Fórum do BCE em Sintra reforça ideia de que novos cortes de juros vêm a caminho
Economistas e responsáveis dos bancos centrais presentes no Fórum do BCE desta semana em Sintra concordaram que os próximos meses serão de descida da inflação e dos juros, mas com moderação.
Ao fim de dois dias de debates académicos e de discussões sobre política monetária, o Banco Central Europeu (BCE) saiu da décima primeira edição do fórum que anualmente realiza em Sintra ainda mais convencido do que já estava de que os próximos meses serão de continuação da descida das taxas de juro, mas feita de forma moderada e sempre com atenção ao risco de aparecimento de novos choques geopolíticos, que podem baralhar as contas relativamente à inflação.
Nos mercados, a expectativa neste momento é, como mostra o mais recente inquérito realizado pela Reuters a analistas, a de que o BCE, depois de ter passado a principal taxa de juro de referência de 4% para 3,75%, irá realizar até ao final do ano mais um ou dois cortes de 0,25 pontos percentuais, começando em Setembro e colocando este indicador em Dezembro apenas ligeiramente acima dos 3%. Até ao final de 2025, o que se espera é, em média, um corte ligeiramente acima de um ponto percentual.
A mensagem passada por alguns dos estudos apresentados na conferência dos dois últimos dias é que esta expectativa de descida dos juros na zona euro está em linha com aquilo que seria de esperar tendo em conta a evolução recente dos indicadores económicos.
Na terça-feira, dois economistas já tinham assinalado que o caminho que falta à taxa de inflação na zona euro fazer, até chegar à meta de 2% definida pelo BCE (actualmente está em 2,5%), “não parece particularmente arriscado e difícil”, o que permite ao banco central continuar nos próximos meses a realizar cortes nas taxas de juro.
E esta quarta-feira foi a vez do presidente da Reserva de Nova Iorque, John Williams, apresentar os resultados da sua investigação sobre o nível da taxa de juro de equilíbrio – aquela que é a adequada quando a economia cresce ao seu nível potencial e a inflação permanece controlada –, defendendo que esta se mantém, tanto nos EUA como na zona euro, a níveis próximos dos registados em 2019, antes da pandemia.
Este resultado parece lançar dúvidas sobre a ideia dominante de que a era das taxas de juro muito baixas, que se viveu antes do recente surto inflacionista, já não irá regressar.
À margem das apresentações, alguns dos participantes da conferência também mostraram estar à espera de novas descidas das taxas de juro pelo BCE nos próximos meses.
Em entrevista ao PÚBLICO, Alfred Kammer, director do departamento da Europa do Fundo Monetário Internacional (FMI), disse recomendar ao BCE que, mantendo-se a actual conjuntura, “continue com cortes nas taxas de juro”, colocando a taxa de juro de referência próximo dos 2,5% até o final do terceiro trimestre de 2025, o nível que considera ser o de uma “postura neutral” da política monetária.
À Reuters, dois dos membros do conselho de governadores do BCE mais conservadores, o irlandês e o esloveno, parecem também estar conformados com o cenário de descida de taxas.
Gabriel Makhlouf disse sentir-se “confortável com as expectativas de um novo corte”, embora afirmando que antever já dois cortes até ao final do ano “pode ser ir longe de mais”. Já Bostjan Vasle afirmou que, “se os indicadores económicos estiverem dentro do nosso cenário-base”, as expectativas de corte de juros dos mercados estão em linha com as suas. No entanto, o governador esloveno fez questão também de dizer: “Não há motivo para nos apressarmos.”
Tal como os outros participantes do fórum que esta semana decorreu em Portugal, deverá ter ouvido a professora do MIT Kristin Forbes a dizer, com base nos dados históricos que recolheu de evolução da política monetária desde 1980, que “a recalibração das taxas de juro nos próximos meses deve ser feita de forma cautelosa e gradual” e que um dos motivos para isso está no facto de “as decisões de política monetária terem passado a ser, cada vez mais, influenciadas por choques globais”, uma das ideias fortes que Christine Lagarde e os outros responsáveis do banco central levam de Sintra.