Com Kaja Kallas, a UE promete manter o foco na Rússia

A guerra consolidou o estatuto político de Kallas em Bruxelas. Foi, à mesa do Conselho Europeu, a mais firme defensora da contenção de Moscovo.

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Kaja Kallas foi a escolhida para ocupar o lugar de alta representante para a Política Externa e de Segurança Yves Herman / REUTERS
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47 anos, Estónia

Com a nomeação de Kaja Kallas, a União Europeia volta a ter uma mulher a dirigir o seu Serviço de Acção Externa. Antes da primeira-ministra da Estónia, já houve duas altas representantes para a Política Externa e de Segurança da UE. Mas se não vai quebrar o “telhado de vidro”, mas vai na mesma fazer história quando tomar posse: pela primeira vez, o posto será atribuído a um chefe de Governo e a um membro da família liberal.

Kaja Kallas, que estudou Direito e fez uma pós-graduação (MBA) em gestão, tinha uma bem sucedida carreira como advogada especializada em questões de concorrência quando decidiu seguir a tradição familiar e enveredar na vida política. Em 2010, aderiu ao Partido Reformista que o seu pai, Siim Kallas, formou em 1994, e logo no ano seguinte foi a votos e entrou no (Parlamento).

Mudou-se de Talin para Bruxelas em 2014, quando foi eleita para o Parlamento Europeu, onde se sentou nas comissões de Indústria, Investigação e Energia, e do Mercado Interno e Protecção dos Consumidores, e integrou as delegações à Comissão Parlamentar UE-Ucrânia e para as Relações com os Estados Unidos.

Apesar de se ter afirmado como relatora de dossiers importantes, nomeadamente do Mercado Único Digital, não cumpriu a legislatura até ao fim, tendo regressado à Estónia em 2018 para assumir a liderança do partido e concorrer às eleições legislativas de Março de 2019, que venceu com 29% dos votos. No entanto, o populista Partido do Centro, forjou uma nova coligação de governo com os democratas-cristãos e a direita radical, remetendo Kallas para o papel de líder da oposição no parlamento.

Não por muito tempo: em Janeiro de 2021, após a demissão do primeiro-ministro, Juri Ratas, por um escândalo de corrupção, o Partido Reformista foi chamado para a coligação. Aos 45 anos, Kaja Kallas tornou-se a primeira mulher a liderar um Governo no pequeno país de 1,3 milhões de habitantes. Internamente, o seu estilo despretensioso e aberto garantiu-lhe enorme popularidade, o que a levou a demitir-se em 2022 para poder “dispensar” os parceiros de coligação e reforçar a sua liderança do governo, confirmada em 2023 com uma vitória incontestada nas eleições legislativas.

Fora de portas, Kallas começou logo a dar nas vistas por causa do seu foco na Rússia, que levou a imprensa internacional a designá-la como a nova Dama de Ferro europeia. Antes da invasão em larga escala da Ucrânia pelas tropas russas, a eloquente líder da Estónia ergueu sempre a voz na denúncia das manobras agressivas e expansionistas do Presidente Vladimir Putin. A sua ordem para desmantelar todos os monumentos da era soviética na Estónia valeu-lhe uma acusação criminal e um mandado de captura das autoridades russas.

A guerra consolidou o estatuto político de Kallas em Bruxelas. Foi, à mesa do Conselho Europeu, a mais firme defensora da contenção de Moscovo. O apoio incondicional do seu país ao Governo de Kiev traduziu-se em termos de contribuições financeiras e militares para o esforço de guerra, convertendo a Estónia no maior doador da Ucrânia per capita. Graças aos seus esforços, foi um dos nomes apontados para a sucessão do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg. E ascendeu ao topo da lista das opções para a chefia da diplomacia europeia.

Um escândalo relacionado com a evasão do regime de sanções impostas pela UE contra a Rússia por uma empresa de transportes e logística onde o seu marido detinha uma participação de 25% tornou-se um embaraço político para Kaja Kallas, que recusou demitir-se do cargo ou rever a linha defendida pela Estónia contra a Rússia. Depois disso, uma série de decisões impopulares – a subida dos impostos e a legalização do casamento gay – erodiram a sua base doméstica de apoio, e penalizaram o seu partido nas eleições europeias.

Vinte anos depois do pai, que também foi primeiro-ministro da Estónia, Kaja Kallas está prestes a assumir um cargo europeu que também tem no título vice-presidente da Comissão Europeia. Siim Kallas foi comissário europeu, e vice-presidente, nos dois executivos comunitários liderados por Durão Barroso.

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