava-se precisamente à pesca costeira e nem sequer estaria sozinha: a cultura da região dita que os barcos se concentrem numa área larga, mesmo trabalhando individualmente, para se estar atento ao sucesso da pesca da concorrência, mas também por motivos de segurança.

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Populares observam os trabalhos de resgate da embarcação de pesca que virou ao largo das praias de São Pedro do Moel e de Vieira de Leiria Carlos Barroso/Lusa

Foi graças a essa parceria que o barco virado foi tão rapidamente identificado e imediatamente prestados os primeiros socorros. Quatro dos barcos naquela área aperceberam-se da falta de uma embarcação e convergiram para o ponto onde a tinham avistado pela última vez. Foi assim que a maioria dos sobreviventes foi resgatada.

As autoridades marítimas ainda não sabem o que estará na origem deste acidente. É possível que uma onda tenha provocado o desequilíbrio da embarcação ou que, com muitos quilos de peixe a bordo, o peso se tenha concentrado só num lado da mesma, fazendo com que esta virasse.

Segundo Cervaens da Costa, as operações de busca estão agora ao cuidado da Polícia Marítima da Nazaré, que trabalhará também com o Ministério Público no inquérito que se abrirá para apurar as circunstâncias do acidente.

As buscas pelos três desaparecidos continuarão nos próximos dois a três dias com o auxílio de mergulhadores da Polícia Marítima, que, durante as operações, recolherá também indícios para apurar a origem do acidente. As autoridades estão agora a estudar as correntes e os ventos para perceber para que lado se podem ter encaminhado os desaparecidos. Neste momento, estima-se que a deriva os possa ter levado mais para sul da costa da Marinha Grande — e é nessa direcção que os meios se vão concentrar.

Questionado sobre a probabilidade de encontrar os três desaparecidos com vida, o comandante do porto da Capitania admite que as possibilidades encolhem à medida que o tempo passa. Mas recorda que, em Dezembro de 2022, foi possível resgatar com vida um pescador que tinha caído ao mar e sobrevivido longas horas à deriva, agarrado a uma bóia de salvamento. A Figueira da Foz espera agora por um desfecho semelhante.

Muitas teorias, nenhuma explicação

Não há outro assunto no mercado da Figueira da Foz esta manhã. Entre uma banca e outra de peixe fresco, trazido durante a noite por algumas das embarcações que saíram para o mar ao mesmo tempo que o Virgem Dolorosa, os habitantes da cidade tecem teorias sobre o que terá acontecido ao largo da Marinha Grande.

Segundo um dos habitantes, que conheceria alguns dos náufragos, os trabalhadores teriam acabado de recolher o peixe quando o barco se virou. Já teriam pouco combustível, mas isso não seria problema porque já tinham pescado 80 cabazes de peixe e não tardariam a regressar a terra firme. O problema pode ter sido um de dois, adivinha outro habitante em conversa com um outro cliente: ou o barco se virou na última puxada de redes ou talvez não tenha suportado todo o peixe que já estava a bordo.

Nas praias da Figueira da Foz, não há sinais da consternação que se abateu sobre a comunidade de pescadores que vive deste mar: o areal está ocupado sobretudo por turistas que se servem do calor que aperta com a aproximação ao meio-dia.

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