Mara Nunes já perdeu a conta à quantidade de vezes que marcou presença nas marchas do orgulho LGBTQI+ de Portugal e do Reino Unido, onde viveu até 2021. No sábado, 29 de Junho, foi uma das centenas de pessoas da 19.ª. Marcha do Orgulho LGBTQI+ do Porto. Fez o percurso a pé, desde a Praça da República até à Cordoaria, com um grupo de amigos, entre bandeiras arco-íris, cartazes e cravos que muitos traziam na mão com o mote que a COMOP (Comissão Organizadora da Marcha do Orgulho LGBTI+ do Porto) escolheu para este ano: “De cravo na mão, somos liberdade e revolução".
À medida que percorria as ruas da cidade que pouco conhece, a jovem de Aveiro pensava que as reacções de quem assistia à marcha podiam ser tão imprevisíveis como as condições meteorológicas daquele dia de céu nublado e temperatura amena. Foi o que aconteceu numa rua perto da Reitoria da Universidade do Porto, quando reparou num homem na casa dos 60 e muitos anos que os via passar agarrado a uma bandeira de Portugal.
“Nos prides temos sempre pessoas que nos vêem nas varandas das casas, mas o senhor estava na porta de casa com a bandeira de Portugal na mão. Era o único”, recorda a cantora e compositora em entrevista ao P3.
Num vídeo que publicou no domingo no Instagram explica que pensou, por causa do uso da bandeira nacional em manifestações anti-LGBT, que o homem poderia estar “a tentar antagonizar” o que Mara e os amigos estavam a defender.
Sem dizer uma palavra, o portuense cujo nome desconhecem, mas que gostariam de saber, apontou para Lily Martins, uma das pessoas que estava com Mara, e pediu que se aproximasse. “É para ti”, disse-lhe, enquanto lhe colocava a bandeira portuguesa pelas costas.
“Toda a marcha parou. Estivemos assim um bom bocado, emocionados”, explica a Mara Nunes. Em troca, o homem recebeu a bandeira LGBT que levantou com as duas mãos, apontando de seguida para o coração. “Ele não disse quase nada e foi uma pena. Perguntou se a bandeira era para ele, abraçou Lily e agradeceu a chorar.”
Manuel Fernando Araújo, jornalista da Lusa, captou o momento que rapidamente se tornou viral. A fotografia mostra o homem de nome desconhecido com lágrimas nos olhos abraçado à bandeira que a artista e os amigos lhe ofereceram.
“Não sabemos o motivo da atitude. Dentro do nosso grupo de amigos já especulámos que talvez tenha conhecido alguém ou perdido [da comunidade LGBT]. Honestamente, nem sei se o senhor percebeu bem o que fez. Foi uma atitude que mostrou muito respeito pelas pessoas e, o mais importante para nós, foi um ponto de viragem nesta história, porque estávamos com medo do que ia acontecer”, conclui.