Tour teve cinco horas de quase nada e 20 minutos de quase tudo

Passou-se muito pouco na terceira etapa do Tour, com a emoção a ficar guardada para os metros finais. O vencedor foi algo inesperado, bem como a mudança na camisola amarela.

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Biniam Girmay, ciclista da Wanty MAURIZIO BRAMBATTI / EPA
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Nesta segunda-feira, na etapa 3 da Volta a França, a mais longa da prova, houve 220 longos quilómetros de sonolência e marasmo, sempre em ritmo lento, para uns 10.000 metros finais de emoção e sprint. E mudança na camisola amarela.

O mais forte na etapa foi Biniam Girmay (Wanty), ciclista cuja história já contámos aqui, que bateu Fernando Gaviria (Movistar) e Arnaud De Lie (Lotto) numa chegada bastante rápida a Torino, naquele que será o último dia em Itália.

Com a boa colocação no grupo da frente, Richard Carapaz, a reboque da sua EF Education, conseguiu galgar posições suficientes no pelotão para ficar com a camisola amarela, ainda que com o mesmo tempo de Tadej Pogacar.

Depois de muitos quilómetros de quase nada, houve alguns de quase tudo, com queda, vitória surpreendente e mudança do líder.

Nada de nada

É justo dizer que a Volta a França tem tentado acabar com as etapas planas, longas e aborrecidas, feitas em ritmo de passeio de bicicleta – e com sprint no final. Mas o objectivo nunca será cumprido a 100%.

As chamadas etapas de transição, até para deleite dos velocistas mais pesados, serão sempre necessárias para finais de sprint – o que não é necessário é haver tanta apatia das equipas.

Nesta etapa, depois de dois dias desgastantes, não houve como convencer as gente a atacar e não houve sequer uma tentativa de fuga durante largas horas, com o pelotão comandado tranquilamente pelo “tractor” Tim Declerq, algo que só poderia ser quebrado pela “caça à televisão”.

Fabien Grellier, da Total Energies, escapou do pelotão a 70 quilómetros do final, mas se nem o próprio se levava muito a sério, quanto mais o pelotão, consciente de que neutralizaria o fugitivo assim que quisesse. E sem grande esforço.

No fundo, como muitas vezes se define, esta era a fuga pela televisão – feita por equipas e ciclistas menos renomados, em busca de minutos de destaque na transmissão televisiva.

O nome do ciclista aparece, os patrocínios no equipamento também e a equipa – quase sempre com marcas a patrocinarem – é destacada durante muito tempo de ecrã. Todos ganham – até mesmo o espectador, que já salivava por qualquer coisa a acontecer.

Troca na amarela

Mas isto era satisfação de quem, sentado no sofá, já nem pedia muito. Todos sabiam que Grellier seria apanhado antes da meta e isso aconteceu a 30 quilómetros do final.

A luta das principais equipas pelo posicionamento dos líderes animou parte do tempo restante, antes de os “comboios” dos sprinters animarem o resto. Houve uma queda a dois quilómetros do final, que reduziu muito o grupo da frente e descoordenou algumas equipas.

Houve, portanto, terreno para um vencedor surpreendente, já que Girmay, apesar de ser um excelente finalizador, está longe de ser dos velocistas mais fortes do pelotão. Mesmo Gaviria é uma surpresa na segunda posição.

Os principais candidatos ao triunfo no Tour tiveram um dia tranquilo, como quase todo o pelotão. Tão tranquilo que Tadej Pogacar se deu ao luxo de rolar nos metros finais, vendo Carapaz chegar-se à frente no grupo, acabando numa posição alta o suficiente para tirar a camisola amarela ao esloveno.

Nesta terça-feira, os ciclistas vão atravessar a fronteira italo-francesa, num dia que terá uma escalada ao Galibier. Será, por certo, dia para novo duelo pela camisola amarela, com 23 quilómetros a 5,1% de inclinação média e algumas zonas a 9%. A subida não é explosiva, podendo ser feita a ritmo, até porque a etapa não terminará com chegada em alto, sugerindo cautela na abordagem aos últimos 50 quilómetros.

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