Para fugir aos bombardeamentos, duas baleias foram levadas de Kharkiv para Valência

Antiga morada destas belugas ficava perto de um local frequentemente bombardeado, causando grande stress aos animais. Ao todo, a viagem até Valência demorou mais de 17 horas.

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Uma das belugas levadas da Ucrânia para Espanha no contentor de transporte Oceanogràfic De Valencia / VIA REUTERS
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Uma equipa de biólogos marinhos transferiu um par de baleias beluga (Delphinapterus leucas) da cidade ucraniana de Kharkiv alvo de bombardeamentos diários por parte das forças russas para a cidade espanhola de Valência, no leste do país, naquilo que descreveram como uma longa e arriscada operação de salvamento internacional.

Os animais, o macho Plombir, de 15 anos, e a fêmea Miranda, de 14 anos, chegaram ao famoso complexo oceanográfico (Oceanogràfic de València) no final da segunda-feira da semana passada num estado de saúde frágil, de acordo com um comunicado do oceanário espanhol.

As belugas foram transportadas em frágeis caixotes de madeira, numa longa viagem de 12 horas de Kharkiv até à cidade portuária de Odessa. Aí, os cuidadores ucranianos destas belugas reuniram-se com uma equipa de veterinários do Oceanogràfic, bem como do Aquário da Geórgia em Atlanta (EUA) e dos parques temáticos SeaWorld.

Depois de um rápida consulta de rotina para ver se os animais se encontravam bem, retomaram a viagem até à fronteira com a Moldova, que atravessaram com a ajuda do organismo antifraude da União Europeia. De Chisinau, apanharam um voo de cinco horas para Valência.

Hipótese de sobrevivência seria reduzida na Ucrânia

O presidente da região de Valência, Carlos Mazon, declarou que a operação era "um feito histórico de protecção animal a nível mundial".

O responsável por este tipo de operações no Oceanogràfic, Daniel Garcia-Parraga, disse que as condições das baleias "não eram as melhores para enfrentar este tipo de viagem, mas, se tivessem continuado em Kharkiv, as suas hipóteses de sobrevivência teriam sido muito reduzidas".

O aquário NEMO de Kharkiv ficava a apenas 800 metros de um local que era frequentemente bombardeado, e as ondas de choque causavam grande stress nestes animais com uma audição tão sensível.

Mas, segundo afirmou Garcia-Parraga na quarta-feira, as belugas estavam em muito melhor forma do que os veterinários pensavam e estavam a adaptar-se bem à sua nova casa. O macho Plombir já tinha começado a comer o que, nesta espécie, é invulgar logo após o transporte mas Miranda ainda não tinha dado as primeiras dentadas, acrescentou.

O Oceanogràfic é o maior aquário da Europa e o único que alberga belugas. Estes mamíferos de cor branca vivem nas águas frias das regiões árcticas e sub-árcticas. Os machos podem atingir um comprimento de 5,5 metros e pesar até 1,6 toneladas