No grupo E está a valer tudo menos ir buscar a bola à estrada

A Bélgica tem criado bom futebol, mas precisa de quem trabalhe pelos artistas da frente. Um é Tielemans, o judoca, outro é Onana, homem dos anos 90, e outro é Mangala, rapaz que se atirou à estrada.

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Orel Mangala, jogador da Bélgica Wolfgang Rattay / REUTERS
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É praticamente unânime que o Euro 2024 está a ser um dos melhores de sempre – para alguns, analisando apenas a fase de grupos, até é mesmo a melhor edição. Para isso contribuem os jogos bastante abertos, as reviravoltas, o alto número de resultados surpreendentes e o equilíbrio nas classificações. Neste último parâmetro, Aleksander Čeferin, presidente da UEFA, bem pode agradecer aos rapazes que têm feito mexer o grupo E.

Roménia, Bélgica, Eslováquia e Ucrânia vão a jogo nesta quarta-feira, todos às 17h (Sport TV 1 e Sport TV 2) e todos com três pontos, depois de já terem ganhado e perdido neste Europeu. Isto significa que todos podem ser felizes e está a valer tudo neste grupo. Ou quase tudo.

O jogo de maior cartaz é o Bélgica-Ucrânia e a imprensa estrangeira prevê que o 4x2x3x1 dos belgas volte a ter Onana e Mangala no meio, como no primeiro jogo, embora também se estime que estar apenas um deles, com Tielemans ao lado, possa ser outra opção. Seja qual for a decisão, haverá por ali gente com percursos incomuns.

O judo, a estrada e os vídeos

Tielemans, o mais renomado dos três, é alguém que começou no basquetebol, que se tornou muito bom no judo – tem cinturão azul – e que, depois de escolher o futebol, prometeu bastante. Tem, ainda assim, ficado abaixo das expectativas, sem conseguir subir para um patamar acima de clubes de segunda linha como Mónaco, Leicester e Aston Villa. Apesar de ter apenas 26 anos, vemo-lo há anos e anos: já leva dois Mundiais e dois Europeus.

Depois, há Mangala, médio do Nottingham Forest, emprestado ao Lyon, que é a prova de que não vale tudo pela bola. Como contou ao Guardian o pai do jogador, Mangala esteve em risco de vida no dia em que, com dois anos, atravessou a rua para ir apanhar uma bola e foi colhido por um carro que o deixou em coma.

A previsão dos médicos era a de que a criança não voltaria a andar, mas Mangala não só anda como corre. Com uma cicatriz na cabeça como prova do acidente, o médio de 26 anos oferece à equipa um lado físico relevante para quem tem, na frente, De Bruyne, Doku, Trossard e Lukaku, jogadores com “bilhete só de ida” quando se trata de atacar e não defender.

Para aquele meio-campo ainda há Onana, um gigante de 1,95 metros com um perfil físico que dota a equipa de predicados relevantes no momento sem bola e nos duelos aéreos. E este é outro caso de um percurso feito aos “soluços”, mesmo que não tão trágico como o de Mangala.

Onana foi dispensado do Anderlecht, também não funcionou no Zulte Waregem e estava desacreditado e destinado a não passar de um talento assim-assim.

Conta que ter visto a irmã com cancro foi o combustível que o fez superar as várias rejeições futebolísticas, mas essa motivação não chega. A parte prática da coisa, que era encontrar clube, carecia ainda de uma resolução. Como resolver? À antiga.

Alguém em casa com quatro pontos?

Como numa boa manobra de scouting à anos 90, a irmã de Onana filmou o jogador a treinar e enviou as imagens para vários clubes, como um bom empresário faria há uns bons anos. E resultou.

O Hoffenheim quis dar uma oportunidade ao jogador, na altura ainda juvenil, e desde aí Onana já andou por Wolfsburgo, Lille e, nos últimos dois anos, jogou no Everton, que espera vender o craque de 22 anos por uma boa maquia.

Com Mangala, o rapaz da infância trágica, com Tielemans, o judoca, ou com Onana, o homem dos anos 90, a Bélgica terá sempre gente para compensar os artistas que só correm para a frente. E isso, nesta fase, deve mesmo ser a maior preocupação do seleccionador para a última jornada deste grupo E, porque a parte da produção atacante tem sido bastante aceitável.

A talhe de foice, importa recordar que não é improvável este grupo ter alguém a ir para casa com quatro pontos, “tarifa” que se consideraria suficiente para ir em frente pelo menos como um dos melhores terceiros classificados. Vai ser divertido.

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