“Não queremos depender de ninguém”: novo foguetão europeu a postos para voar em Julho

Dados iniciais do ensaio geral realizado na semana passada não mostram problemas, mantendo o voo inaugural do Ariane 6 para dia 9 de Julho. Independência no acesso ao espaço é prioridade europeia.

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O foguetão Ariane 6 antes do ensaio geral realizado na última quinta-feira L. Bourgeon/ESA
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A Europa quer colmatar a ausência de acesso ao espaço dos últimos anos e, até agora, tudo parece estar em ordem para avançar com o voo inaugural do novo foguetão europeu, o Ariane 6, no próximo dia 9 de Julho – dentro de duas semanas. “Não queremos depender de ninguém”, assumiu Lucia Linares, directora da Estratégia de Transporte Espacial e Lançamentos Institucionais da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês).

Numa conferência na manhã de terça-feira, a ESA avançou que os dados iniciais do ensaio geral do Ariane 6 não mostraram quaisquer problemas, mantendo-se para já a data prevista para o primeiro lançamento deste foguetão – ou seja, 9 de Julho.

O ensaio geral (conhecido em inglês como wet dress rehearsal) é o último procedimento antes de se avançar com o lançamento de um foguetão: enchem-se os depósitos com combustível, verificam-se condutas, válvulas e procuram-se possíveis fugas – um problema clássico nos foguetões. O procedimento é totalmente igual ao do dia de lançamento, com a excepção de que neste ensaio geral o relógio pára a segundos da descolagem.

Até ao momento, os dados provisórios do ensaio, realizado na passada quinta-feira, deste colossal foguetão com 90 metros de altura não mostraram problemas. No entanto, os resultados definitivos, com uma análise completa a todos os dados provenientes do ensaio geral, só será conhecida nos próximos dois dias.

O Ariane 6 é o sucessor do Ariane 5, o mais famoso foguetão europeu e que serviu a Europa em mais de uma centena de lançamentos ao longo de 25 anos. O primeiro voo do novo foguetão europeu esteve previsto para 2021, mas só agora está em condições de ser lançado. O Ariane 6 é o resultado de uma pareceria entre a indústria aeroespacial, que o desenhou, e a ESA, que o está a desenvolver na Guiana Francesa – de onde será lançado.

Independência espacial

Uma das dúvidas em relação ao novo foguetão europeu é a sua sustentabilidade comercial, uma vez que, ao contrário do Falcon 9 da SpaceX, o Ariane 6 não é um veículo reutilizável – o que previsivelmente aumentará os custos de cada viagem para os clientes que quiserem lançar satélites ou outras cargas para o espaço. Lucia Linares não se mostra, no entanto, preocupada. “Temos um livro de encomendas que está cheio. A última palavra será dos clientes”, referiu na conferência de terça-feira.

Mais: “A Europa também está a trabalhar em [veículos] reutilizáveis”, afirmou Lucia Linares, numa resposta às dúvidas lançadas por Elon Musk, dono da SpaceX. O projecto da ESA para os veículos reutilizáveis está alicerçado sobretudo no Themis, um protótipo de um foguetão com descolagem e aterragem vertical (como o Falcon 9), cujo primeiro teste está previsto ainda para 2024 – embora não haja qualquer data avançada, já que o Ariane 6 tem roubado todas as atenções.

O acesso autónomo ao espaço, sem depender da SpaceX ou de outros fornecedores como tem acontecido com os últimos lançamentos europeus, é outra prioridade para a ESA. “Por que é tão importante? É um transporte. Em última análise, estamos a ver actividades de outros [países]. Isto permite actividades espaciais para a Europa”, sublinhou a responsável da agência espacial europeia.

“Não queremos depender de ninguém”, afiançou, reforçando a importância do acesso ao espaço num período de maior convulsão geopolítica e militar. A independência no lançamento garante que não há dificuldades no envio de satélites para órbita, sejam eles satélites meteorológicos e de comunicação ou também de vigilância e militares – cada vez mais relevantes, dada a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. Para não haver constrangimentos, “o primeiro passo é o acesso ao espaço”, afirmou Lucia Linares.

O acesso independente tem sido um dos pontos cruciais nas críticas à estratégia europeia para o espaço. “Nos últimos 30 anos, a Europa decidiu não investir em liderança e autonomia na exploração humana do espaço”, lê-se no relatório do Grupo de Aconselhamento em Exploração Espacial Humana e Robótica para a Europa, divulgado no ano passado. Um dos objectivos traçados por este grupo de 12 especialistas era inclusive a concepção de um cenário para que possa existir um europeu na Lua dentro de uma década – algo que parece pouco provável neste momento.

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