Machetes, machados, facas e arpões: novo capítulo no conflito sino-filipino no mar do Sul da China

Presidente filipino garante que não vai pedir ajuda aos EUA depois da Guarda Costeira chinesa ter atacado marinheiros filipinos no mar do Sul da China. “Queremos resolver as coisas pacificamente.”

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Uma foto do incidente divulgada pelas Forças Armadas das Filipinas onde se pode ver um membro da Guarda Costeira chinesa com um machado ARMED FORCES OF THE PHILIPPINES/HANDOUT / EPA
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Membros da Guarda Costeira chinesa atacaram e danificaram duas embarcações filipinas com machetes, machados, martelos e paus e envolveram-se em escaramuças com os marinheiros filipinos – um deles, segundo o Governo filipino, perdeu o polegar da mão direita nos confrontos. Pequim diz que as embarcações foram avisadas várias vezes para não tentarem entrar nas suas águas, numa disputa de soberanias no mar do Sul da China que envolve ainda o Vietname, a Malásia, o Brunei, a Indonésia e Taiwan.

O Presidente filipino, Ferdinando Marcos Jr., deslocou-se este domingo à ilha de Palawan, no extremo ocidental do país, junto com os principais generais e o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, para condecorar cerca de 80 marinheiros filipinos envolvidos no incidente.

“Ao defender a nossa nação, mantemo-nos fiéis à nossa natureza filipina de resolver todas estas questões de forma pacífica”, afirmou num discurso aos soldados da unidade de Comando Ocidental, que tem a seu cargo a monitorização do mar do Sul da China. “Não estamos aqui para instigar guerras”, acrescentou, dizendo que o seu país “tomou de forma consciente e deliberada a decisão de permanecer no caminho da paz”.

Na sexta-feira, o chefe de gabinete do Governo filipino, Lucas Bersamin, já tinha demonstrado que Manila não estava interessada em usar o incidente para fazer escalar a tensão entre os dois países. Qualificando o episódio como tendo sido causado, “muito provavelmente, por um mal-entendido ou por acidente”, Bersamin, que preside ao conselho marítimo nacional, garantiu que as Filipinas “não estavam ainda preparadas para classificar isto como um ataque armado”.

O choque entre a guarda fronteiriça chinesa e a marinha filipina aconteceu na segunda-feira durante uma missão de rotina para entregar mantimentos no posto militar filipino no atol de Ayugin ou Second Thomas, nas ilhas Spratly, aí instalado para assegurar a soberania de Manila nessas águas que os chineses reclamam como suas.

A Guarda Costeira chinesa terá usado ainda facas e arpões para deliberadamente danificar as embarcações pneumáticas da marinha filipina.

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Uma das embarcações que as Filipinas dizem ter ficado danificada no incidente ARMED FORCES OF THE PHILIPPINES/HANDOUT/EPA

Para o Governo de Pequim, de acordo com as palavras de um porta-voz na terça-feira, tratou-se das medidas adequadas e necessárias para travar as embarcações e que a Guarda Costeira chinesa agiu de forma legal e de maneira profissional e irrepreensível.

Manila, apesar de deitar água na fervura, veio denunciar, através do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros, as acções “ilegais e agressivas” da China na sua zona económica exclusiva no mar do Sul da China. Tanto o atol Second Thomas como o atol Scarborough (ou Masinloc) são importantes zonas de pesca e controlam algumas das principais rotas da marinha mercante. Além disso, as pesquisas apontam para a existência de grandes reservas de petróleo e gás natural nas águas territoriais das ilhas Spratly, um dos três arquipélagos do mar do Sul da China, que tem menos de quatro quilómetros de área emersa, mas dispersa por mais de 425 mil quilómetros quadrados de mar.

A China reclama como seu quase todo o mar do Sul da China, apesar de o Tribunal Permanente de Arbitragem ter decidido em 2016 que as reivindicações chinesas não tinham qualquer fundamento legal.

No seu discurso na ilha de Palawan, Ferdinando Marcos Jr. nunca mencionou a China e elogiou os marinheiros filipinos por mostrarem contenção “face à intensa provocação”, antes de dizer: “No desempenho dos nossos deveres, não iremos recorrer nunca ao uso da força ou da intimidação, ou infligir deliberadamente ferimentos ou danos a alguém”.

No entanto, para o caso de Pequim ou a comunidade internacional confundir esta atitude com qualquer subserviência, Marcos garantiu: “Mantemo-nos firmes. A nossa disposição calma e pacífica não deve ser confundida com aquiescência.”

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