O furacão Beryl seguiu em direcção à Jamaica na forma de uma poderosa tempestade, de categoria quatro, na quarta-feira, depois de ter arrasado casas e devastado campos agrícolas nas ilhas mais pequenas no leste das Caraíbas, matando pelo menos três pessoas.
Por volta das 7h (hora de Lisboa), o furacão encontrava-se a cerca de 400 quilómetros a leste de Kingston, a capital da Jamaica, segundo o Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC), com ventos máximos sustentados 230 quilómetros por hora (km/h).
“Espera-se que o furacão Beryl traga ventos com risco de vida e tempestades para a Jamaica na quarta-feira e para as Ilhas Caimão na quarta à noite e na quinta-feira”, disse o NHC num comunicado. Um aviso de furacão está em vigor nos dois locais.
Na capital do Haiti, Porto Príncipe, ventos fortes apanharam os moradores de surpresa na tarde de terça-feira. A península do sudoeste do país pode receber de 10 a 20 centímetros de chuva, disse o NHC. O novo primeiro-ministro haitiano, Garry Conille, advertiu os moradores para que tomassem precauções e ficassem alertas.
O furacão invulgarmente precoce, cujo rápido fortalecimento, segundo os cientistas, foi provavelmente alimentado pela crise climática, deverá continuar a ser um furacão quando passar perto da Jamaica e das Ilhas Caimão no final desta semana.
Beryl, o primeiro furacão da temporada atlântica de 2024 e a primeira tempestade registada a atingir a categoria mais elevada da escala Saffir-Simpson, derrubou linhas eléctricas e desencadeou inundações repentinas nas ilhas mais pequenas.
De acordo com o primeiro-ministro Ralph Gonsalves, a tempestade atingiu o arquipélago de São Vicente e Granadinas com especial intensidade.
“O furacão chegou e partiu, deixando para trás uma destruição imensa”, afirmou. Numa ilha do arquipélago das Granadinas, Union Island, 90% das casas foram “severamente danificadas ou destruídas”, disse Ralph Gonsalves.
O primeiro-ministro confirmou uma morte e disse que mais vítimas fatais poderiam ser confirmadas nos próximos dias.
Situação de “tipo Armagedão”
Numa conferência de imprensa em vídeo, na terça-feira, o primeiro-ministro de Granada, Dickon Mitchell, sublinhou que Carriacou e Petite Martinique, duas das três ilhas que constituem o país, foram as mais afectadas pela catástrofe, qualificando a situação de “tipo Armagedão”.
“Não há electricidade. Há uma destruição quase total de casas e edifícios”, disse ele, citando estradas intransitáveis devido a linhas eléctricas derrubadas e estações de combustível destruídas que prejudicam o abastecimento.
Mitchell disse que, até à data, pelo menos duas mortes foram atribuídas ao impacto do furacão Beryl.
Árvores caídas e detritos espalhados pelas ruas após a tempestade, que Mitchell disse ter destruído totalmente os mangais de Carriacou, deixando “literalmente nenhuma vegetação” e destruindo a agricultura da ilha.
O centro de furacões dos Estados Unidos, com sede em Miami, estima que o enorme sistema meteorológico está a deslocar-se para oeste-noroeste a uma velocidade de 35 quilómetros por hora.
Em Fort-de-France, na ilha caribenha francesa da Martinica, a norte de São Vicente, um vídeo partilhado nas redes sociais mostrava ruas inundadas e habitantes locais a tentarem remover os destroços.
Para além da costa sul do Haiti, o NHC declarou também um alerta de furacão para a península mexicana de Yucatan, onde se situam as estâncias balneares populares entre os turistas.
Antes da aproximação da tempestade, prevista para a noite de quinta-feira, o Ministério da Defesa do México informou que o exército, a força aérea e a guarda nacional tinham activado os protocolos de resposta a emergências nos três estados de Yucatán, com 120 abrigos abertos e cerca de 4900 militares de guarda na península.
Segundo os cientistas, a antecipação invulgar e a rápida intensificação da tempestade devem-se, em parte, ao aumento da temperatura dos oceanos.
As alterações climáticas contribuíram provavelmente para a formação precoce do Beryl e para a rapidez com que se intensificou, de acordo com os cientistas inquiridos pela Reuters, o que pode constituir uma previsão inquietante de tempestades futuras.
O aquecimento global ajudou a elevar as temperaturas do Atlântico Norte a níveis recorde, disse Christopher Rozoff, cientista atmosférico do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica, sediado nos EUA. As águas mais quentes provocam mais evaporação, o que alimenta furacões mais intensos, com ventos mais fortes, disse ele.
Beryl saltou de uma tempestade de categoria um para uma tempestade de categoria quatro em menos de 10 horas, de acordo com Andra Garner, meteorologista da Universidade de Rowan. Esta foi a intensificação mais rápida jamais registada antes de Setembro, o pico da época dos furacões no Atlântico, disse.