Ursula von der Leyen: primeiro o lembrete, depois a confiança renovada

A presidente da Comissão Europeia soube trabalhar em colaboração estreita com os líderes que apostaram nela para responder a uma sucessão de crises sem precedentes.

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Von der Leyen foi reconduzida como presidente da Comissão Europeia na reunião do Conselho Europeu desta quinta-feira OLIVIER HOSLET / EPA
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65 anos, Alemanha

Há cinco anos, a escolha da então ministra da Defesa da Alemanha para a presidência da Comissão Europeia foi uma surpresa preparada pelos chefes de Estado e governo para ultrapassar o impasse na distribuição dos cargos de topo da União Europeia: ironicamente, só a sua mentora política (e amiga pessoal), Angela Merkel, se absteve na sua eleição para o cargo.

Desta vez, depois de se apresentar como cabeça de lista do seu Partido Popular Europeu (centro-direita), a sua nomeação para um segundo mandato à frente do executivo comunitário era mais do que esperada. Estava até especificamente prevista no acordo de coligação do Governo de Berlim, onde o seu partido não tem lugar.

Nascida em Bruxelas, a alemã afirmou em 2019 que encarava a sua escolha para presidir à Comissão Europeia como um regresso a casa. Imediatamente mandou construir um pequeno apartamento no último piso do edifício do Berlaymont, para poder estar sempre disponível para o trabalho que tinha pela frente. Cinco anos mais tarde, não está disposta a parar – nem a entregar as chaves da sede da Comissão.

Ao longo do mandato (que só termina a 31 de Outubro), Ursula von der Leyen soube trabalhar em colaboração estreita com os líderes que apostaram nela para responder a uma sucessão de crises sem precedentes: uma pandemia global, com inevitáveis consequências sociais e económicas; uma guerra de agressão nas fronteiras da União Europeia, após a invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia.

A omnipresença da presidente da Comissão Europeia, a negociar a aquisição conjunta e a distribuição simultânea de vacinas contra a Covid-19; a entregar cheques do fundo de recuperação e resiliência constituído com o recurso à emissão de dívida europeia; a mobilizar o orçamento comunitário para o financiamento das armas indispensáveis à defesa da Ucrânia, ou a confirmar que o futuro do país de Volodymyr Zelensky é dentro da União Europeia, fizeram dela a líder incontestada do bloco. O Presidente dos Estados Unidos sabe que, em caso de crise, é a Von der Leyen que tem que ligar às duas horas da manhã.

Mas os ataques terroristas do Hamas contra Israel, a 7 de Novembro de 2023, puseram termo ao estado de graça da presidente da Comissão. Pela primeira vez, Ursula von der Leyen não concertou previamente a sua posição com as capitais, e abriu o flanco às críticas – contundentes – dos chefes de Estado e governo da UE e dos membros do Parlamento Europeu. Na guerra surda que travou com o presidente do Conselho Europeu quase desde o início do mandato, foi a única vez que perdeu para Charles Michel.

Von der Leyen acusou o toque e corrigiu a sua postura: o episódio desgastou-a politicamente, mas não a desqualificou da corrida por um segundo mandato. Depois do lembrete, os líderes apostaram na continuidade, renovando a sua confiança na alemã.

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