Biden fez um debate “desastroso” contra Trump e deixou os democratas em “pânico”

No primeiro debate a caminho das presidenciais de Novembro nos Estados Unidos, Trump foi igual a si mesmo e Biden mostrou a sua pior versão.

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Biden "fraco" e Trump "criminoso". As trocas de acusações no primeiro debate Reuters, Joana Bourgard
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Debater com Donald Trump é ingrato e exasperante, mas, desta vez, Joe Biden teve tudo o que pediu – a data do embate, o arranque em vez da declaração final – e tudo o que queria – microfones silenciados durante as respostas do opositor, ausência de público… Mas de nada valeram as regras ou as décadas de experiência e os dias de intensa preparação. Rouco, titubeante, mais à defesa do que ao ataque, escolhendo, por vezes, insultos (“perdedor”, “idiota”, “choramingas”, “com a moral de um gato de rua”) em vez de argumentos, o Presidente norte-americano surgiu fragilizado face a um adversário confiante e imperturbável.

“Foi doloroso”, admitiu o comentador político da CNN Van Jones, ex-conselheiro especial de Barack Obama, descrevendo o desempenho do democrata. "Adoro o Joe Biden. Trabalhei para Joe Biden. É um bom homem. Ama o seu país. Está a fazer o melhor que pode. Mas tinha um teste a cumprir esta noite para restaurar a confiança do país e das bases. E ele não conseguiu fazer isso", afirmou.

Depois, Van Jones disse em público o que muitos pensam em privado: “Há muita gente que vai querer que ele considere tomar um rumo diferente agora. Ainda estamos longe da nossa convenção e há tempo para este partido encontrar um caminho diferente, se ele nos permitir fazê-lo.”

Para um candidato que os opositores dizem estar senil e cuja capacidade de cumprir eficazmente um mandato que vai iniciar com 82 anos é questionada pelos próprios apoiantes, o pior pesadelo surgiu na resposta a uma pergunta sobre política fiscal e dívida pública. “… Elegível para o que eu fui capaz de fazer com... com a covid… Desculpem… lidando com cada coisa que tivemos de enfrentar... [longo silêncio] Olhem, nós finalmente derrotámos o Medicare”, concluiu, referindo-se ao programa de assistência social de que os democratas tanto se orgulham.

Momentos angustiantes que terminaram com as palavras do jornalista Jake Tapper, um dos dois moderadores do debate organizado pela CNN – “Obrigado, senhor Presidente” –, o rosto de Biden, perdido, ainda no ecrã.

“Bem, ele tem razão. Ele derrotou o Medicare. Derrotou-o até à morte”, reagiu Trump, afirmando que os cuidados de saúde prestados aos imigrantes estão a matar o sistema – uma entre muitas mentiras que Biden deixou sem resposta. “Realmente não sei o que é que ele disse no final desta frase. Creio que nem ele sabe o que disse”, golpeando o rival no seu pior momento.

“Penso que o pânico se instalou”, disse David Axelrod, conselheiro de longa data de Obama, também na CNN. “E acho que vamos ouvir discussões, não sei se vão levar a alguma coisa, mas vai haver discussões sobre se ele deve continuar”.

Andrew Yang, que se candidatou às primárias democratas antes das últimas presidenciais, escreveu no X (antigo Twitter): “Olhem, eu debati com o Joe sete vezes em 2020. Ele é uma pessoa diferente em 2024”, numa publicação acompanhada pela hashtag #swapJoeout, qualquer coisa como “vamos substituir Joe”. E para que não restassem dúvidas “Pessoal, os Democratas deviam nomear outra pessoa – antes que seja tarde”.

“Trump parece razoável, mesmo estando a mentir a 200 quilómetros/hora”, disse à CNN um democrata membro da Câmara dos Representantes. “Biden é ininteligível”, admitiu, antes de descrever o debate e a performance do seu candidato com uma só palavra – “Desastre”.

Mentiras e ameaças

Apesar de mais contido do que habitualmente, Trump foi tudo o que dele se espera, repetindo mentiras (a CNN contou 30 afirmações falsas, contra nove de Biden) e mudando de assunto sempre que isso lhe era mais favorável. Na discussão sobre o aborto, a situação em que Biden se saiu melhor a desmontar as suas falsidades, alegou que o Partido Democrata quer que o aborto seja legal até ao nascimento e até “depois do parto”. Também disse maravilhas sobre a sua Administração, incluindo algumas sem qualquer sentido, como quando garantiu que tinha os “melhores números ambientais”.

Um “criminoso condenado”, como lembrou Biden, Trump foi questionado sobre se aproveitaria o regresso à Casa Branca para perseguir judicialmente os opositores. “Bem, eu disse que a minha vingança vai ser o sucesso. Vamos fazer com que este país volte a ter sucesso, porque neste momento é uma nação falhada”, afirmou, adoptando a sua personagem presidenciável.

Depois, não resistiu: “Mas quando ele [Biden] fala de um criminoso condenado. O filho dele [Hunter Biden] é um criminoso condenado a um nível muito elevado. O filho dele foi condenado, vai ser condenado provavelmente muitas outras vezes”, disse. “Mas ele pode ser um criminoso condenado assim que sair do cargo. O Joe pode ser um criminoso condenado por todas as coisas que fez. Ele fez coisas horríveis”, afirmou, entre a leviandade e a ameaça.

Trump fez o que lhe competia, agradou aos indefectíveis e mostrou-se menos explosivo do que é, atenuando os receios dos indecisos. Biden, pelo contrário, provou que os rivais têm razão para porem em causa as suas capacidades e comprovou os piores pesadelos dos apoiantes. Com um debate tão cedo – nunca dois candidatos à presidência se enfrentaram tanto tempo antes das eleições – queria assumir a iniciativa, desviar as atenções da sua saúde e virar a campanha a seu favor, descolando nas sondagens (que colocam os candidatos em empate técnico). Falhou em todas as frentes.

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