Israel e EUA debatem “nova fase” da guerra de Gaza, mas não estão a falar do mesmo

Netanyahu diz que “a fase intensa da luta contra o Hamas está prestes a terminar”. Militares declaram que a “Brigada de Rafah está prestes a ser derrotada”.

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Dos 253 reféns feitos pelo Hamas, acredita-se que permaneçam em Gaza 120 Eloisa Lopez / REUTERS
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Com o seu ministro da Defesa de visita a Washington para discutir “a transição para a ‘fase C’ da guerra em Gaza”, Benjamin Netanyahu afirmou que só estaria disposto a dar o seu aval a um acordo de cessar-fogo “parcial” – na prática, isso significa rejeitar a última proposta dos Estados Unidos, apresentada em Maio por Joe Biden.

As declarações do primeiro-ministro israelita foram criticadas pela oposição, pelas famílias dos reféns, pelos mediadores e por responsáveis próximos das negociações. “Netanyahu esclareceu que não está interessado na libertação de todos os reféns – a exigência que ele próprio faz ao Hamas”, disseram ao Haaretz “fontes envolvidas na última ronda de negociações”.

Neste cenário, em que a um cessar-fogo se seguiria o recomeço da guerra, o chefe do Hamas em Gaza, "[Yahya] Sinwar, não tem qualquer motivação para avançar”, explicou ao diário israelita uma dessas fontes. Um funcionário israelita, ouvido pelo site de notícias Walla, considera que “os comentários de Netanyahu causaram danos tremendos às hipóteses de um acordo”. Para o fórum que representa as famílias dos reféns, o que o primeiro-ministro fez foi rejeitar a proposta dos EUA, retirando-se, assim, das negociações: “Isto significa que está a abandonar 120 reféns e a violar o dever moral do Estado de Israel para com os seus cidadãos.”

No fundo, Netanyahu não disse nada de novo, nesta que foi a sua primeira entrevista a uma televisão de língua hebraica desde os ataques de 7 de Outubro. “A fase intensa da luta contra o Hamas está prestes a terminar”, afirmou, ao Canal 14. “Não significa que a guerra esteja prestes a terminar, mas a guerra na sua fase intensa está prestes a terminar em Rafah”, a cidade do extremo sul da Faixa de Gaza alvo de uma violenta ofensiva desde o início de Maio.

Horas depois, o chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF), Herzi Halevi, dizia que a Brigada de Rafah do Hamas está prestes a ser "desmantelada”. “Está derrotada, não no sentido de já não haver terroristas, mas no sentido de já não poder funcionar como estrutura de combate", afirmou.

Ao dizer-se “preparado para um acordo parcial que nos devolva parte das pessoas” raptadas, Netanyahu está também a recusar a proposta dos EUA, actualmente a ser negociada.

De acordo com este plano, seria declarada uma trégua inicial de seis semanas, que serviria para libertar os reféns mais vulneráveis e negociar um acordo sobre a fase seguinte, na qual seriam libertados os restantes reféns e Israel se retiraria de Gaza. A chamada fase 3 passaria pela transformação do cessar-fogo numa trégua permanente. “Não. Não estou preparado para acabar com a guerra e deixar o Hamas de pé”, insistiu o chefe de Governo de Israel.

"Conflito interminável"

As declarações – que Netanyahu ainda tentou emendar – caíram mal nos EUA, numa altura de grande tensão entre os dois aliados (agravada pelo próprio, quando fez um vídeo a acusar a Administração Biden de estar “a reter armas e munições para Israel”).

“Recusar este acordo não significa alcançar uma qualquer noção indefinida de vitória total”, disse o conselheiro de Segurança Nacional da vice-presidente Kamala Harris, Philip Gordon, numa universidade de Israel. “Mas levaria a um conflito interminável, drenando os recursos de Israel, contribuindo para o seu isolamento na cena mundial e impedindo que os reféns se reunissem com as suas famílias”, defendeu.

Em Washington, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, teve os primeiros de vários encontros marcados para discutir a evolução da guerra em Gaza e a escalada entre Israel e o Hezbollah na fronteira libanesa. O enviado de Biden para o Líbano, Amos Hochstein, foi o primeiro a recebê-lo. De acordo com um comunicado, “o ministro Gallant disse a Hochstein que a transição para a ‘Fase C’ da guerra em Gaza terá impacto em todas as frentes e que Israel se está a preparar para qualquer cenário, militar e diplomático”.

Sobre o Líbano, Netanyahu disse favorecer uma solução diplomática, mas explicou que, “após o fim da fase intensa” em Gaza, serão deslocadas forças para o Norte do país e garantiu que Israel não teme ter de enfrentar vários inimigos em simultâneo, apesar de a imprensa israelita dar conta de um cansaço cada vez maior dos militares: “Também vamos enfrentar este desafio. Podemos lutar em várias frentes. Estamos preparados para isso.”

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