Morreu o cantor Fausto Bordalo Dias

Tinha 75 anos e, ao longo de mais de cinco décadas, firmou-se como marco fundamental da música portuguesa, mergulhando nas raízes da música tradicional mas apondo-lhe uma vincada marca autoral.

,Em busca das montanhas azuis
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Cantor lançou 12 álbuns Fernando Veludo/NFactos
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Concerto de Fausto Bordalo dias no CCB Nuno Ferreira Santos/Arquivo
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Último álbum foi lançado em 2011 JOSE SENA GOULAO / LUSA
FVL - NFACTOS/FERNANDO VELUDO (exclusivo para P?BLICO ) - 01 MAIO 2010 - PORTO, Casa da Musica - Concerto de Fausto - CONCERTOS
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Fausto Bordalo Dias tinha 75 anos NFACTOS/Fernando Veludo
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Homenagens ao artista multiplicam-se nas redes sociais Nuno Ferreira Santos/Arquivo
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Fausto Bordalo Dias morreu vítima de doença prolongada Fernando Veludo/NFactos
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Morreu o cantor e compositor Fausto Bordalo Dias, na madrugada desta segunda-feira. A informação foi confirmada ao PÚBLICO por Luís Viegas, da agência Ao Sul do Mundo, que o representava. O músico morreu durante a noite vítima de uma doença prolongada.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, endereçou condolências à família de Fausto Bordalo Dias, numa nota publicada no site da Presidência. "Fausto pertencia a uma constelação de músicos que traduziu para as canções de intervenção o sentimento do povo português, e é por isso inevitável associar o nome de Fausto aos nomes maiores da música portuguesa, como José Afonso, José Mário Branco ou Sérgio Godinho", pode ler-se na nota publicada na manhã desta segunda-feira.

Fausto é um dos mais importantes nomes da música tradicional portuguesa, com uma carreira de mais de cinco décadas. Desde 2011 que o cantor não lançava novos álbuns, com o último trabalho discográfico, Em busca de montanhas azuis, a ser divulgado em 2011 e apresentado ao vivo no ano seguinte, com concertos nos coliseus de Porto e Lisboa. Foi a última etapa da trilogia das Descobertas, iniciada em 1982 com o histórico álbum Por este rio acima e alargada em 1994 com Crónicas da Terra Ardente.

"Fausto deixou uma marca como poucos deixam", declarou à Lusa o guitarrista Rui Pato, o médico de Coimbra que, a partir dos anos de 1960, acompanhou à viola José Afonso em vários dos seus espectáculos e na gravação de discos. Para Rui Pato, Fausto, a par do seu amigo Zeca Afonso, ficará para a história como "grande referência" da música portuguesa dos séculos XX e XXI, "pelo génio das suas composições".

Nascido em 1948 a bordo do navio Pátria durante uma viagem entre Portugal e Angola, Fausto Bordalo Dias foi um dos cantores de intervenção que se opuseram à ditadura. Em Maio de 1974, esteve envolvido na criação do Grupo de Acção Cultural — Vozes na Luta (GAC), colectivo fundado com José Mário Branco, Afonso Dias e Tino Flores.

O cantor e compositor assinou temas como O barco vai de saída, A guerra é a guerra e Como um sonho acordado, alguns dos êxitos mais conhecidos da longa e ilustre carreira. Foram estas algumas das canções usadas numa homenagem ao artista, em Março de 2023, na segunda semifinal do Festival da Canção.

Formou a primeira banda, os Rebeldes, ainda em Angola, lançando o primeiro trabalho, um EP, no ano de 1969. A aventura oficial no mundo da música partiria com o álbum intitulado Fausto (1970), com o cantor e compositor a receber no ano de estreia o Prémio Revelação, distinção atribuída pela Rádio Renascença.

Após o lançamento do derradeiro álbum protagonizou vários concertos esporádicos. Em 2021, esgotou salas em vários pontos do país, revisitando toda a obra da carreira. Em Novembro de 2022, daria dois concertos na Aula Magna, em Lisboa, na comemoração do 40.º aniversário de Por este rio acima. No total, Fausto Bordalo Dias gravaria 12 álbuns, 10 de originais.

Nas redes sociais, multiplicam-se as homenagens ao artista, destacando-se a importância de Fausto Bordalo Dias no panorama musical português e a vasta discografia por ele deixada. Em declarações ao PÚBLICO, Amélia Muge, que com ele partilhou palcos e estúdios, refere-se a Fausto como "um vulto de uma dimensão maior": "era possuidor de um raríssimo talento artístico, de uma capacidade intelectual que o levou a conseguir que a sua obra tivesse uma dimensão histórica e literária que julgo quase única, baseando muitos dos seus temas em conhecimento efectivo, em textos históricos, e, depois, num conhecimento profundo dos nossos patrimónios musicais tradicionais".

Manifestando um sentimento de gratidão e de dívida para com o músico - "eu não seria a mesma pessoa se não tivesse havido um Fausto" -, a cantora de Todos os Dias ou A Monte destaca a forma como a sua obra ter, além da fruição musical e poética imediata, uma outra e determinante qualidade. "Quando o escutamos, tem essa dimensão de nos ajudar na descoberta de quem somos, do que foi a música ontem, do que é hoje e do que, eventualmente, continuará a ser".

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, lamentou a morte do músico português na rede social X: "A música de Fausto Bordalo Dias encantou-nos durante décadas. É com profundo pesar que recebo a notícia da sua morte, que não significa o seu desaparecimento". O primeiro-ministro considerou, citado pela Lusa, que "o contributo que deu à música e à portugalidade são eternos".

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