Chefe da UNRWA diz que há “esforços concertados” para dissolver agência da ONU

Enquanto Israel tenta aprovar lei que a considera como terrorista, a agência das Nações Unidas que presta ajuda humanitária queixa-se de falta de apoios e diz só ter financiamento até Agosto.

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Um palestiniano recebeu sacos de farinha da UNRWA no Sul da Faixa de Gaza IBRAHEEM ABU MUSTAFA
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O director da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), Philippe Lazzarini, apelou esta segunda-feira aos seus parceiros para que lutem contra os esforços de Israel para dissolver a organização que presta assistência humanitária em Gaza e em toda a região.

"Israel há muito que critica o mandato da agência, mas agora pretende pôr fim às operações da UNRWA, rejeitando o estatuto da agência como entidade das Nações Unidas apoiada pela esmagadora maioria dos Estados membros", disse Philippe Lazzarini numa reunião da comissão consultiva da agência em Genebra. "Se não reagirmos, outras entidades da ONU e organizações internacionais serão as próximas, minando ainda mais o nosso sistema multilateral."

Lazzarini afirmou que a agência está a ser sujeita a um "esforço concertado" para a desmantelar, nomeadamente através de iniciativas legislativas que ameaçam expulsar a agência do seu complexo e rotular a UNRWA como uma organização terrorista.

Há anos que o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu pede o desmantelamento da UNRWA, acusando-a de incitamento anti-israelita. No mês passado, o parlamento israelita, o Knesset, aprovou a leitura preliminar de um projecto de lei que visa designar a UNRWA como uma organização terrorista.

A missão diplomática israelita em Genebra rejeitou as declarações de Lazzarini na segunda-feira. "Permitir que outras entidades da ONU e organizações internacionais sejam utilizadas ou controladas por organizações terroristas na medida em que o Hamas se instalou na UNRWA irá minar ainda mais o nosso sistema multilateral", afirmou em comunicado. "Esta é a verdadeira ameaça à nossa ordem internacional baseada em regras".

Lazzarini disse ainda que a agência, que prestou ajuda essencial aos habitantes de Gaza durante a ofensiva de oito meses de Israel, estava "a cambalear sob o peso de ataques implacáveis". "Em Gaza, a agência pagou um preço terrível: 193 funcionários da UNRWA foram mortos", afirmou. "Mais de 180 instalações foram danificadas ou destruídas, matando pelo menos 500 pessoas que procuravam a protecção das Nações Unidas... As nossas instalações foram utilizadas para fins militares por Israel, pelo Hamas e por outros grupos armados palestinianos."

Vários países suspenderam o financiamento da UNRWA na sequência de acusações feitas por Israel de que alguns dos funcionários da agência estariam envolvidos no ataque do Hamas a Israel, em 7 de Outubro, que desencadeou a guerra de Gaza. A maioria dos doadores retomou entretanto o seu financiamento.

Lazzarini declarou que a UNRWA continuava a não dispor dos recursos necessários para cumprir o seu mandato. "A capacidade de funcionamento da agência para além de Agosto dependerá do desembolso dos fundos previstos pelos Estados membros e de novas contribuições para o orçamento de base", afirmou.

Criada em 1949, na sequência da primeira guerra israelo-árabe, a UNRWA presta serviços como a escolarização, os cuidados de saúde primários e a ajuda humanitária em Gaza, na Cisjordânia, na Jordânia, na Síria e no Líbano.

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