Indústria Química apresenta roteiro para a descarbonização até 2050

Conferência dá a conhecer o que o sector já faz, os cenários futuros e disponibiliza uma ferramenta de autodiagnóstico relevante para que todos façam parte da solução e garantam a sua sustentabilidade

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A indústria química nacional está empenhada em fazer parte da solução quanto à descarbonização até 2050. “A pergunta-chave é como combinar Sustentabilidade/ Descarbonização com Competitividade”, refere Carla Pedro, directora-geral da APQuímica, a Associação Portuguesa da Química, Petroquímica e Refinação, que no dia 3 de Julho lança o “Roteiro para a Neutralidade Carbónica da Indústria Química” (RNCIQ PT 2050).

Este evento, que decorre nas instalações industriais da HyChem, na Póvoa de Santa Iria, pretende debater os temas fundamentais e mobilizar os associados. Será dado a conhecer um diagnóstico económico e ambiental e serão apresentados os cenários de descarbonização do sector. Será também lançada uma ferramenta de auto-diagnóstico, um barómetro que permitirá aferir o posicionamento das empresas no momento inicial de desenvolvimento do roteiro e ao longo do tempo. “Vemos esta ferramenta como uma forma de chegada às PMEs, de apoio ao desenvolvimento dos seus próprios roteiros de descarbonização”, refere Carla Pedro.

Sendo este um sector que tem o carbono como uma das principais matérias-primas e fontes de energia, a descarbonização é em simultâneo um desafio e uma oportunidade para as empresas, explica a responsável da APQuímica. Por um lado, tanto as empresas portuguesas, como as europeias, enfrentam a concorrência de mercados internacionais (como os Estados Unidos ou a China) onde as regras são diferentes, impactando a sua competitividade. “Origina as designadas ‘fugas de carbono’, ou seja, um forte potencial de fuga de certas actividades de Portugal e da Europa para essas geografias.” Por outro, continua a explicar a directora-geral da APQuímica, “a descarbonização abre ao sector químico um conjunto muito interessante de possibilidades de entrada em novas áreas de negócio e cadeias de valor de elevado potencial de crescimento, abrindo novos mercados que começam já a ser explorados pelas nossas empresas.” São disso exemplo as áreas da produção de hidrogénio verde, das baterias de lítio para veículos eléctricos, das soluções de captura, armazenamento e utilização de carbonos, dos combustíveis sintéticos (eFuels), da reciclagem química de resíduos plásticos urbanos, entre outras. Além de que este é um sector que claramente aposta na investigação e desenvolvimento: 20% da despesa em inovação da indústria transformadora vem das indústrias químicas.

A própria indústria, refere Carla Pedro, reconhece o seu papel como “parte do problema”, uma vez que é um dos sectores da indústria nacional mais fortemente emissor de CO2 e intensivo em consumos energéticos, e como “parte da solução”, já que vários dos produtos e processos que desenvolve poderão ser utilizados não só para a sua própria descarbonização, mas também para apoiar a descarbonização da restante economia.

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“Estamos integrados em vários dos seus grupos de trabalho, o que nos dá acesso ao estado da arte europeu nesta área”, refere Carla Pedro, Diretora-Geral da APQuímica

Daí a relevância deste Roteiro para a Neutralidade Carbónica da Indústria Química Portuguesa até 2050, que permite conhecer o presente e lançar o futuro. “Mais do que um plano estático, o RNCIQ PT 2050 pretende funcionar como um instrumento dinâmico e evolutivo até 2050. A descarbonização do sector é um processo em curso – não começa nem termina agora”, explica Carla Pedro.

O evento está dividido entre uma visita à HyChem, na manhã de dia 3, e já à tarde o lançamento do RNCIQ PT2050, na mesma empresa, na Póvoa de Santa Iria. A ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho e o ministro da Economia, Pedro Reis, foram convidados para o evento em que, além da apresentação do Roteiro, serão debatidas as oportunidades e desafios da descarbonização com representantes das agências públicas com responsabilidades neste domínio (Direcção-Geral das Actividades Económicas, do IAPMEI, da Agência Portuguesa do Ambiente, da Direcção-Geral de Energia e Geologia e da Agência para a Energia) e a perspectiva da indústria, com algumas das empresas do sector que se encontram já a implementar projectos concretos (Hychem, A4F/Biotrend, Bondalti, Repsol Polímeros, Galp).

O Conselho Europeu da Indústria Química, de que a APQuímica é membro, está representado pelo director-geral, Marco Mensink, que dará a perspectiva da descarbonização da Indústria Química à escala europeia.

“Estamos integrados em vários dos seus grupos de trabalho, o que nos dá acesso ao estado da arte europeu nesta área”, refere Carla Pedro. A directora-geral da APQuímica sublinha também o que a própria Europa pode aprender com o que faz Portugal e a sua indústria química: “Pelas suas características específicas (por exemplo, a abundância de energias renováveis) e pelo compromisso/ avanço da sua agenda de descarbonização, Portugal traz a jogo um dos casos mais interessantes a nível europeu em vários dos cenários de descarbonização em construção.”