Lisboa na pior posição das ligações ferroviárias entre cidades europeias

Sem uma única ligação directa por comboio, a capital portuguesa está no fim da lista de um estudo de cidades europeias da Greenpeace. Paris podia estar a menos de 18 horas, se houvesse investimento.

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Estação de Santa Apolónia, em Lisboa: não há ligações directas com outras cidades europeias Miguel Manso
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Lisboa é uma das seis cidades sem ligações directas internacionais por comboio com outra cidade europeia das 45 estudadas pela organização ambientalista Greenpeace. Em todos os países, há mais ligações aéreas do que ferroviárias, e há um grande potencial para explorar rotas directas por comboio com menos de 18 horas. As ligações que Portugal podia ter com cidades espanholas, francesas e suíças são um caso paradigmático.

O relatório Connection Failled (Ligação Falhada) analisou 990 rotas entre 45 grandes cidades na Europa, para comparar a oferta de percursos directos por via férrea existentes e potenciais (inferiores a 18 horas), com as ligações por avião disponíveis. E a conclusão é que só 12% destas rotas europeias estão servidas por ligações ferroviárias directas. Em contraste, 69% das ligações são feitas por voos directos – o que significa que há seis vezes mais voos do que viagens directas de comboio.

As cinco cidades com mais ligações directas por comboio a outras cidades são Viena (17), Munique (15), Berlim (14), Paris e Zurique (13). Mas mesmo a capital austríaca só aproveita 49% das possíveis rotas directas por ferrovia.

No vermelho estão Lisboa, Atenas, Pristina, Sarajevo, Skopje e Talin, que têm exactamente zero ligações directas por comboio com cidades noutros países. Portugal não tem comboios internacionais de longa distância há quatro anos. E, na verdade, a viagem mais longa possível fazer entre as 45 cidades analisadas seria a de Lisboa a Talin (Estónia): seriam necessárias 13 mudanças de comboio, passar quatro noites em hotéis ou dormir na estação, e todo o percurso levaria uns exasperantes cinco dias, oito horas e dez minutos.

Mas porque é que a Greenpeace se dedicou a ligar os pontos no mapa e fazer estas contas? É que a aviação é a principal fonte de emissões de gases com efeito de estufa (sector que nos países mais desenvolvidos representa 30% das emissões que causam as alterações climáticas), embora um outro estudo estime que só 2% a 4% da população mundial faça voos internacionais.

Em média, na Europa, os aviões produzem cinco vezes mais gases de estufa do que os comboios. E, segundo projecções da Agência Europeia do Ambiente, só em 2030 se espera que as emissões de transportes na União Europeia caiam para o nível que tinham em 1990.

Entretanto, faltam pelo menos 305 ligações directas entre cidades europeias que poderiam ser uma alternativa ao tráfego aéreo. Por exemplo, Paris-Roma, Madrid-Paris ou Londres-Berlim, que são das viagens aéreas de curta duração mais movimentadas da UE (mais de um milhão de passageiros por ano). Destas, 139 poderiam ser feitas por comboio em menos de 12 horas, diz a Greenpeace.

Com investimentos na infra-estrutura ferroviária que permitissem ter pelo menos 80 km/hora como velocidade média em toda a rede, mais 120 rotas poderiam ser feitas em menos de 18 horas.

É o caso de Paris-Lisboa, que hoje se faz em 26h42 minutos, com quatro transbordos: podia fazer-se em 17h45, ou seja, menos nove horas, diz a Greenpeace. Todos os anos cerca de 2,5 milhões de pessoas fazem este percurso de avião. Chegar a Madrid obriga hoje a duas mudanças, mas todas as cidades espanholas poderiam ficar a menos de 12 horas de distância. Lisboa-Genebra, que hoje demora 29h23m, com cinco paragens pelo meio, passaria a ser uma viagem de 18 horas – menos 11 do que as actuais. Lisboa-Lyon passaria de 28h20m para 16h40m, e chegar a Marselha, hoje a 24h57m de distância, levaria só 15h50m.