Exército israelita intensifica ofensiva em Rafah e mata dezenas de pessoas em Gaza

À violência e à falta de alimentos na Faixa de Gaza junta-se o calor e falta de material médico essencial.

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Em Mawasi morreram pelo menos 25 palestinianos deslocados HAITHAM IMAD / EPA
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Em Gaza, não há dias fáceis, muito menos noites. Sexta-feira voltou a ser um dia especialmente difícil, pior do que os anteriores, com as Forças de Defesa de Israel a atacarem diferentes zonas da cidade de Rafah, onde se envolveram em combates como o Hamas, mas também tendas de deslocados em Masawi – a localidade beduína um pouco a norte, para onde fugiram muitas das centenas de milhares de pessoas que têm saído de Rafah. Houve ainda ataques em vários bairros da Cidade de Gaza (incluindo um contra a sede do município) e em Nuseirat, um campo de refugiados no centro do enclave.

“A noite passada foi uma das piores noites em Rafah ocidental: drones, aviões, tanques e barcos de guerra bombardearam a zona. Sentimos que a ocupação está a tentar completar o controlo da cidade”, disse à Reuters Hatem, 45 anos, que falou com a agência por mensagens de texto. “Estão a sofrer ataques pesados da resistência [Hamas], o que pode estar a atrasá-los”, sugeriu este habitante da cidade onde as IDF entraram no início de Maio.

Já durante o dia, e de acordo com o site da televisão pan-árabe Al-Jazeera, os tanques israelitas avançaram na mesma direcção, disparando contra um campo improvisado e matando pelo menos 18 pessoas. De acordo com o Ministério da Saúde (controlado pelo Hamas, mas com funcionários do tempo da Fatah), o último balanço do ataque em Mawasi era de 25 mortos e 50 feridos. A mesma Al-Jazeera relata que na Cidade de Gaza os raides contra casas e prédios residenciais fizeram dezenas de mortos.

O alto representante da União Europeia para a Política Externa e a Segurança, Josep Borrell, lembrou que a ofensiva de Israel em Tricontinua "apesar das ordens vinculativas do Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas" para que esta fosse suspensa, numa deliberação do mês passado. Na altura, Borrell sublinhou que “pôr em prática todas as deliberações do TIJ, que é um organismo fundamental da ONU e cujas decisões têm obrigatoriamente de ser cumpridas pelos Estados-membros da ONU” era algo que a UE exigia do Governo de Benjamin Netanyahu.

No final de um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros jordano, Borrell manifestou igualmente a sua "séria preocupação" com o bloqueio à entrada de ajuda humanitária que permita atenuar os efeitos da “catástrofe em Gaza”, assim como com o facto de o Hamas manter 120 reféns em seu poder.

Para além da falta gritante de alimentos, os Médicos Sem Fronteiras avisaram que estão a ficar sem medicamentos e equipamentos essenciais, já que desde o fim de Abril que não conseguem fazer entrar nada do que precisam em Gaza.

Segundo explicou Guillemette Thomas, coordenadora dos MSF na Palestina, numa nota publicada esta sexta-feira no site da organização, ao mesmo tempo que tem “pacientes com queimaduras graves e fracturas abertas sem dispor sequer de analgésicos suficientes para aliviar o seu sofrimento”, a ONG tem “seis camiões cheios, com 37 toneladas de provisões, à espera desde 14 de Junho no lado egípcio do ponto de passagem de Kerem Shalom”.

Em vez de “entrarem em Gaza onde são precisos para salvar vidas, estes camiões estão em fila, bloqueados, com outros 1200 camiões que esperam para passar”, sublinhou Thomas.

Para piorar a situação, a Organização Mundial de Saúde avisou que o aumento das temperaturas – em conjunto com as “deslocações maciças” de pessoas que têm ocorrido nas últimas semanas está a agravar os problemas de saúde. “Temos contaminação da água por causa da água quente, e teremos muito mais deterioração dos alimentos por causa da alta temperatura. Vamos ter mosquitos e moscas, desidratação e insolação", exemplificou Richard Peeperkorn, representante da OMS para Gaza e para a Cisjordânia.

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