O mesmo controlo e mais baliza é a receita para atacar a Turquia

Portugal pode qualificar-se já para os oitavos-de-final do Euro 2024, mas precisa de elevar número de remates, vinca Roberto Martínez, defendendo que Ronaldo justifica os 90 minutos.

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O último treino antes do jogo, ainda em Marienfeld MIGUEL A. LOPES / EPA
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As regiões da Renânia do Norte-Vestefália e de Baden-Württemberg, motores da indústria, são aquelas que concentram o maior volume de habitantes turcos na Alemanha. É, por isso, mais do que previsível que esta tarde a selecção de Portugal esteja em inferioridade numérica no jogo das bancadas em Dortmund, onde defrontará a Turquia no segundo encontro da fase de grupos do Euro 2024. Um triunfo garantirá o apuramento imediato para os oitavos-de-final, do mesmo modo que uma derrota não hipotecará a qualificação. “Precisamos de ser nós mesmos”, exortou Roberto Martínez, um seleccionador cada vez mais convencido dos méritos da equipa.

Ao contrário do que aconteceu na véspera do jogo inaugural, desta vez a selecção nacional dispensou o treino no relvado do recinto de jogo e trabalhou ainda no quartel-general, em Marienfeld, viajando para Dortmund somente ao início da tarde de ontem. Na sala de imprensa do Signal Iduna Park, palco do segundo embate no Grupo F, Roberto Martínez separou as águas em relação aos dois primeiros rivais neste torneio.

“São adversários diferentes. Contra a República Checa, não era o plano deles ter um bloco baixo durante o jogo. Criámos muitos problemas, tivemos o controlo da bola, eles gostam de marcar ao homem e obrigámo-los a um trabalho defensivo diferente”. No fundo, Portugal conseguiu manietar os checos e remetê-los quase sempre ao meio-campo defensivo, mesmo que tenha sido pouco esclarecido com bola.

A Turquia, porém, é uma selecção com outros argumentos. Fez uma fase de qualificação muito positiva, vencendo o grupo à frente da Croácia, depois somou três derrotas e um empate nos jogos de preparação, antes de entrar com o pé direito no Europeu, fruto de um triunfo sobre a Geórgia (3-1), numa das partidas mais empolgantes do torneio até à data.

“A Turquia tem um talento jovem incrível, mas com papéis importantes na equipa. Tem a experiência de jogadores como Çalhanoglu, tem muita qualidade com bola, mas o treinador [Vincenzo Montella] também lhes deu uma estrutura muito forte”, vincou o seleccionador de Portugal, acrescentando: “Tem um jogo interior muito forte, precisamos de parar isso, de estar compactos, mas também precisamos de ser nós mesmos, de controlar o jogo, dar largura”.

Nota positiva? “A reacção”

A aposta na largura chegou em doses generosas no primeiro jogo, mas faltou critério nas acções desenvolvidas no último terço. “A posse não teve na primeira parte o número de remates que nós queremos, mas a nota mais positiva foi a reacção depois de sofrer o golo. Foi uma reacção muito boa”, insistiu.

Se esse embate de Leipzig foi fundamentalmente um exercício de ataque posicional para Portugal, nomeadamente dos 20 minutos em diante, hoje espera-se outro guião. A Turquia tem-se apresentado num 4x2x3x1 estável, com capacidade de construir a partir de trás e de utilizar, preferencialmente, o corredor central, onde manobram Hakan Çalhanoglu, Orkun Kokçu e, com movimentos interiores, Arda Guler. Dois deles têm uma meia distância de respeito, pelo que a protecção no espaço entre linha defensiva e linha média será também crucial.

“A Turquia é uma selecção com qualidade individual também. Estudámos bem o que o mister quer que façamos. Acho que vai ser um jogo totalmente diferente do primeiro, com mais espaço, e vamos entrar para ganhar, como é óbvio”, prometeu Rafael Leão, que se diz confortável com a fortíssima concorrência interna para a posição e globalmente satisfeito com o rendimento individual no primeiro jogo.

Até agora, Portugal venceu sempre a Turquia em fases finais de Campeonatos da Europa (1-0 em 1996, 2-0 em 2000 e novamente 2-0 em 2008). Ganhando hoje, atinge o primeiro objectivo - uma espécie de mínimos olímpicos -, mas o apuramento não parece ser a preocupação imediata do seleccionador. “O foco é dar tudo durante três jogos e depois podemos avaliar e ver o nosso papel”.

O momento de Ronaldo

O que não precisa de ser reavaliado é o papel de Cristiano Ronaldo, independentemente do contexto ou do sistema - e resta saber se irá manter-se o 3x4x3 ou se regressa o 4x2x3x1, para encaixar na Turquia. Quando directamente questionado sobre se o avançado do Al Nassr ainda consegue render ao mais alto nível durante toda a partida, Roberto Martínez argumentou com outra pergunta. “Sabe quantos minutos ele jogou na Arábia Saudita?”.

Depois veio a contra-argumentação: “Mas o campeonato saudita não tem a mesma intensidade e exigência de um Europeu”. Então sim, uma resposta: “A experiência é como lidas com estes momentos, não há outro jogador que tenha seis presenças em Europeus. Para nós, é importante ele ter experiência, know-how e oportunidades na área para abrir espaço. O Cristiano está na selecção porque merece estar, marcou 51 golos e as estatísticas mostram que pode fazer o jogo todo”.

Num dos maiores estádios da Europa, que pelas imposições da UEFA reduziu a lotação de 81 mil para 66 mil lugares, Portugal procura uma exibição que ponha a concorrência em sentido e que acompanhe o que, em certa medida, têm feito Alemanha e Espanha. Até porque, para chegar longe, terá sempre de comparar-se com os melhores.

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