Líder do PCP acusa Governo de legalizar o tráfico de influência com lei sobre lobbying

Paulo Raimundo considera que não se combate a corrupção se não se enfrentar os paraísos fiscais e o tráfico de influências, e se se mantiver a intenção das privatizações.

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RODRIGO ANTUNES / LUSA
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O líder do PCP acusou neste sábado o Governo de aprovar um conjunto de medidas de combate à corrupção que, na prática, legaliza o tráfico de influências, e insistiu no aumento imediato de todos os salários.

"Mas é possível haver algum combate sem tréguas à corrupção sem enfrentar os offshore, os paraísos fiscais, essas autênticas casas de repouso para aqueles que fazem as negociatas, o tráfico de influências e o dinheiro vindo da corrupção?", interrogou Paulo Raimundo, num comício no concelho de Anadia, distrito de Aveiro. O dirigente comunista, que discursava no convívio regional de Aveiro, no Parque de Merendas de Mogofores, questionou se é possível combater a corrupção sem "enfrentar as negociatas e as privatizações, como é o caso do escândalo da privatização da ANA - Aeroportos de Portugal".

Perante várias dezenas de apoiantes, o líder do PCP enfatizou que as medidas do pacote anticorrupção do Governo não passam de 32 intenções que, na prática, "deixam tudo para depois e não têm nenhuma novidade".

Segundo Paulo Raimundo, "o que não fica para depois é a legalização daquilo que hoje é ilegal - o tráfico de influências, com aquele nome pomposo do chamado lobbying". "Muita conversa, muita batida no peito, muita areia para os olhos e, no fim do dia, aquilo que sobra, é que aquilo que era ilegal passa a legal. Combate-se pouco a corrupção e as tréguas ficam sempre com os que se acham donos disto tudo e para os quais nunca há uma única medida que lhes faça frente", sublinhou.

Ainda no domínio do combate à corrupção, o secretário-geral dos comunistas desafiou o país a deixar de recorrer aos tribunais arbitrais, "no qual o Estado perde sempre". "Se houver alguma resolução de um tribunal arbitral no qual o Estado tenha ganho, alguém que apresente essa primeira prova", disse Paulo Raimundo, acusando os grandes partidos de se terem juntado para inviabilizar o fim do recurso do Estado aos tribunais arbitrais.

O Governo aprovou na quinta-feira, em Conselho de Ministros, um conjunto de mais de 30 medidas para combater a corrupção, em que se destaca a regulamentação do lobbying e o confisco de bens que resultem de actividade à margem da lei, mesmo sem condenação.

Acusando o executivo de Luís Montenegro de estar a governar para os grupos económicos, Paulo Raimundo insistiu no aumento imediato de todos os salários em 150 euros e no mínimo de 15% para todos os trabalhadores e a fixação do salário mínimo nacional já este ano em 1000 euros. Para o líder comunista, "é necessário e justo" aumentar todos os salários de forma significativa que permita aos trabalhadores enfrentar o custo de vida "que não pára de aumentar na habitação, na alimentação, na energia e nos medicamentos".