Dúvida: o ar condicionado fixo é mais eficiente do que o portátil?

O modelo portátil é mais barato, mas também menos eficiente e mais ruidoso. “Deve ser a última opção”, dizem especialistas, a menos que a casa seja arrendada e não permita instalação.

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O modelo portátil gasta pelo menos 2,4 vezes mais electricidade que o ar condicionado de parede Getty Images
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Quando as temperaturas sobem muito, o consumo de aparelhos de ar condicionado tende a disparar – e, por serem aceleradas pela urgência do momento, estas compras tendem a ser impulsivas e pouco informadas. O PÚBLICO ouviu especialistas para detalhar os benefícios e as desvantagens dos sistemas disponíveis no mercado hoje: o fixo (ou split) e o portátil.

Se o objectivo é escolher a versão que consome menos energia, o aparelho fixo é a melhor opção. “O portátil gasta pelo menos 2,4 vezes mais electricidade que o ar condicionado de parede”, afirma Islene Façanha, gestora de projectos da associação ambientalista Zero e especialista em eficiência energética nos edifícios.

Quando os consumidores comparam hoje as etiquetas de eficiência entre aparelhos portáteis e fixos, estão a cotejar dados que não são equiparáveis, alerta a especialista da Zero. Esta falta de paralelismo entre as duas etiquetas faz com que muitos consumidores tomem decisões pouco informadas – algo que deverá mudar até ao final de 2024. Em causa está a revisão de uma directiva europeia, mudança que permitirá a adopção de uma etiqueta única. Assim, será possível comparar em pé de igualdade dois aparelhos com desempenhos diferentes.

Islene Façanha considera esta mudança legislativa urgente pois “muitos consumidores fazem compras impulsivas” influenciados pela classe energética, sendo que, neste caso, elas não são comparáveis. “Não queremos que as pessoas continuem a fazer compras desinformadas, há um ciclo de desinformação desde o vendedor ao consumidor final”, diz.

Apesar de serem “devoradores” de energia, os aparelhos portáteis são considerados uma opção mais acessível porque custam menos que os fixos e não exigem instalação por um profissional. Existem modelos que chegam a custar menos de 100 euros, por exemplo.

“Às vezes aquilo que parece barato sai caro. O aparelho portátil, de facto, é muito mais barato, mas o custo de utilização pode ser quatro vezes mais caro. Como é muito menos eficiente, usá-lo custa muito mais”, adverte Natacha van Doorn, também gestora de projectos da Zero.

Em resumo, recomenda Islene Façanha, “o aparelho portátil deve ser mesmo a última opção”. Aliás, recorda a especialista em eficiência energética, “o ideal seria sempre termos casas dignas e com bom isolamento, com medidas passivas implementadas para evitar ser necessário comprar equipamentos”.

O problema do tubo de evacuação

Outra desvantagem das versões portáveis, segundo as duas especialistas da Zero, reside na obrigatoriedade de o tubo de evacuação estar conectado com o exterior. Esta exigência faz com que se tenha sempre uma janela ou porta aberta (salvo algumas soluções mais engenhosas, mas que não são universais). Contudo, a mesma abertura que permite a passagem do pequeno cano também possibilita a entrada de ar quente.

“Isto dificulta muito o isolamento entre a parte interior e a parte exterior da casa”, refere Islene Façanha. Acresce que a unidade portátil, por ser uma máquina em funcionamento, começa a aquecer – e, como resultado, vai libertar esse calor no interior na casa que tem como missão arrefecer.

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Existem modelos portáteis que incluem um acessório para travar a entrada de ar exterior, mas a peça não tem aplicação universal DOUGLAS SACHA/Getty Images

Já o ar condicionado fixo, por estar dividido – e daí ser conhecido como split (dividir, em inglês) –, com uma parte localizada no interior da casa e outra fora, tem a possibilidade de libertar parte do calor produzido para o exterior. Esta lógica bipartida pode dar mais trabalho no dia na instalação, mas permite colher frutos – na forma de eficiência energética – a cada utilização nos anos subsequentes.

Além de mais eficientes, os aparelhos fixos à parede tendem a ser mais silenciosos. Em famílias em que há membros sensíveis à poluição sonora, o nível de ruído do produto também deve ser tido em conta na hora da compra.

Islene Façanha explica que só em casos muito especiais é que se justifica comprar a unidade portátil. Imaginemos que uma família está a arrendar por seis meses um imóvel num centro histórico, onde intervenções nas fachadas estão proibidas por contrato. Avizinha-se um Verão com ondas de calor e os inquilinos desejam uma solução rápida para o problema. “Nesse caso, se calhar faz sentido uma unidade móvel”, afirma a especialista da Zero.

Entre as vantagens do aparelho portátil está o facto de não exigir obras ou instalação por um profissional. Para arrendamentos de curta duração, pode ser uma solução de compromisso. A portabilidade também permite ao inquilino levar o equipamento consigo quando o contrato chegar ao fim, além de permitir a deslocação para diferentes divisões da casa consoante a necessidade.

“Estes aparelhos são chamados de portáteis, mas não são nada portáteis – são bem pesados”, alerta Natasha van Doorn, gestora de projectos da Zero. Por outras palavras, se é verdade que podem ser deslocados de um lado para o outro na casa, e até guardados num canto durante o Inverno, também não é mentira que transportá-los exige esforço. Quem tiver habitações com escadas ou desníveis deve ter este detalhe em mente.

Gases fluorados descontinuados

Se a escolha do consumidor recair sobre os aparelhos fixos, é importante estar atento não apenas à eficiência energética do produto, mas também a outro detalhe com impacte ambiental: a presença de gases nocivos.

Uma vez que a União Europeia vai eliminar gases nocivos em frigoríficos e ares condicionados até 2050, é preciso ter cuidado para não fazer “investimentos ociosos”. Por outras palavras, não vale a pena comprar versões com gases fluorados que serão descontinuados progressivamente, o que tornará a reparação ou manutenção mais cara e complicada num futuro próximo.

“O sector de arrefecimento é um dos mais visados porque a tecnologia já está madura. Portanto, em tudo o que é arrefecimento doméstico, nós já temos as melhores opções em termos climáticos e ambientais, que são as bombas de calor, neste com refrigerantes naturais”, avisa Natasha van Doorn, especialista em gases fluorados.

Os gases fluorados disponíveis no mercado são regulados pelo Acordo de Paris — juntamente com o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso — e consistem em 2,5% das emissões de gases com efeito de estufa da União Europeia.

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