Investidores em criptomoeda são mais propensos a acreditar em teorias da conspiração

Estudo reporta ainda que é mais provável que apoiem grupos extremistas, tenham sentimentos populistas e “traços de personalidade obscuros”.

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Investidores em criptomoedas são maioritariamente homens Kayle Kaupanger/Unsplash
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Quem investe em criptomoedas pode ter “diversas características não normativas e desajustadas”, de acordo com as conclusões do estudo The political, psychological and social correlates of cryptocurrency ownership, publicado na revista Plos One.

Os resultados mostram que estes indivíduos, maioritariamente homens, têm maior propensão para mostrar traços de personalidade que se inserem na “tríade obscura” (narcisismo, maquiavelismo e psicopatia), acreditar em teorias da conspiração, apoiar grupos extremistas e ter sentimentos populistas.

Estudos anteriores já diziam que os investidores em cripto possuíam um perfil “não normativo e politicamente não convencional”, mas os investigadores da Universidade de Toronto, no Canadá, e da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, quiseram comprová-los. Por isso, perguntaram a 2001 adultos americanos se já tinham investido em criptomoedas. E 30% responderam que sim.

Numa segunda fase, os participantes foram convidados a partilhar alguma informação demográfica, mas também relacionada com opções políticas, traços psicológicos e sociais. Por exemplo, foi-lhes apresentada uma lista com 21 teorias da conspiração e pedido que indicassem se concordavam ou discordavam delas.

Os inquiridos tiveram também que se auto-avaliar em relação à sua posição política (Democrata ou Republicano), ideologia (muito liberal ou muito conservador), mas também orientações políticas fora da dualidade esquerda/direita, como o populismo, o nacionalismo cristão, entre outras. Foram também incluídas questões sobre a confiança no governo, na polícia e nas pessoas.

A partir das informações facultadas, criou-se o seguinte perfil: os investidores em criptomoedas identificam-se como homens, têm um salário relativamente alto, “sentem-se vítimas de uma vida que percepcionam como injusta”, e consomem notícias sobre “política, temas sociais e actualidade” em sites e plataformas como o Telegram, YouTube, Reddit, Twitter ou blogs — e não em meios de comunicação tradicionais.

O estudo reporta ainda que estas pessoas têm orientações políticas diversas e com mistura de crenças de direita e esquerda, o que torna difícil a sua categorização.

Para descobrir traços de personalidade e psicológicos, os autores do estudo convidaram os participantes a fazerem uma auto-avaliação no que toca a medidas como narcisismo, maquiavelismo, psicopatia, sadismo, necessidade de caos, entre outros. Concluíram, a partir desta avaliação, que investir em criptomoedas está positivamente associado a “características de personalidade obscuras”, ainda que considerem necessários mais estudos nesta área, especialmente por resultar de uma auto-avaliação.

“Ainda que os nossos resultados não se apliquem, certamente, a todos os utilizadores de criptomoedas, descobrimos que o investimento em cripto tende a ser mais apelativo para pessoas que são mais contestatárias, antiautoritarismo e que preferem consumir informação em meios menos tradicionais”, referem os autores do estudo, Shane Littrell, Casey Klodstad e Joseph E. Uscinski, citados em comunicado.

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