"Procuram-se sinais da cidade em estado de sítio, território de guerra, de disputas entre um estado despótico que semeou mentiras e se estruturou no medo e um exército de rebeldes que quer repor a situação anterior, a de uma democracia moderna, frágil. As pontes não estão bloqueadas, o canal está livre, a água corre lenta no espelho do sol ao fim de um dia longo de Maio. É o primeiro dia quente em Dublin após um longo Inverno e só se fala disso. Mas o ambiente de Canção do Profeta tomou conta de quem o leu e percorre as ruas de pedra do centro."

Isabel Lucas foi a Dublin conversar com Paul Lynch, o autor de Canção do Profeta, livro que recebeu o prestigiadíssimo Prémio Booker em 2023 e que chega agora a Portugal.

"Todos os meus livros são lamentos. Toda a minha ficção é uma visão trágica do mundo", diz o romancista na conversa. Mas Canção do Profeta não é uma distopia, como lhe chama a Wikipédia e outras instâncias, para irritação do autor.

Ele tem uma designação alternativa, narrativas de provações: "O sentido da nossa impermanência no universo, o significado do momento. Interessa-me o momento, em chegar ao sentido do agora. E, no entanto, tudo está a passar. Tudo é perda. Todos os meus livros são sobre isso. E, ao mesmo tempo, todos são, de uma forma ou de outra, narrativas de provação. Se há alguma coisa que me interessa é isso. Ponham-lhes esse rótulo: narrativas de provações."

Fugiu do marido (e da sífilis) e integrou o exército espanhol sem ser descoberta. Teve sexo com freiras, que a acusaram de um pacto com o diabo. A história "extraordinária" de Maria Duran está agora em livro: A Hermafrodita e a Inquisição Portuguesa  O caso que abalou o Santo Ofício, do historiador François Soyer.

Isabel Rio Novo aceitou uma "missão" particularmente ciclópica: contar a vida de Camões. Mergulhou nos arquivos e viajou para "encontrar o homem que teria existido antes" do mito. "É como se quiséssemos que o nosso Camões permanecesse envolto na sua névoa, no seu mistério", diz Rio Novo, que já tinha biografado Agustina Bessa-Luís, na conversa com Hugo Pinto Santos.

O realizador Bertrand Bonello (A Criança Zombie, Saint Laurent) adapta Henry James para maior glória de Léa Seydoux num filme ousado e obsessivo. Numa entrevista sumarenta com Jorge Mourinha, explicou como o medo e o amor são temas centrais de A Besta.

Também neste Ípsilon:

Teatro: Zénite de Sílvio Vieira e a versão de Um Eléctrico Chamado Desejo por Bruno Bravo (texto só disponível, para já, na edição impressa);

A fotografia pós-apocalíptica (mas esperançosa) de Todd Hido;

Novos discos de Mabe Fratti, Alek Rein e The June Carriers;

... entre outras coisas. Boas leituras!


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