Cartas ao director

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Autárquicas: convergência à esquerda?

O Livre propõe uma convergência à esquerda para as eleições autárquicas. Como reagem os outros partidos? Vão acordar ou continuar virados para dentro?

As diferenças ideológicas e programáticas dos partidos mais à esquerda reflectem-se essencialmente em temas que estão fora da competência das autarquias; assim, não faz sentido que haja divisão de votos, em particular nas autarquias em que os partidos de esquerda individualmente não têm hipóteses de obter bons resultados.

O PSD já descobriu há muito que, nas autárquicas, fazer coligações pontuais é vantajoso, mas a esquerda tende a destacar as pequenas diferenças em vez de valorizar um património comum de valores, permitindo que as ambições pessoais se sobreponham a uma lógica pragmática: a tentação de ver a fotografia num cartaz sobrepõe-se muitas vezes à evidência de uma derrota anunciada.

Porque é que o óbvio é tão difícil de ser percebido? Seguindo o exemplo francês, talvez aos 50 anos a esquerda nacional tenha atingido finalmente a maioridade política. Em caso de dúvida, ao menos perguntem aos apoiantes!

José Cavalheiro, Matosinhos

Escutas telefónicas

O artigo da professora Teresa Pizarro Beleza vem trazer mais uma voz ao coro contra as escutas telefónicas, os abusos, as quebras ao segredo de justiça. Parece deixar claro que provas, informações colhidas "de arrasto", fora do contexto em que a escuta foi autorizada, são inválidas, ilegais – devem ser destruídas.

Independentemente dos argumentos legais e dos fundamentos nos direitos e liberdades cívicas, parece-me altamente perturbador a atitude de fechar os olhos, de renunciar ao conhecimento da verdade. Para mim é muito claro (mas, quem sou eu?) que uma prova deve ter valor em si mesma e deve ser válida e "usável" em tribunal se passar nos critérios correntes de autenticidade. Se foi obtida com violação da lei, o violador deve ser processado e punido por esse delito (ou crime) sem pôr em causa a validade da prova.

Considerar inválida em tribunal a prova assim obtida, mesmo que única e decisiva para condenar um assassino, um violador, é, pura e simplesmente, abdicar da verdade, abdicar da justiça… o que me parece muito, muito mau!

José Correia, Lisboa

O declínio do Ocidente

No extenso artigo A voragem insaciável do panda chinês, Cristina Ferreira refere que entre 2001 e 2008, qualquer coisa como 600 mil empresas da área industrial, na sua maioria provenientes de economias liberais, deslocalizaram-se para a China. (...) A China aprendeu tudo o que o Ocidente lhe quis ensinar e vendeu tudo o que o Ocidente lhe quis comprar. A rapidez do seu sucesso económico foi esta. E acrescenta: Em Maio de 2015, a cúpula chinesa divulgou o Programa China 2025, (...) transformar a China numa potência tecnológica.

Nada disto seria tão alarmante se Xi Jinping não declarasse que queria remodelar a geopolítica mundial e contrariar a hegemonia americana, intensificando parcerias militares com países como a Rússia e o Irão e alargando o bloco dos BRICS. Para a UE, há dois caminhos: ou manter o mesmo rumo, o que levará a uma maior e contínua desindustrialização (empresas como a Volkswagen e BMW fabricam já grande parte dos seus modelos eléctricos na China, sinal alarmante para o futuro); ou definitivamente mudar de rumo, defender e incrementar a industrialização na Europa.

(…) A ascensão da China e o declínio do Ocidente dão-se em simultâneo e não são uma coincidência. Os paladinos deste modelo de globalização parece que não alcançam as suas consequências em termos sociais, económicos e ambientais.

Fernando Ribeiro, São João da Madeira

Daniela e os hunos

Está de parabéns Ana Sá Lopes por ter feito eco do tratamento ultrajante aplicado por André Ventura (A.V.) à mãe das gémeas, Daniela. O foco de A.V. nem foi a cunha, foi a mulher e os imigrantes (que nem ela nem as suas filhas são) que vêm roubar aquilo que é só nosso. Eu tenho a lamentar duas coisas: a conivência de todos os membros da comissão de inquérito (CI); e a forma desproporcional como a comunicação social tratou o caso Rock in Rio/Sónia Tavares e a forma indigna como André Ventura tratou Daniela, a mãe das gémeas, na CI.

Fátima Silva, Lisboa

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