Cientistas criam método químico para separar fibras de resíduos têxteis

Novo método químico promete ultrapassar um dos principais obstáculos à reciclagem de têxteis mistos, podendo ser aplicado aos resíduos de “fast fashion”. Descoberta é descrita na Science Advances.

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Resíduos têxteis mistos triturados, com composições desconhecidas, antes e depois do tratamento descrito num artigo da revista Science Advances Erha Andini/DR
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Um novo processo químico promete desagregar rapidamente fibras mistas, resolvendo assim um velho problema da reciclagem de tecidos: a separação de componentes como o poliéster, o nylon, o algodão e o spandex em têxteis de composição mista. Esta abordagem é descrita num estudo publicado esta quarta-feira na revista científica Science Advances.

“Apresentamos um método novo e eficiente para reciclar resíduos têxteis mistos do mundo real. Este é um passo significativo para reduzir a enorme quantidade de resíduos têxteis em aterros ou incinerados. A decomposição rápida das fibras sintéticas, preservando as fibras naturais, pode ajudar a criar uma indústria têxtil mais sustentável e circular, onde as roupas velhas podem ser recicladas em materiais novos e de alta qualidade”, explica ao PÚBLICO o co-autor Dionisios Vlachos, professor de engenharia química da Universidade de Delaware, nos Estados Unidos.

Cerca de 113 milhões de toneladas de fibras têxteis foram produzidas em 2021, sendo que se estima este valor anual suba para 149 milhões até 2030, considerando o aumento do consumo e o ciclo de vida mais curto dos produtos têxteis. Este encurtamento deve-se, em parte, àquilo que se denomina “fast fashion” (moda rápida, numa tradução livre): um sistema galopante de produção, consumo e descarte impulsionado por mudanças sucessivas de tendências no sector do vestuário.

Como consequência, 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis são produzidos na Terra todos os anos. A maior parte desse total (73%) é despejada em aterros sanitários ou incinerada. Uma pequena fatia (14%) perde-se durante o processo de produção têxtil ou recolha de resíduos. Menos de 1% é reciclado.

“Os principais desafios de lidar com resíduos têxteis mistos devem-se à complexidade e diversidade dos materiais envolvidos. Os têxteis mistos incluem frequentemente uma variedade de fibras (por exemplo, poliéster, algodão, nylon, spandex) e são geralmente tratados com corantes, acabamentos e aditivos, tornando os processos de reciclagem mais complicados. A reciclagem mecânica, que é o método mais comummente utilizado, não consegue lidar eficazmente com têxteis multifibras, aditivos ou corantes, levando a uma degradação da qualidade e do valor das fibras”, refere Dionisios Vlachos.

Os cientistas procuraram criar uma forma eficiente de reciclar resíduos têxteis mistos encontrados em pontos de reciclagem e aterros. Os investigadores utilizaram um processo chamado glicólise assistida por microondas e baseada no calor, envolvendo um catalisador de óxido de zinco. Segundo os autores, este método decompõe rapidamente o poliéster e o spandex, mantendo o algodão e o nylon intactos.

“Quando há electricidade de origem renovável disponível, o processo não produz dióxido de carbono. Esta abordagem inovadora torna a reciclagem mais rápida e mais eficaz, conduzindo potencialmente a materiais reciclados de alta qualidade e a uma indústria têxtil mais sustentável”, assegura o cientista, numa resposta por e-mail.

De acordo com o mais recente relatório da Agência Europeia do Ambiente sobre a utilização de têxteis, cerca de 4 a 9% dos produtos têxteis colocados no mercado europeu são “destruídos sem serem utilizados para o fim a que se destinam”, o que representa entre 264.000 e 594.000 toneladas de têxteis destruídos por ano.

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