Uma linha azul cada vez mais vermelha entre Hezbollah e Israel

António Guterres está preocupado que o Líbano se transforme numa nova Faixa de Gaza. Irão avisa que Israel será o “derradeiro perdedor” se se lançar numa guerra total na região.

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O ataque isralieta de sexta-feira contra a localidade libanesa de Khiam levou à retaliação deste sábado contra Metula ATEF SAFADI / EPA
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A guerra entre Israel e o Hezbollah está cada vez mais iminente e ameaça com estender o conflito na Faixa de Gaza ao Líbano e fazer escalar o conflito para uma guerra regional. O Irão avisou de que qualquer ataque ao Hezbollah no Líbano teria consequências devastadoras para a região e que Israel seria o "derradeiro perdedor" numa guerra total.

"Um movimento precipitado – um erro de cálculo - poderia desencadear uma catástrofe que vai muito além da fronteira e, francamente, além da imaginação", afirmou na sexta-feira o secretário-geral das Nações Unidas aos jornalistas. "Sejamos claros: os povos da região e os povos do mundo não podem permitir que o Líbano se torne noutra Gaza", acrescentou António Guterres.

Desde que a guerra começou na Faixa de Gaza, em Outubro, que o movimento xiita libanês tem disparado regularmente rockets contra o território de Israel, numa demonstração de solidariedade com o seu aliado palestiniano do Hamas. Milhares de israelitas residentes na zona da fronteira com o Líbano tiveram de fugir da região por causa dos ataques. Outros milhares de libaneses deixaram a raia do seu país por causa da retaliação israelita.

Numa altura em que dentro do Governo de Israel se pressiona para que as Forças de Defesa de Israel (IDF) respondam de uma forma mais musculada e a retórica belicista do Hezbollah sobe de tom, Teerão avisa que “qualquer decisão imprudente do regime de ocupação israelita para se salvar pode mergulhar a região numa nova guerra”, escreveu a missão diplomática das Nações Unidas na rede social X (antigo Twitter).

A “escalada na retórica belicista de ambos os lados” impeliu Guterres a falar: “Senti-me hoje obrigado a manifestar a minha profunda preocupação com a escalada entre Israel e o Hezbollah ao longo da Linha Azul". A Linha Azul foi demarcada pela ONU a 7 de Junho de 2000 com o objectivo de garantir que Israel retirava mesmo as suas tropas do Líbano. Divide o Líbano de Israel e dos Montes Golã (ocupados em 1967 e anexados pelos israelitas em 1981), embora não seja considerada uma fronteira, mas uma linha de retirada.

“Chegou a altura da razão e do racionalismo”, afirmou o secretário-geral da ONU, dizendo que os capacetes azuis estão no terreno a envidar esforços para fazer desescalar a situação. “O cessar de hostilidades e a progressão para um cessar-fogo permanente é a única solução duradoura”, acrescentou.

Ambos os lados estão, no entanto, mais preocupados em mostrar quem desafia mais o outo. O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, garantiu que “em breve” o seu Governo tomará “as decisões necessárias” e pediu aos aliados que apoiem o seu país: "O mundo livre deve apoiar incondicionalmente Israel na sua guerra contra o eixo do mal liderado pelo Irão e pelo Islão extremista. A nossa guerra é também a vossa guerra.”

Uma guerra que, segundo o Irão, só terá um “derradeiro perdedor, que é o regime sionista”, a forma como Teerão se refere a Israel. "O Movimento de Resistência Libanês, Hezbollah, tem a capacidade de se defender a si próprio e ao Líbano – se calhar, chegou o tempo de auto-aniquilamento deste regime ilegítimo”, diz a missão diplomática iraniana na ONU.

Este sábado, o Hezbollah assumiu a responsabilidade por um ataque de mísseis antitanque contra a cidade de Metula, situada no Norte de Israel junto à fronteira. O ataque atingiu pelo menos duas casas e fez deflagrar incêndios. O grupo xiita justificou o ataque contra as casas que, disse, costumam ser usadas por soldados israelitas, como retaliação pelo ataque das IDF contra a localidade libanesa de Khiam no dia anterior.

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