Cuidado com o pé esquerdo do turco Arda Guler

O jovem craque da Turquia e do Real Madrid é uma “estrela” em ascenção do futebol internacional e que já passou pelas mãos de dois treinadores portugueses, Vítor Pereira e Jorge Jesus.

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Guler marcou um dos golos do triunfo da Turquia sobre a Georgia Wolfgang Rattay / REUTERS
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Há uma tendência nas altas esferas do futebol internacional que se acentua cada vez mais. Agarrar o quanto antes aquele adolescente de 16 ou 17 anos que começou a marcar golos e a fazer assistências no futebol sénior. Martin Odegaard, por exemplo, começou a jogar e a marcar golos na primeira divisão da Noruega quando tinha 15 anos (e também começou a jogar na selecção) e o Real Madrid percebeu que tinha mesmo de o ter. Contratou-o no ano seguinte, mas nunca lhe deu verdadeiramente uma oportunidade, um caso de entusiasmo de curta duração e indiferença prolongada por parte dos “merengues”.

Toda esta introdução serve para enquadrar o percurso de outro jovem adolescente que entusiasmou o Real Madrid e que vai estar, neste sábado, no caminho de Portugal como a próxima grande “estrela” do futebol turco. Arda Guler tinha apenas 16 anos quando se estreou na primeira equipa do Fenerbahçe e tinha apenas 18 anos quando o Real Madrid o agarrou por 20 milhões de euros antes que alguém se antecipasse – porque é mais fácil pagar agora 20 milhões do que pagar 100 milhões dois ou três anos depois.

O Real Madrid estava a contratar uma ideia de jogador, mas o que vimos no final desta época e o que estamos a ver neste Euro sugere que Guler já está mais perto do jogador acabado do que de uma promessa de talento. Na estreia da Turquia no Euro 2024, as coisas estavam difíceis contra a estreante Geórgia, equilibrado no resultado (1-1) e no espectáculo. Aos 65’, saiu magia do pé esquerdo de Arda Guler. De fora da área e descaído para o lado direito, o prodígio disparou, a bola viajou num arco quase sem curva antes de parar nas redes georgianas.

Um momento genial que acabaria por inclinar o jogo para os turcos rumo a uma vitória por 3-1. E um recorde para ele: tornou-se no jogador mais jovem a marcar no seu jogo de estreia num Europeu, com 19 anos e 114 dias, batendo a marca de Cristiano Ronaldo, que tinha 19 anos e 128 dias quando marcou à Grécia no jogo de abertura do Euro 2004 há 20 anos – e, claro, os dois vão defrontar-se neste sábado.

Já não é a primeira vez que ele faz isto. Aliás, o seu primeiro golo pela selecção turca, num jogo de qualificação frente a Gales, em Junho do ano passado, foi quase igual, um remate de fora da área, mas em posição mais lateral.

Portugal terá de estar atento ao pé esquerdo de Guler e não lhe dar espaço, como aconteceu no jogo com os checos, em que Provod teve tempo e espaço à entrada da área portuguesa para fazer golo. Já se percebeu que o jovem de 19 anos gosta de ir da ala para posições mais interiores e procurar o desequilíbrio.

Influência portuguesa

Arda Guler nasceu em Ankara, a 25 de Fevereiro de 2005, e foi num dos clubes grandes da cidade, o Gençlerbirligi, que se iniciou. De Ankara, mudou-se aos 14 anos para um dos grandes de Istambul, o Fenerbahçe, e, três anos depois, já jogava na primeira equipa, pela mão de Vítor Pereira.

Em 2021-22, ainda foi colega de equipa de Mesut Ozil, outro génio canhoto do qual Guler é considerado o herdeiro. Fez a sua aprendizagem ao pé do internacional alemão, teve momentos de brilhantismo (três golos e cinco assistências) e, na época seguinte, apanhou outro português como treinador, Jorge Jesus.

O actual técnico do Al Hilal reforçou a aposta no jovem turco e, depois de uma época a confirmar a promessa (seis golos e sete assistências, mais a estreia na selecção turca), o Real Madrid fez a tal jogada de antecipação (o Barcelona também estava interessado), deixando 20 milhões na conta bancária do Fenerbahçe.

Mas que espaço iria ter Guler numa equipa só de craques? A resposta é: muito pouco. E as lesões não ajudaram. Só nos primeiros dias de 2024 é que se estreou pelos “blancos”, num jogo da Taça do Rei contra uma equipa da quarta divisão.

Guler não teve minutos na campanha europeia do Real que acabaria na conquista de mais uma Liga dos Campeões, mas ganhou protagonismo no último terço da Liga espanhola, marcando seis golos em sete jogos. Era claro que Carlo Ancelotti ainda não tinha lugar para ele, mas isso não queria dizer que o tivesse esquecido, como Zidane fez, por exemplo, com Odegaard. O próprio Guler recusou um empréstimo a meio da época porque entendia que tinha algo a aprender com o técnico italiano.

Ancelotti já lhe garantiu um lugar no plantel do Real, que está a fazer um esforço grande para se renovar – vai ter Mbappé (25 anos), Bellingham (20), Vinicius (23), Rodrygo (23), Tchouameni (24), Camavinga (21) e Endrick (17). Vai ser um problema para Guler ter minutos nesta equipa, um problema que não tem a jogar para outro italiano, Vincenzo Montella, na selecção da Turquia, onde ele já é a grande “estrela”.

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